Multiplicam-se as versões sobre o que aconteceu com o jornalista saudita que publicava textos críticos sobre o regime imperante no seu país.
Jamal Khashoggi, que escreve para o jornal Washington Post, está desaparecido desde o dia 2 de outubro. Ele entrou no consulado da Arábia Saudita naquela terça-feira, às 13:00 h, e desde então não foi mais visto. Autoridades turcas suspeitam de que ele teria sido assassinado no interior do consulado, em Istambul.
É o que apontam jornalistas das agências Reuters, AP e do portal Middle East Eye, referindo-se a fontes de dentro da polícia turca. No dia de seu suposto assassinato, 15 sauditas desembarcaram em Istambul a bordo de dois aviões de carreira. Eles estavam no consulado no mesmo dia em que o jornalista foi ao prédio. Logo depois, no mesmo dia, deixaram o país.
O jornal norte-americano “The New York Times”, que cita uma fonte turca próxima às investigações, divulgou que Khashoggi teria sido esquartejado com uma serra por agentes de Riad. Os restos mortais teriam sido levados por uma minivan preta.
De acordo com o site britânico “Middle East Eye”, pelo menos três dos 15 agentes dos serviços secretos sauditas que foram ao consulado no dia do desaparecimento do jornalista fazem parte da unidade de elite encarregada da proteção do príncipe herdeiro Mohammad bin Salman, o líder “de fato” do país.
Numa outra versão o jornalista teria sido retirado em um Mercedes de dentro do consulado para embarcar em um jato particular e voado para Dubai e dali para Riad.
Kashoggi era próximo da família real saudita mas, desde que a monarquia foi assumida por Bin Salman, começou a apresentar divergências. Teria dito que “as autoridades sauditas podiam e com razão ficar nervosas com Donald Trump na presidência”.
Foi o suficiente para que ele começasse a ser ameaçado e proibido de escrever a qualquer mídia, inclusive de tuitar. Sentindo-se sufocado e acuado saiu do país em 2017. Em seus artigos, Kashoggi, entre outras denúncias, se posicionava contra a agressão da Arábia Saudita ao Iêmen.
“Acima e além da perseguição de ativistas, escritores, clérigos, acadêmicos, e homens de negócios, há um roteiro que tem se tornado comum na Arábia Saudita, onde o governo não procura nem simular legalidade”, declara Sarah Leah Whitson, diretora executiva da divisão da Human Rights Watch’s para o Oriente Médio.
Depois de passar pelos Estados Unidos, estava na Turquia e organizava seu segundo casamento. Pelas leis turcas, para casar novamente era preciso a certidão de divórcio e foi isto o que Kashoggi procurava. Ele manifestou receio e pediu que a sua noiva avisasse às autoridades turcas caso ele não retornasse. A noiva esperou por 11 horas antes de informar do desaparecimento às autoridades turcas.
Apesar dos sauditas terem dito que Kashoggi entrou e saiu do prédio, isso não é corroborado pelas câmeras que existem em torno do edifício.
Yasin Atkay, ex-deputado e agora assessor do presidente turco, Erdogan, disse que o crime não ficará sem solução. “Enganam-se os que pensam que estamos na Turquia de 50 anos atrás”.
O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, declarou que está “muito preocupado” com o desaparecimento do jornalista saudita e a violência contra outros jornalistas.
O Washington Post chamou a atenção para o desaparecimento de Kashoggi afirmando que se sua morte for confirmada, “isso marcaria uma alarmante escalada no esforço saudita de calar dissidência”.
O diretor da página editorial do jornal norte-americano, Fred Hiatt, declarou que “se as informações sobre o assassinato de Jamal forem verdadeiras, estamos diante de um ato monstruoso e incomensurável”.