O terreiro de umbanda Casa de Caridade Caboclo Pena Dourada foi alvo de vandalismo e intolerância religiosa na madrugada desta terça-feira (28), no bairro do Maracanã, zona norte do Rio de Janeiro. Os criminosos invadiram o terreiro, roubaram objetos e ao sair deixaram uma bíblia na porta.
O caso foi registrado na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) na manhã desta quarta-feira (29).
Segundo a mãe de santo Fernanda, a Casa de Caridade Caboclo Pena Dourada foi alvo de vandalismo e intolerância religiosa. Ela contou ao jornal O Dia, que o grupo fez uma série de ações na região e lamentou toda a destruição.
“Estou arrasada, porque foi muito esforço, foram três anos de muito trabalho e dedicação. São muitos mutirões, a gente atende toda a comunidade. No Natal, são mais de 150 crianças que damos presentes, fazemos o Papai Noel, doamos cestas básicas para várias famílias, é tanta coisa envolvida que eu ainda nem consegui ter raiva, estou desolada”, explicou.
Ao todo, os criminosos furtaram diversos itens como: 10 ventiladores de parede, dois de mesa, dois de teto e um de torre, quatro ar-condicionados, dua geladeiras, um freezer, um motor freezer de bebidas, expositor de salgados, fogão industrial, microondas, botijão de gás, máquina de lavar, um televisor, computador, filtro de água, diversos disjuntores, tomadas e holofotes.
Inicialmente, Fernanda fez um relato emocionado nas redes sociais. “Arrombaram os portões, deixaram a casa toda aberta, arrombaram as janelas, entraram e destruíram tudo! Os atabaques foram jogados no chão, levaram todos os ventiladores, quebraram a imagem de Exu, deixaram tudo revirado e destruído, também roubaram as torneiras, então além de tudo a casa estava alagada, nada restou. Ainda deixaram uma bíblia na porta, não sei como a gente vai conseguir reconstruir tudo”, disse.
Pela quantidade do material roubado, ela afirma não saber como o caso não chamou a atenção dos vizinhos. “Eles levaram tudo, fizeram uma mudança, não sabemos como a vizinhança não viu, porque assim, teve fogão industrial, geladeira e 10 ventiladores”, complementou.
Os responsáveis pelo terreiro souberam da invasão através de um frequentador. “Eu tenho um filho de santo que mora na Rua Jorge Rudge, bem pertinho, então no domingo de noite ele foi passear com o cachorro, passou em frente, viu que estava tudo direitinho, mas na segunda de manhã viu a porta arrombada e me avisou, foi assim que a gente descobriu”, contou Fernanda.
Por fim, a mãe de santo deixou um recado para à população. “Primeiro, nós não vamos nos calar, segundo que Jesus não aceita isso, se os Orixás não aceitam, Jesus também não. Isso, para mim, não é feito por ninguém religioso, é feito por bandidos, pessoas que, inclusive, mancham a imagem dos evangélicos deixando uma Bíblia sagrada na porta de um terreiro”, finalizou.
VAQUINHA
Após o estrago, a casa criou uma “vaquinha” nas redes sociais na expectativa de reconstruir o espaço. A meta é juntar R$ 20 mil. Até a manhã desta quarta (29), quase R$ 7 mil haviam sido arrecadados.
Luzia Lacerda, jornalista e diretora responsável pelo Instituto Expo Religião, levantou a possibilidade de bandidos terem utilizado a intolerância religiosa para tentar mascarar o roubo.
“Nos casos anteriores, vemos uma destruição total dos assentamentos, mas esse caso vem um fato novo: um roubo pesado, que chega a R$ 20 mil. Essa bíblia pode ter sido colocada ali para pensarmos se tratar de um caso de intolerância ou estamos realmente tendo uma nova modalidade de intolerância religiosa”, comentou.
“Além de quebrar o sagrado, que é gravíssimo, ainda há o roubo. Assim, a situação piora muito e o nosso movimento terá que ser diferente. Por isso, é muito importante que a Decradi investigue esse caso. Quebrar o sagrado e levar todos os bens, isso não vinha acontecendo. Nesse caso, teríamos que fazer uma chamada pública com todos os religiosos, com as polícias Militar e Civil, porque seria uma nova modalidade”, concluiu.
“As religiões de matriz africana passam por três processos de intolerância: a religiosa; a racial, já que a maioria das pessoas são negras, e contra a mulher, porque é uma religião matriarcal. Por isso, ela seria a que está em primeiro lugar nos casos de intolerância”, ressaltou.