
Ex-primeiro-ministro francês Dominique de Villepin alerta que “plano louco” de Trump e Netanyahu, de deportação de milhões, “coloca em risco a estabilidade mundial”
O plano recém anunciado pela Liga Árabe de reconstrução de Gaza até 2030, com a população palestina dentro, de US$ 53 bilhões e centenas de milhares de casas temporárias, recebeu o endosso da China, da Rússia, dos quatro principais países europeus – Reino Unido, França, Alemanha e Itália – e da Organização de Cooperação Islâmica, que congrega 57 países.
O que sublinha o completo isolamento do projeto macabro de Trump da “Riviera do Oriente Médio” sobre cadáveres e deportando 2,2 milhões de palestinos.
Elaborado pelo Egito, o plano prevê que após a retirada israelense Gaza seja administrada por um comitê interino de palestinos de perfil técnico, sob supervisão da Autoridade Palestina, que se encarregará também de gerenciar a ajuda humanitária. Ele foi aprovado pelos 22 países árabes em uma conferência no Cairo no dia 4. A reconstrução estaria pronta em cinco anos.
A primeira fase, prevista para durar seis meses, ao custo estimado de US$ 3 bilhões, se concentrará na limpeza de mais de 50 milhões de toneladas de escombros deixados pelos bombardeios e ofensivas militares de Israel, remoção de minas e materiais não detonados, o que deverá durar seis meses.
A reconstrução propriamente dita compreende o desenvolvimento de sete locais para abrigar mais de 1,5 milhão de pessoas em unidades habitacionais pré-fabricadas, cada uma acomodando uma média de seis moradores, e reparação de 60.000 casas parcialmente danificadas, que podem acomodar 360.000 pessoas. Serão erguidos, ainda, porto, aeroporto, infraestruturas e shoppings.
Um comitê técnico independente, supervisionado pela Autoridade Palestina, governará o enclave na primeira fase em substituição ao Hamas e também será responsável por gerenciar a ajuda humanitária.
Será realizada em breve uma conferência de alto nível reunindo países doadores, instituições financeiras internacionais e regionais, o setor privado e a sociedade civil para mobilizar o financiamento necessário e criar os mecanismos de monitoramento.
Falando na conferência no Cairo, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, prometeu que eleições gerais serão realizadas na Cisjordânia, Jerusalém Oriental ocupada e Gaza pela primeira vez em quase duas décadas “se as circunstâncias forem adequadas”.
Ameaçado de “extinção” por Trump por estar atrapalhando o início das obras do seu ‘empreendimento imobiliário do século’ em Gaza, o Hamas não se impressionou, exigiu que Israel respeite as negociações da segunda fase do cessar-fogo e expressou seu apoio à proposta de reconstrução da Liga Árabe.
SEM “TRUMP GAZA”
Do mundo inteiro, chegam mensagens de sustentação ao plano para reconstruir Gaza, barrando a limpeza étnica e avançando rumo ao Estado Palestino.
A China apoia o plano de restauração de Gaza apresentado pelos países árabes, disse o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, na sexta-feira (7), em declaração feita à margem da sessão anual do Congresso do Povo em andamento.
“Gaza pertence ao povo palestino e é uma parte inseparável do território palestino. Mudar o status de Gaza por meios forçados não trará paz, mas apenas um novo caos”, assinalou Wang, em sutil observação sobre a mais recente alucinação de Trump.
Ele pediu esforços para promover um cessar-fogo abrangente e duradouro, aumentar a assistência humanitária, observar o princípio de “os palestinos governando a Palestina” e contribuir para a reconstrução de Gaza.
Wang também instou a comunidade internacional a focar na solução de dois Estados e dar mais apoio à independência do Estado palestino.
A Rússia manifestou seu apoio ao plano árabe de reconstrução de Gaza na quinta-feira, e apelou a “todas as partes — palestinos, israelenses e participantes externos — para que se unam em torno do plano árabe e trabalhem juntos para alcançá-lo”.
“O elemento-chave desta iniciativa é que ela será realizada preservando a população palestina na Faixa”, destacou a porta-voz Maria Zakharova. Ela acrescentou que o plano por incluir “a construção de novas habitações, a reconstrução e o desenvolvimento de infraestruturas, permitirá aumentar o potencial” de Gaza.
Ela reiterou ainda a urgência em garantir um cessar-fogo estável e de lançar as bases para uma “solução política” para o conflito palestino-israelense.
No sábado (8), ministros das Relações Exteriores da França, Alemanha, Itália e Reino Unido declararam que o plano árabe “mostra um caminho realista para a reconstrução de Gaza e promete – se implementado – uma melhoria rápida e sustentável das catastróficas condições de vida dos palestinos de Gaza”. O quarteto emitiu ainda um “veto” ao Hamas em Gaza.
Para o ex-primeiro-ministro francês Dominique de Villepin o “plano louco de Trump e Netanyahu” de limpeza étnica de milhões de palestinos de Gaza “coloca em risco a estabilidade mundial”.
O ex-primeiro ministro que atuou como ministro do Exterior de Jacques Chirac e ficou conhecido por rejeitar o ataque de Bush ao Iraque e ficou conhecido na França como “o homem que disse não”, enfatizou que “quando olhamos para suas ameaças de deslocar as pessoas de Gaza, não deixando espaço para outras perspectivas, rejeitando as aspirações das pessoas, tratando-as com desprezo – isto só pode levar a nova violência”.
ISLÂMICOS: REJEIÇÃO ABSOLUTA À LIMPEZA ÉTNICA
Reunidos em Jeddah, na Arábia Saudita, os 57 países membros da Organização de Cooperação Islâmica (OIC), endossaram o plano árabe de recuperação e reconstrução de Gaza e expressaram “a rejeição absoluta e a firme oposição aos planos destinados a deslocar os palestinos, bem como às medidas israelenses de anexação e assentamento na Cisjordânia”.
“A reunião ministerial de emergência da Organização de Cooperação Islâmica (OCI) aprovou o plano egípcio, que se tornou um plano árabe-islâmico”, disse o chanceler do Egito, Badr Abdelatty, o que foi confirmado por seu colega do Sudão.
A OIC conclamou a comunidade internacional e as instituições financeiras a fornecerem o apoio necessário para sua implementação, assinalando ainda que esses esforços devem estar alinhados com o lançamento de um processo político destinado a alcançar uma solução justa e duradoura para atender às aspirações legítimas do povo palestino por um Estado e viver em paz e segurança.
A OIC saudou a proposta de realizar uma conferência internacional no Cairo o mais rápido possível, em cooperação com a Palestina e as Nações Unidas, para acelerar a reabilitação e reconstrução de Gaza após a destruição causada pela agressão israelense.
40 MIL ÓRFÃOS EM GAZA
A declaração também pediu o estabelecimento de um fundo internacional, em colaboração com a ONU, para cuidar dos cerca de 40.000 órfãos em Gaza que são vítimas da agressão israelense. E ainda apoio para o fornecimento de próteses a milhares de indivíduos feridos, particularmente crianças que perderam membros, e encorajou países e organizações a propor iniciativas relacionadas.
Os países islâmicos condenaram veementemente “quaisquer planos para deslocar o povo palestino, individual ou coletivamente, dentro ou fora de sua terra, considerando tais ações como limpeza étnica e uma grave violação do direito internacional”.
A declaração também rejeitou as políticas israelenses de anexação, expansão de assentamentos, demolições de casas, confisco de terras e destruição de infraestrutura, alertando que essas ações ameaçam escalar a situação regionalmente e violam o direito internacional e as resoluções relevantes da ONU.