A Otan iniciou seu maior exercício militar desde o fim da Guerra Fria, o Trident Juncture, com a participação de 50 mil soldados de 31 países, numa aberta provocação à Rússia, já que a manobra teve início nesta quinta-feira (25) e irá até 7 de novembro, data da Revolução Russa pelo calendário antigo e pelo atual. A parte terrestre das operações está ocorrendo na Noruega, que faz fronteira com a Rússia, e ainda no Mar Báltico e Atlântico Norte.
Pela primeira vez em quase três décadas, um porta-aviões nuclear, o Harry S Truman, e seu grupo de combate cruzaram o Círculo Polar Ártico, para participar do ensaio de guerra, em que participam 10 mil veículos e blindados, 70 navios e 250 aeronaves. O anúncio da retirada unilateral do Tratado de Proibição dos Mísseis Intermediários (INF) foi feito convenientemente às vésperas do início da Trident Juncture.
Nos últimos anos, a Otan vem reiteradamente assediando a Rússia, tendo anexado um país atrás do outro do leste europeu e do Báltico para sua aliança agressiva que, como dizia um general americano, tem como objetivo manter os americanos dentro, os alemães por baixo e os russos de fora. Também foi a guerra ilegal de 78 dias da Otan contra a Iugoslávia, que deu o passo decisivo para o esquartejamento definitivo do país. A Otan também se envolveu na ocupação do Afeganistão e destruiu a Líbia.
Mas foi o golpe de estado montado pela CIA e encabeçado por nazistas na Ucrânia, em 2014, que acirrou ainda mais as tensões na Europa, acarretando o levante antifascista no Donbass e a reunificação, decidida em plebiscito por maioria avassaladora, da Crimeia à pátria-mãe russa. Desde então, o nível das provocações dos EUA e seus satélites assumiu um patamar mais descarado.
Ao mesmo tempo, Washington violou o INF e instalou antimíssil na Romênia e Polônia, que usa o lançador MK-41 dos mísseis de cruzeiro Tomahawk. Também reinterpretou os protocolos Otan-Rússia para manter permanentemente soldados estrangeiros nas imediações da Rússia, sob o expediente da ‘rotação’ dos participantes ao longo do ano. Também multiplicou o contingente da força de resposta rápida da Otan.
Os atritos no Báltico passaram a ser quase diários, com a coisa chegando ao ponto de, no mês passado, acidentalmente um avião da Otan ter disparado um míssil bem perto da fronteira russa. Conforme o secretário-geral da Otan, aquele elemento que acha o máximo servir de anteparo para quem realmente manda, um general ianque, a “Trident” é “fictícia mas realista”.
Também no final do ano passado, os EUA apresentaram a revisão da sua Estratégia Nacional de Defesa, aposentando a malsinada “Guerra ao Terror” e colocando no centro “a competição com grandes potências”, ali nomeadas, Rússia e China, enquanto o Congresso aprovou uma lei de “contenção” da Rússia com mais sanções e ameaças.
Não é segredo para ninguém que a política de Obama, que Trump acabou por manter no essencial, a contragosto ou não, era de cerco à Rússia, na previsão de desencadear a ‘primazia nuclear’ – a insana concepção de ‘primeiro ataque nuclear’ de “decapitação”, na perspectiva de que, se sobrasse algum míssil nuclear russo, seria abatido pelo antimíssil americano na fronteira. Insânia que foi para a lata de lixo após a Rússia exibir seus mísseis hipersônicos.
A principal inovação de Trump em relação a Obama foi chantagear de forma mais ostensiva os “aliados”, dizendo-lhes que teriam que pagar mais pela “proteção” dos EUA, isto é, pela ocupação por tropas e bases norte-americanas. À carne de canhão enviada neste momento ao solo gelado da Noruega, alguma alma caridosa poderia os instruir naquela máxima famosa do manual de guerra do general britânico Montgomery: “item um, nunca marche a Moscou; item dois, nunca marche a Moscou”.
A.P.