
À imprensa, o senador confirmou a ligação. “Falamos na véspera sobre os pontos fortes a serem abordados: transição e 8 de janeiro”
A notícia de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ligou para o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) antes de o depoimento do general ao STF (Supremo Tribunal Federal) no inquérito do golpe de Estado repercutiu mal entre ministros da Corte e integrantes da PGR (Procuradoria-Geral da República).
Na avaliação de ministros do Supremo, o caso pode configurar obstrução de Justiça, se ficar comprovado que Bolsonaro manipulou ou coagiu Mourão. Nesse caso, lembram os magistrados, o ex-presidente poderia até mesmo ter a prisão preventiva decretada pela Corte.
Ministros do STF afirmam, nos bastidores, que a bola agora está com a PGR. Ou seja, cabe ao Ministério Público pedir ao Supremo a adoção de alguma medida ou cobrar esclarecimentos de Mourão e Bolsonaro sobre a conversa de ambos antes do depoimento do ex-vice-presidente e atual senador da República.
PONTOS IMPORTANTES PARA BOLSONARO
Bolsonaro ligou para Mourão na semana passada, antes do depoimento do senador no inquérito do golpe, que corre no STF. O senador contou que Bolsonaro lhe pediu que reforçasse, na oitiva, alguns pontos que o ex-presidente considerava importantes.
Segundo Mourão, Bolsonaro pediu, por exemplo, que ele reforçasse nunca ter ouvido qualquer menção do ex-presidente sobre ruptura institucional. Ou seja, golpe de Estado.
Após a publicação da matéria, o senador procurou a imprensa para ressaltar que a conversa durante o telefonema foi “genérica”. Isso não Cola. Esses bolsonaristas acham que podem enganar todo mundo, todo tempo.
O depoimento de Mourão ao STF ocorreu na última sexta-feira (23). Ele depôs como testemunha de defesa de Bolsonaro.
Além do ex-presidente, ele foi indicado como testemunha de defesa pelos generais Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Braga Netto, este último está preso preventivamente, todos também réus no inquérito.
ESCLARECIMENTO
A PGR avalia quais as providências cabíveis diante da ligação feita pelo ex-presidente Jair Bolsonaro ao senador Hamilton Mourão, na véspera do depoimento dele ao Supremo.
Auxiliares do procurador-geral da República, Paulo Gonet, dizem que uma das hipóteses na mesa é a convocação do senador para esclarecer os assuntos que foram tratados durante o telefonema.
INTERROGATÓRIO DOS RÉUS
Outra possibilidade, na leitura desses interlocutores, é deixar a pergunta para o momento do interrogatório dos réus, quando o próprio Bolsonaro poderá se manifestar a respeito do que ambos conversaram.
À imprensa, Mourão confirmou a ligação. “Falamos na véspera sobre os pontos fortes a serem abordados: transição e 8 de janeiro”, disse. Depois, porém, o senador disse que eles falaram apenas sobre o estado de saúde de Bolsonaro.
Embora o ex-presidente e Mourão não estejam proibidos de manter contato, o telefonema causou estranheza entre os ministros do Supremo. Contudo, para eles, cabe à PGR definir as medidas que podem ser adotadas daqui para frente.
A demanda está, agora, com a Procuradoria.