O salário mínimo na Venezuela, fixado em 1.800 bolívares soberanos (28 dólares no momento em que foi estabelecido) pelo presidente Nicolás Maduro prometendo que teria um poder de compra suficiente para a sobrevivência, perdeu 90% de sua capacidade aquisitiva em dois meses, supondo que a inflação de outubro seja similar à registrada em setembro, assinalou na segunda-feira, 29, o economista e professor universitário Luis Oliveros.
O governo decretou um aumento salarial de 5.900% a partir de 1° de setembro. No início, com um bilhete de Bs. 500 se podia comprar uma dúzia de ovos, um quilo de bananas, um quilo de café, um quilo de queijo fresco e um pão. Em 28 de outubro – quase dois meses depois – o mesmo bilhete só compra os ovos, de acordo com a pesquisa semanal de 11 produtos que a organização Banca e Negócios realiza. A inflação em setembro foi de 233,3%, segundo a Assembleia Nacional.
A população não aceita pagar a conta da incompetência do governo, que se autodefine como “socialista”. “E não, e não, e não quero ir embora, eu quero um salário justo aqui em meu país”. Essa era uma das consignas que cantavam unidos os trabalhadores de diversos setores venezuelanos na Praza Caracas da capital, na sexta-feira, 26, frente ao Ministério do Trabalho. Eles se referiam à situação que força milhares de pessoas a tentarem ir para os países limítrofes por não ter sequer como se alimentarem dignamente.
Milhares de trabalhadores e dirigentes do Metrô da capital, Inparques, Corpoelec, Petróleos de Venezuela, PDVSA, Saúde, Docentes, Rede de Televisão CANTV, Prefeitura do Município Libertador, Aposentados s e Pensionistas, SENIAT, entre outros, exigiram do governo que pare com a demagogia de prometer a solução dos problemas com falsas medidas de mudança. “Isso que tem por aqui não é socialismo, não é honestidade, não é respeito ao povo. É pilantragem”, afirmou Reinaldo Diaz, do Sindicato dos Eletricitários. Semanas atrás, Maduro anunciou um aumento salarial que, segundo, ele, passaria a estar aos níveis internacionais.
O salário mínimo, que não é suficiente para se comprar um quilo de frango, é motivo de desespero em um país onde a inflação anual pode atingir 1.000.000% em 2018, segundo o FMI.
Trabalhadores que vivem unicamente de seu salário estiveram durante mais de cinco horas na Praça Caracas apesar de que se tentou dispersar a manifestação com cachorros, som alto e outras formas pouco ‘democráticas’.
“Sr. Presidente, convidamos você a que viva um mês com o salário que ganhamos”, diziam os trabalhadores, reafirmando que não estão dispostos a aceitar que se desconheçam as convenções coletivas, que se continuem calculando salários com uma diferença grosseira com o estabelecido no Art. 91 da Constituição da República.
“O aumento de salário anunciado não é mais que um descaramento e uma desfaçatez. A política do governo levou ao fracasso 1.359 empresas estatizadas entre os anos 2005 e 2017. As chamávamos empresas recuperadas, mas acabaram sendo um fracasso e a maior derrota”, disse Marcela Máspero, presidente da União Nacional de Trabalhadores da Venezuela.
Maduro que, dentro daquilo que já virou um chavão de vários governos que prometeram, sem cumprir, mudanças e políticas de desenvolvimento nacional, culpa a ingerência dos Estados Unidos pela crise do país, mas pretende equilibrar a economia dolarizando os salários de forma oficial. Afinal, o preço do petróleo, no qual está ancorado o petro (a criptomoeda criada por Maduro) se mede em dólares e a Venezuela, sem indústria, nem qualquer tipo de produção nacional, não se desapega da submissão ao estrangeiro.