ALTAMIRO BORGES
Pela sétima vez consecutiva, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou a taxa básica de juros, a Selic, nesta quarta-feira (18). Ela subiu 0,25 ponto, de 14,75% para 15% ao ano. A decisão irracional e criminosa do BC, agora sob o comando de Gabriel Galípolo – ironicamente nomeado para o posto pelo atual governo –, tem efeitos destrutivos para a economia nacional e para a imagem já desgastada do presidente Lula.
Ao justificar o novo aumento, aprovado por unanimidade, o Copom alegou cinicamente que a expectativa de inflação continua alta – apesar da queda recente de preços – e que a atividade econômica segue aquecida. Para os abutres financeiros, que mandam no tal “BC independente”, o aquecimento da economia, com a geração de emprego e renda, é um estorvo. Desta forma, o Copom justifica a política de juros “significativamente contracionista por um período prolongado” para “moderar” a alta do PIB e assegurar a absurda meta de 3% de inflação.
O SEGUNDO MAIOR JUROS REAIS NO MUNDO
Com o aumento de 0,25 ponto na Selic, o Brasil subiu da terceira para a segunda posição no ranking mundial de juros reais (descontada a inflação), abaixo apenas da Turquia. A taxa real brasileira subiu de 8,65% ao ano, de acordo com o levantamento anterior, para 9,53% ao ano. Na Turquia, a taxa é de 14,44% ao ano. O Brasil atualmente possui juros reais mais elevados do que Rússia (7,63%), Argentina (6,70%) e África do Sul (5,54%), segundo o site Moneyou.
Essa taxa de juros pornográfica é uma desgraça para a economia. Como afirma Juvândia Moreira, presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf) e vice-presidenta da CUT, “juros altos desestimulam investimentos e o consumo, impactando diretamente o mercado de trabalho. O Brasil poderia estar gerando muito mais empregos, de qualidade, com salários melhores, não fosse essa política monetária do BC”.
BRASIL GASTOU R$ 928,4 BILHÕES SÓ COM JUROS
Já Gustavo Cavarzan, economista do Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicas (Dieese), acrescenta outro efeito deletério. “Esse aumento significa uma pressão enorme sobre as famílias e empresas. Só este reajuste de 0,25 ponto representa um gasto adicional de R$ 12,2 bilhões anuais para o governo. Nos últimos 12 meses, o país gastou R$ 928,4 bilhões só com juros da dívida pública, o equivalente a 7,71% do PIB”.
Para o economista Ladislau Dowbor, um dos maiores especialistas sobre os crimes do capital financeiro, a alta dos juros só serve aos rentistas. “O Brasil virou refém da financeirização. Boa parte da renda das famílias e dos empreendedores é drenada pelos juros cobrados aqui. Temos 70 milhões de inadimplentes, muitos deles já pagaram suas dívidas, mas seguem enrolados nas taxas extorsivas do sistema financeiro”.
Ele calcula que o sistema financeiro retira das famílias brasileiras cerca de 10% do PIB, das empresas outros 3%, e do Estado cerca de 8%, além de perdas com a evasão fiscal e isenções de impostos sobre lucros e dividendos. “No total, 25% do PIB são drenados por um sistema que não produz nada. E o pior: grande parte desse dinheiro vai para fundos internacionais como BlackRock, Vanguard, State Street, JPMorgan e Goldman Sachs”.
