O chefe do Comitê Internacional da Cruz Vermelha na Colômbia, Christoph Harnisch, assegurou que a instituição não participará na distribuição da assistência que vem dos EUA, ao considerar que a “ajuda humanitária” é de um governo que tomou parte em um conflito interno de poder e não tem nada de humanitária. “Nós não participamos naquilo que não é para nós uma ajuda humanitária”, pontuou Harnisch.
“Estamos falando de uma ajuda que um governo decidiu e não que foi solicitada ou acordada”, acrescentou para esclarecer que o “humanitário” deve ser protegido por princípios fundamentais que norteiam a CV, tais como “a independência, a imparcialidade e a neutralidade”.
“Para nós é importante que realmente haja um respeito ao termo humanitário e um respeito aos princípios, isto é fundamental”, reiterou à saída do encontro, realizado no dia 10, com representantes da Plataforma Cidadã em Defesa da Constituição (PCDC) juntamente com a Plataforma pelo Referendo Consultivo (que acabam de tornar pública carta enviada ao presidente Maduro pedindo reunião para discutir saída para a crise venezuelana, ver matéria nesta página).
Os representantes das duas entidades que reúnem diversas organizações e lideranças da Venezuela que se opõem ao regime de Maduro, mas rejeitam a intervenção norte-americana disfarçada de “ajuda humanitária” foram ao encontro de Harnish depois que a delegação da Cruz Vermelha Internacional na Colômbia, em conjunto com a Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho para os Países Andinos e a Cruz Vermelha da Colômbia lançaram nota contra a utilização ingerencista que a Casa Branca, em conluio com o autoproclamado presidente interino, Juan Guaidó, pretende fazer da “ajuda humanitária”, com produtos colocados perto da fronteira da Colômbia com a Venezuela.
Essa é a íntegra da Carta da Cruz Vermelha:
“O Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho na Colômbia eafirma que com o fim de garantir o cumprimento de sua missão exclusivamente humanitária e de acordo com os Princípios Fundamentais de Imparcialidade, Neutralidade e Independência, não pode participar nas iniciativas de entrega de assistência à Venezuela a partir da Colômbia sem acordo prévio entre a Cruz Vermelha e a Venezuela.
Da mesma forma, no cumprimento de nossa missão, continuaremos o apoio humanitário à população vulnerável no território colombiano incluindo a população migrante em coordenação com os associados ao nosso movimento”.
Assim também se posicionou a organização Cáritas Venezuela – que trabalha com ações humanitárias – e é vinculada à Igreja Católica, contestou esta ajuda humanitária manipulada por Washington, sua presidente, Janeth Marquez, em entrevista publicada pelo portal ACIprensa, no dia 13, declara que a “ajuda humanitária não deve vir revestida de tintas políticas”.
Ela insiste que sejam erguidas as sanções norte-americanas que colocam crianças em risco de desnutrição e exemplificou destacando que “desde o começo do ano, Cáritas se encontra em situação muito complicada devido a que as sanções geram problemas de falta de combustível e matéria prima”.
Para Janeth Marquez, “a ajuda humanitária deve ser planificada e deve ser buscada a participação da ONU como entidade coordenadora que conta com protocolos importantes”.
Os emissários da Plataforma foram postos a par de várias condições que devem existir e ser respeitadas para o manejo da ajuda internacional humanitária de organismos e países para outros:
1) Reconhecimento da situação por parte do Estado.
2) As partes devem se por de acordo para a abordagem da situação.
3) Não utilização do tema da ajuda com fins políticos.
4) Trabalho com as instituições que devem ser as primeiras a canalizar os apoios e recursos humanos, e que devem avaliar a situação aos organismos internacionais para fazer possível a ajuda.
5) Supervisão da sociedade e de organismos autorizados para evitar o desvio dos recursos e assegurar que cheguem à população destinatária e necessitada.
EUA: DEPUTADOS CONDENAM INTERVENÇÃO
Parlamentares do Partido Democrata, se posicionaram de forma contrária às declarações do autoproclamado Guaidó, em entrevista concedida à agência France Press de que poderia chegar a “autorizar” uma intervenção militar por parte dos Estados Unidos.
Entre eles, o recém-eleito Ro Khanna, pela Califórnia, que publicou a declaração:
“Os Estados Unidos não devem ungir o líder da oposição na Venezuela em um conflito interno e dividido. Não há dúvida de que as políticas econômicas de Maduro têm sido terríveis, e que ele embarcou em mal financiamento e autoritarismo político. No entanto, sanções paralisantes e ação militar estão tornando a vida pior para as pessoas comuns na Venezuela. Devemos trabalhar para apoiar os esforços do Uruguai, México e a Santa Sé para um acordo negociado e o fim das sanções que estão piorando a hiperinflação. Estou trabalhando com meus colegas para que instem o governo Trump a mudar o imediatamente o curso de sua política em direção à Venezuela.”
O senador Bernie Sanders, que disputou com Hillary Clinton a indicação para a candidatura democrata na últimas eleições presidenciais, declarou que “chega dos Estados Unidos permanecerem no negócio de mudanças de regime ou de apoiar golpes”.
A deputada democrata, Ilhan Omar, afirmou que “golpe bancado pelos EUA não é solução para os problemas da Venezuela” e acrescentou que “Washington não pode sair catando líderes para outros países”.
A deputada Tulsi Gabbard, que já lançou sua candidatura a representar os democratas nas próximas eleições presidenciais, foi taxativa: “Deixem que o povo da Venezuela determine o seu futuro” e prosseguiu dizendo que “os EUA devem ficar fora da Venezuela. Nós não queremos que outros países escolham nossos líderes, portanto, devemos parar de tentar escolher os líderes dos outros”.