Dilma Ferreira da Silva, liderança rural do Assentamento Salvador Allende, na cidade de Tucuruí, no Pará, foi executada na última sexta-feira (22). Seu esposo, Claudionor Costa da Silva e Hilton Lopes foram mortos na residência do casal com requintes de crueldade.
Segundo as informações iniciais, divulgadas pela polícia, as três pessoas foram assassinadas no Assentamento Salvador Allende e as pistas até agora apontam para um grupo de seis homens que, segundo testemunhas, teriam aparecido na área momentos antes do assassinato da líder rural.
Se confirmado que a motivação das mortes foi no contexto de conflitos agrários, esse será o primeiro massacre no campo em 2019, conforme os dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) manifestou pesar pelas execuções.
Segundo os relatos, os três foram mortos com requintes de crueldade dentro da casa do casal. As vítimas foram amarradas, amordaçadas e esfaqueadas, segundo as investigações. Degolada, Dilma foi encontrada em uma cama da residência. Claudionor e Hilton foram encontrados mortos na entrada da casa, onde funcionava um mercadinho, segundo Secretaria de Estado de Segurança Pública (Segup).
A antiga Fazenda Piratininga, hoje Assentamento Salvador Allende, possui um longo histórico de conflitos. O local foi ocupado há 12 anos por mais de 400 famílias sem-terra. Desde então, até se tornar um assentamento, foram vários ataques de pistoleiros e conflitos com madeireiros.
Em nota, o MAB disse que o assassinato é um “momento triste para a história dos atingidos, que no dia de ontem celebravam o dia internacional da água” e pediu apuração rápida das autoridades, além de medidas de segurança para os atingidos por barragens.
Veja a nota do MAB:
Defendemos águas para a vida, não para a morte
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) expressa tristeza e indignação frente ao assassinato de Dilma Ferreira Silva, 45 anos, coordenadora do Movimento na região da usina de Tucuruí (PA). Dilma foi assassinada junto com Claudionor Costa da Silva, 42, seu companheiro, e Hilton Lopes, 38 anos, em um assentamento na zona rural de Baião (PA).
O assassinato de trabalhadores/as atingidos por barragens revela o quanto temos sido vítimas da violência dos poderosos. Além do padrão nacional de violação de direitos às famílias atingidas, dos lucros extraordinários em usinas e da cobrança de tarifas de energia elétrica das mais altas do mundo, temos convivido com ameaças e assassinatos frequentes de lideranças populares atingidas por barragens.
Não temos dúvida de que vivemos em um momento de perseguição aos que lutam por justiça, por soberania, distribuição da riqueza e controle público das águas e energia. Enquanto os poderosos querem fazer uma reforma para privatizar a previdência e retirar a responsabilidade do Estado na Seguridade Social, temos nas vítimas do crime da Vale em Brumadinho e no assassinato de Dilma Ferreira Silva um exemplo concreto de ausência do Estado e dos Governos na proteção às vítimas.
Não é o capital que necessita de proteção, são as vítimas do capital que precisam de proteção. Dilma Silva perdeu tudo o que tinha com a construção de Tucuruí, a terceira maior hidrelétrica do Brasil em potência, inferior apenas a Itaipu binacional e Belo Monte, também no Pará. “A usina, quando abriu as comportas, levou tudo” , afirmou em entrevista feita em 2011 pelo portal Amazônia.org. Foi no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) que encontrou um caminho para lutar por seus direitos.
Tucuruí foi construída no período da ditadura militar e se tornou um caso emblemático da destruição causada pelo modelo energético na Amazônia. Ela consta no relatório do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), que identificou a existência de um padrão sistemático de violações de direitos humanos na construção de barragens no Brasil. Centenas de famílias foram expropriadas e até hoje lutam por reparação, sem que nenhum direito fosse reconhecido.
Como os atingidos por barragens não têm suas condições de melhoria de vida asseguradas no processo de construção das barragens, se tornam uma população extremamente vulnerável. A isso, soma-se o verdadeiro estado de exceção vigente na Amazônia brasileira, região que concentra 9 em cada 10 assassinatos de defensores da terra e do meio ambiente no Brasil, segundo a ONG Global Witness.
Não podemos deixar de citar o caso de Nilce de Souza Magalhães, militante do MAB assassinada em Rondônia, quando lutava pelos direitos dos atingidos pelas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau. Quantas outras mulheres negras, pobres, lideranças e defensoras de direitos irão morrer até que seja feita justiça?
Exigimos dos governos apuração rápida desse crime, que sejam reforçadas as medidas de segurança para todos os defensores de direitos humanos no Brasil, em especial na Amazônia, e que sejam adotadas medidas imediatas para garantir os direitos dos atingidos por barragens no Brasil. No dia mundial da água, reafirmamos nosso compromisso de seguir lutando pelos direitos dos atingidos, em defesa da vida e contra a privatização da água.
Não nos calarão. Seremos como água, por maior que sejam os muros, jamais conseguirão deter nossa força. Águas para a vida, não para a morte!”