Eis como Bolsonaro explicou sua proposta (ou será de Guedes?) de estabelecer o “peso real”, uma moeda única para o Brasil e a Argentina:
“Uma nova moeda é como um casamento. Você ganha de um lado e perde de outro. Às vezes, você quer ver seu Botafogo jogar e não consegue, porque sua esposa quer ir ao shopping. Às vezes, acontece o contrário também, tá certo?”
Já no Rio de Janeiro, ele detalhou a proposta:
“Você quer levar sua esposa para ver o Mengão jogar e não consegue. Mas, como em todo o casamento, a gente mais ganha do que perde. Na moeda também. Vejo que temos muito mais a ganhar do que a perder.”
Entenderam, leitores?
E coitado do Flamengo (e do Botafogo), que nada têm a ver com isso.
Esse é o grau de seriedade desse governo e de seu desequilibrado chefe (chefe?). Se alguém perguntar o que ele foi fazer na Argentina, ninguém sabe. Nem ele. Em lugar disso, vem um factoide totalmente idiota, pois é claro que nem Guedes, nem Bolsonaro, nem o vice-presidente, Hamilton Mourão (segundo o qual a ideia é muito boa “se factível”), levam nada disso a sério.
O mais oligofrênico é achar que, com factoides desse tipo, é possível desviar a atenção dos verdadeiros problemas.
Mas, se é assim, detenhamo-nos um pouco – apenas um pouco – no factoide.
Vários economistas consideraram o “peso real” uma ideia absurda – e levantaram vários problemas, inclusive a diferença de inflação (55% na Argentina e 4% no Brasil).
Alguns lembraram que a atual “zona do euro” levou 50 anos para se constituir, desde a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, de 1952.
Outros lembraram as dificuldades no estabelecimento da “zona do euro” (por exemplo, disse o professor Nelson Marconi: “A Espanha, quando aderiu ao euro, teve de promover um verdadeiro arrocho salarial para ser competitiva dentro do bloco”). Na verdade, o euro, até hoje, não é moeda única nem mesmo na União Europeia, onde a Suécia mantém a coroa e a Inglaterra mantém a libra esterlina.
Entretanto, sobre o “peso real”, houve uma unanimidade. Todos lembraram o significado de renunciar a ter uma moeda nacional: a falta de autonomia na política econômica, nas decisões quanto à economia do próprio país.
O que é verdade. O exemplo da Grécia, estuprada através de uma moeda que, em tudo, é uma moeda estrangeira (o marco alemão com outro nome, como já foi repetido infinitas vezes), é trágico demais para ser contestado.
Mas, evidentemente, a Argentina não é a Alemanha.
Nem o Brasil.
Ou seja, nem o Brasil nem a Argentina são países imperialistas.
Portanto, o que existe de mais absurdo na proposta de Bolsonaro/Guedes não é a possível existência de uma moeda comum ao Brasil e à Argentina.
O que existe de mais absurdo é que, se depender de Bolsonaro e de Macri, essa moeda “comum” será o dólar – o dólar dos EUA.
O resto é factoide, isto é, palhaçada.
C.L.
É evidente que o objetivo dessa enxurrada de factoides é esse mesmo, referido na matéria: “desviar a atenção dos verdadeiros problemas” que assolam o país, como o alto índice de desemprego e a desaceleração da economia que traz como consequência a queda do PIB, com grande probabilidade de recessão.
Enquanto o país afunda, Bolsonaro fica aí perdendo tempo com viagens inúteis e propostas mais inúteis ainda de moedinha única para Brasil e Argentina, e cadeirinha especial para criança em veículos, entre outras cretinices.
Propostas pra alavancar a economia, esse governo fascista até agora não apresentou nenhuma.