Jair Bolsonaro afirmou na terça-feira (2), ao falar do laranjal do Ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL), que “não tem nada contra ele [ministro] ainda”. “É preciso ter acusação grave e com substância”, disse Bolsonaro, sobre a participação escancarada do atual ministro no escândalo da lavagem de dinheiro do fundo eleitoral através de candidaturas fantasmas. (Leia mais em Ministro do Turismo usou candidaturas laranjas para desviar dinheiro do fundo eleitoral)
Essas declarações de Bolsonaro foram feitas praticamente no mesmo instante em que a Polícia Federal indiciou o principal assessor do ministro, Marcelo Von Rondon, e outros dois ex-assessores, Roberto Soares e Haissander de Paula Fernandes por diversos crimes. Eles foram presos na quinta-feira (27), durante a operação Sufrágio Ostentação, desencadeada pela Policia Federal. (Mais informações em PF indicia assessores do ministro do Turismo no esquema das candidaturas de fachada)
Os auxiliares do “ministro laranja” foram indiciados por falsidade ideológica, apropriação indébita de recurso eleitoral e associação criminosa. Além deles, as candidatas Lilian Bernardino, Naftali Tamar, Debora Gomes e Camila também foram indiciadas. (Leia mais em MP de Minas intima 20 pessoas para investigar laranjal do ministro do Turismo)
A deputada federal Alê Silva (PSL-MG), que prestou depoimento à Polícia Federal em Belo Horizonte, confirmou a participação do ministro no esquema do roubo. (Deputada do PSL confirma laranjas e denuncia ameaça de morte feita por ministro de Bolsonaro)
“Confirmei a forma como eu cheguei até o esquema, e da minha convicção de que ele tenha sido orquestrado pelo ministro”, disse a deputada. Ela denunciou também à PF que, depois que revelou o esquema de Marcelo Álvaro Antônio, passou a ser ameaçada de morte. Foram solicitadas também medidas de proteção à deputada.
Ela reiterou que fez uma análise das contas das quatro candidatas que fizeram a denúncia inicialmente e confirmou a fraude. “Vi que tinham recebido valores expressivos do fundo de campanha, e que esse dinheiro teria sido repassado para empresas de propriedade de assessores de Marcelo Álvaro”, afirmou.
Bolsonaro decidiu acobertar o criminoso. “Por enquanto tenho 22 ministros sem problema. Tem de assessor. Se o assessor falar e for confirmado que ele tem participação, daí a gente toma providência”, disse o presidente, ao chegar ao Ministério da Defesa, onde se reuniu com o ministro Fernando Azevedo e Silva.
O ministro do Turismo presidia o PSL de Minas Gerais. Ele pediu ao órgão nacional do partido o repasse de R$ 279 mil do fundo eleitoral para candidatas laranjas que somaram apenas 2 mil votos, mas repassaram, ao menos R$ 85 mil para empresas ligadas aos assessores do atual ministro.
As candidatas foram Lilian Bernardino, Milla Fernandes, Débora Gomes e Naftali Tamar, todas de Minas Gerais. O valor foi solicitado por Marcelo Álvaro Antônio ao partido nacional se refere aos 30% que os partidos devem destinar às candidaturas femininas. Apesar de todas elas aparecerem entre as vinte campanhas mais caras do partido, o desempenho eleitoral das candidatas foi pífio: somaram somente 2.097 votos.
Uma das candidatas a deputada estadual pelo PSL de Minas Gerais, Zuleide Aparecida Oliveira, também denunciou o ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio. Ela contou que ele convidou-a para ser candidata laranja em 2018. Ela entregou ao Ministério Público Federal santinhos e adesivos de campanha, que não foram registrados na prestação de contas da legenda.
Zuleide entregou 25 mil santinhos de propaganda, em dobradinha com o atual ministro, que foi eleito deputado federal no pleito, além de adesivos veiculares de apoio ao então candidato do PSL à presidência da República, Jair Bolsonaro. (Leia mais em Candidata apresenta provas do esquema de laranjas do ministro do Turismo)
As investigações da PF concluíram pela formação de uma organização criminosa para desviar dinheiro público do fundo eleitoral. As investigações do Ministério Público, e as prisões e indiciamentos feitos pela Polícia Federal, atingiram os assessores de Álvaro Antônio. Só Bolsonaro não viu nada demais no roubo perpetrado pelo ministro e sua gangue.