O governo do Panamá declarou esta sexta-feira, 20 de dezembro, “Dia de Luto Nacional” em “reconhecimento às vítimas da invasão militar do exército dos Estados Unidos, ocorrido no país há 30 anos”. Tomada por unanimidade pelo Conselho do Gabinete, a decisão determina que a bandeira nacional fique hasteada a meio mastro na data em que milhares de panamenhos foram até os cemitérios prestar sua homenagem.
Nesta data, em 1989, com o intuito de manter sob sua dominação o estratégico Canal e a alegação de “acabar com a ditadura do general Manuel Antonio Noriega”, o presidente George Bush pai ordenou o bombardeio e a ocupação da terra do líder nacionalista Omar Torrijos.
Como ficou fartamente comprovado pela ação de aviões e helicópteros, somada ao fogo indiscriminado disparado de armas de alta tecnologia, a operação “Causa Justa” deixou um saldo extraoficial de até 4.000 civis mortos, principalmente no popular bairro de El Chorrilo, próximo onde estavam concentradas as tropas panamenhas, mas também de Rio Hato, Panamá la Vieja, San Miguelito e Colón.
Para poder encerrar esse “capítulo da história do Panamá, escrito com dor, com sangue derramado e com lágrimas”, ponderou o atual presidente, Laurentino Cortizo, é necessário conhecer integralmente a “verdade”. A fim de que as famílias tenham direito a saber de tudo, Cortizo manifestou seu total apoio à Comissão 20 de Dezembro, em funcionamento desde 2016, para que continue seu trabalho de identificar, localizar e precisar o número real de mortos e desaparecidos durante a ocupação estadunidense.
Uma denúncia mais pormenorizada e contundente está exposta no filme Invasão, dirigida pelo cineasta panamenho Abner Benaim, produzido em 2014.,
Após o ataque em que tomaram parte 27 mil soldados estadunidenses, Noriega se refugiou durante 10 dias na embaixada do Vaticano na Cidade do Panamá. Ali, enquanto massacravam civis, de forma completamente ilegal, as tropas ianques colocaram caixas de som com rock a um volume ensurdecedor, praticando ininterruptamente uma descomunal tortura psicológica que o obrigaram a se render no dia 3 de janeiro de 1990.
Dentro de uma base militar, o fantoche Guillermo Endara foi nomeado então presidente do Panamá, dirigindo o país até 1994. Vinte anos depois, em 2014 o presidente Juan Carlos Varela declarou pela primeira vez a data como “tempo de reflexão em memória dos compatriotas que perderam a vida durante a intervenção armada ao Panamá, como um ato de reafirmação da nossa soberania nacional”.
Ativista de direitos humanos da organização Juntos Decidimos, Freddy Pittí recordou que “como integrante da geração pós-invasão” precisou se concentrar em armar um quebra-cabeças com peças muito dispersas, “já que desde o sistema educativo nos foi negado conhecer sobre esta parte obscura da nossa história”. “Assassinaram a milhares de civis inocentes enquanto tentavam mostrar ao mundo uma realidade muito diferente à que se vivia no Panamá nesse momento. Contraditoriamente, a ‘Causa Justa’, nome que foi dado à intervenção armada, foi realmente covarde, desmedida e sanguinária”, concluiu.
LWS