O governo do México apresentou nesta quinta-feira à Corte Internacional de Justiça, o principal órgão judiciário da Organização das Nações Unidas (ONU), uma denúncia contra o autoproclamado governo da Bolívia por “assédio” e “intimidação” e defende que se garanta a segurança de sua embaixada em La Paz. Nesta sexta-feira quatro encapuzados vindos em dois veículos com placas da representação espanhola tentaram sem sucesso invadir a embaixada.
Conforme a embaixadora Maria Teresa Mercado, desde que a representação mexicana decidiu abrigar nove funcionários do governo de Evo Morales – deposto por um golpe -, seu pessoal diplomático vem sendo alvo de reiteradas ameaças e perseguições.
“Esperemos que se reconsidere e que se respeite o direito de asilo, e que se distancie qualquer tentação de tomar ou vulnerar nossa soberania ao querer invadir nossa embaixada na Bolívia. Isso nem Pinochet fez”, declarou o presidente Manuel López Obrador.
O ministro de Relações Exteriores do México, Marcelo Ebrard, assinalou que o país está propondo pura e simplesmente “que se preserve e respeite a integridade das instalações e de quem está no interior”, como dispõe a legislação internacional. Aliás, recordou o chanceler, “nem nos piores momentos dos golpes militares dos anos setenta e oitenta se pôs em risco a integridade destas instalações”.
Conforme o governo Obrador, a conduta ilegal do regime de Jeanine Áñez começou no dia 11 de novembro, precisamente quando iniciaram as gestões para que Evo fosse se abrigar em território mexicano. “Primeiro se queixavam de que lhes déssemos asilo, depois que se fizessem declarações desde o México, agora por estes nove funcionários isolados”, acrescentou Maximiliano Reyes, subsecretário para a América Latina e o Caribe.
Encontram-se resguardados na sede diplomática mexicana cinco ex-ministros, um ex-procurador-geral, um ex-governador e outros dois funcionários. O refúgio foi dado logo depois que a ditadura de Áñez ter anunciado uma “caçada” para prendê-los, acusados entre outras bizarrices de “sedição e terrorismo”.
Tendo como base inúmeras fotos e vídeos, a diplomacia mexicana denunciou a presença de dezenas de homens fortemente armados nas proximidades da Embaixada, de pessoal civil e militar que seguia irregularmente os veículos oficiais e que abordavam constantemente à embaixadora. Exilado na Argentina, o próprio Evo tem condenado a ditadura pela utilização de drones para espiar a representação diplomática mexicana e seus ex-funcionários.
Na véspera de Natal as tensões aumentaram com cerca de 150 policiais e membros do corpo de segurança – com apoio técnico de pessoal israelense – vigiaram o local. Apesar do México ter outorgado aos nove ex-funcionários o direito ao asilo, o desgoverno Áñez negou os salvo-condutos para que deixem a Bolívia e emitiu ordens de detenção para cinco deles.
Condenando a arbitrariedade, o México recordou que as ações do regime de Áñez violam flagrantemente a Convenção de Viena, que estabelece a norma entre representações e representantes de países. Nesta semana, Obrador emitiu três notas diplomáticas, recorrendo à ONU, à Organização dos Estados Americanos (OEA) e a países do continente para somar apoios.
“Não há nenhum princípio que respalde a quem queira violentar a sede diplomática de um país. Estamos apresentando um instrumento jurídico por conta da violação de obrigações diplomáticas”, destacou o chanceler Marcelo Ebrard.