Sobre as criticas de que o filme foi feito para apoiar o PT, a diretora comenta: “Qualquer espectador fora do Brasil fala: ‘Nossa, você é crítica do PT e ao Lula, eu gostei muito das críticas que você faz de como eles não fizeram as reformas necessárias'”
A cineasta Petra Costa, autora do filme “Democracia em Vertigem”, que representa o Brasil na disputa de melhor documentário de longa metragem no Oscar, afirmou, em entrevista ao Jornal Nacional de sexta-feira (07), que ficou surpresa com a indicação.
“Não esperava. Foi uma surpresa gigante. Eles fazem listas de previsão e já tinham abandonado o nosso filme, nenhuma lista de previsão mencionava mais o filme. Então, eu estava me consolando com o fato de que não ia ser indicado, até que foi. Eu fiquei muito feliz e honrada”, disse.
Na reportagem, o entrevistador questiona se uma história “contada de dentro do governo não teria ajudado a aumentar as críticas de que o filme, é a versão do PT sobre os fatos”. Além do entrevistador, muitos outros comentaristas também tiveram a mesma impressão sobre o filme.
Sobre isso Petra disse que discordava e destacou que no exterior ela é citada como cítica do PT e que em cinco oportunidades no filme ela critica a administração petista.
“Eu discordo e eu acho interessante que qualquer espectador fora do Brasil fala: ‘Nossa, você é crítica do PT e ao Lula, eu gostei muito das críticas que você faz de como eles não fizeram as reformas necessárias’. Já no Brasil, as pessoas têm dificuldade de escutar, algumas pessoas, porque, se você for pegar a narração, tem pelo menos uns cinco momentos do filme em que eu sou crítica”, afirmou a cineasta.
Ela contou que quando começou a filmar os protestos contra o governo Dilma, achou que aquilo ia ser resolvido nas ruas. “Primeiro comecei a filmar os protestos contra e a favor do impeachment e, meio ingenuamente, achando que aquilo ia ser decidido nas ruas, dependendo de qual manifestação ia ser maior. Quando eu me dei conta que, claro, o impeachment ia ser decidido no Congresso, eu fui para Brasília”, prosseguiu a autora do documentário.
Petra disse que nos anos seguintes continuou a reunir material. Continuou a registrar os acontecimentos na política brasileira: o processo de impeachment de Dilma Rousseff, o julgamento e a prisão de Lula, a eleição de Jair Bolsonaro. Depois, disse ela, “juntei o que tinha registrado na imagens anteriores, à história da família e à própria história para construir “Democracia em Vertigem”.
“Eu tentei fazer uma versão do filme com essa narração mais objetiva e não encaixava, não tinha a ver com o meu cinema, parecia uma coisa antiga. Aí eu fui começando a escrever uma narrativa pessoal, como uma carta para a democracia, e também eu acho que se tornou algo interessante falar do país através da história da minha família, a divisão social que existia dentro do país a partir dessa história e as suas contradições”.
O filme de Petra Costa vai ser o único latino-americano disputando uma estatueta. Ele vai concorrer com Honeyland, de Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov. Um filme da Macedônia do Norte, que traça um paralelo entre as vidas de uma colônia de abelhas afetadas pelo caos do mundo moderno e de sua cuidadora, a apicultora Hatidze. Ela vê sua tranquila rotina rural interrompida pela chegada de uma família concorrente que não partilha de seu zelo pela apicultura.
O outro concorrente de Petra Costa é o britânico “For Sama”, de Waad Al Kateab e Edward Watts, que retrata uma espécie de carta visual da diretora para a filha Sama, que nasce em Aleppo, durante a guerra civil da Síria. O documentário acompanha a vida da família e a rotina do hospital comandado pelo marido da diretora, o médico Hamsa.
O terceiro concorrente do filme brasileiro é “Indústria Americana”, de Steven Bognar e Julia Reichert. Uma produção original da Netflix, onde os diretores debatem as frágeis relações trabalhistas norte-americanas a partir da abertura de uma indústria chinesa no pós-crise dos EUA. O que começa otimista com a contratação de 2.000 operários norte-americanos em Ohio, logo evolui para um conflito cultural com a mão-de-obra chinesa. O filme é uma parceria com uma produtora do ex-presidente Barack Obama.
E o último concorrente de Democracia em Vertigem é “The Cave”, de Feras Fayyad. O documentário, que tem a guerra da Síria como foco, conta a história de um time feminino de médicas que arrisca a vida para salvar as vítimas do conflito sírio, enquanto enfrenta o machismo sistêmico do país.