Após anunciar a diminuição gradual do isolamento social a partir de 11 de maio, o governador de São Paulo João Doria (PSDB), afirmou na coletiva de imprensa, nesta quinta-feira, 23, que se a quarentena afrouxar ele irá rever flexibilização. Segundo a aferição da Prefeitura, a quarta-feira, 22, teve apenas 48% de isolamento. O índice considerado aceitável é de 50%, enquanto o ideal é entre 60% e 70%.
“A taxa de isolamento foi de 48% na região metropolitana. Isso é grave, acendendo o sinal amarelo. Não podemos baixar de 50%, essa é a orientação da medicina. Você, que mora na região, nos ajude a não disseminar o vírus. O sistema inteligente indicou que baixou para 48%. Precisamos voltar para a taxa acima de 50%. Peço sua contribuição”, disse em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes. O pior índice registrado foi de 47%, em 9 de abril.
“A orientação é da saúde e medicina. Se não tivermos uma taxa superior, poderemos ver a revisão da etapa depois da quarentena. É importante que as pessoas respeitem. Se as pessoas ficarem em casa vai nos ajudar a passar por essa crise mais rápido. Não podemos flexibilizar se não tivermos um índice mínimo de 50%. Ontem, não foi atingido, mas nos últimos quatro dias sim. Se tivermos índices inferiores na região metropolitana, teremos um outro comportamento. Quem vai ditar o que podemos ou não fazer é a área da saúde e medicina”, afirmou João Doria.
O governador de São Paulo também anunciou um decreto recomendando o uso de máscaras em todos os municípios do estado.
“Decreto que será publicado amanhã recomendando, da mesma maneira que já foi feito na capital, o uso de máscaras em todos os municípios. Há alguns municípios onde já promoveram essa ação localmente. Agora, estamos estendendo para todos os municípios. Isso não tira a obrigatoriedade de salvar vidas e ficar em casa. Se tiver que ir a um mercado, vá de máscara. Pode usar a máscara de pano, que são aceitáveis”, afirmou.
Os detalhes sobre como será a reabertura, como por exemplo a volta do funcionamento das escolas e do comércio, serão divulgados apenas em 8 de maio e estão condicionados ao avanço da pandemia.
“Quero deixar claro que essa quarentena vai até o dia 10 de maio e nada se modifica ao longo deste período. Nós não estamos dizendo que deixaremos de ter quarentena depois do dia 10 de maio. Nós teremos o Plano São Paulo que vai estabelecer áreas e setores que poderão ser estendidos e outros não. Ninguém falou, nem falará, mas é importante deixar claro, de que nós não estamos anunciando que no dia 11 de maio não teremos mais nenhuma quarentena”, afirmou Doria.
DIA DAS MÃES
O governador de São Paulo também sugeriu para empresários, durante uma vídeo conferênca, nesta quinta-feira, que o dia das mães, comemorado no segundo domingo de maio, seja adiado para agosto.
Segundo ele, o adiamento seria apropriado para impulsionar o comércio que ainda está fechado por causa das medidas de restrições adotados para enfrentar o coronavírus.
Doria citou ainda que o atual momento tem dificultado o encontro e a comemoração de famílias, já que há preocupação especial com pessoas com mais de 60 anos, que são do grupo de risco.
A reunião virtual foi com o Comitê Empresarial Econômico, que reúne 328 empresários que pediram a reabertura do comércio no estado a partir do dia 1º de Maio, para aproveitar as vendas do Dia das Mães. O pedido foi feito em nota assinada pela Facesp (Federação das Associações Comerciais do Estado São Paulo) e pela ACSP (Associação Comercial de São Paulo), lançada na quarta-feira (22).
DIVISÃO POR ZONAS
Os critérios que serão utilizados para o retorno de algumas atividades irão considerar a preparação do sistema de saúde, da sociedade e da economia.
A reabertura será feita em fases e de acordo com as especificidades de cada região e setor, explica Patricia Ellen, secretária de Desenvolvimento Econômico. O uso de máscaras pela população será obrigatório.
As regiões e municípios serão definidas por nível de risco: zona vermelha, zona amarela e zona verde.
Segundo Ellen, atualmente todas as regiões estão entre a zona vermelha e amarela, porque “para alcançar a zona verde é preciso atingir um baixo número de casos, baixa ocupação dos leitos de UTI, testes disponíveis para assintomáticos e suspeitos e protocolos setoriais implementados”.
O plano para a economia será conduzido para evitar que a reabertura desordenada do comércio provoque uma disparada no número de casos e de mortes em decorrência da doença.
Na avaliação do governo, além da perda de vidas, o prejuízo econômico será muito maior se a retomada levar a uma quarentena ainda mais rígida nos próximos meses.
Médicos da USP de Ribeirão Preto defendem quarentena
Dirigentes e médicos da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e do Hospital das Clínicas, ambos da USP, assinaram um estudo em que defendem a manutenção do isolamento social como forma de evitar o pico prematuro de incidência da Covid-19.
No documento, eles reforçam que apesar do número relativamente pequeno de casos na cidade (217, com cinco mortes), e também na região, há estudos que mostram que ela tem um atraso de três semanas em relação à capital para um aumento do número de casos —o que fatalmente ocorrerá.
Uma “tentativa de flexibilização precoce e não articulada do isolamento social”, dizem, poderia levar “a população a acreditar que o pior momento da crise já tenha sido superado”, comprometendo o “enorme esforço” para preparar o sistema de saúde para salvar vidas. “O que a capital vivenciou [com mais de 70% dos leitos de UTI rapidamente ocupados por pacientes infectados pelo novo coronavírus] nos deixa muito cautelosos. A curva de crescimento é exponencial. Perder o ‘timing’ desse controle é fácil”, diz Antonio Pazin Filho, diretor do departamento de atenção à saúde do HC.