Curva de contágios ali está na ascendente: até Trump disse achar ‘cedo demais’
Depois de insuflar seus fanáticos para desmantelar a quarentena nos Estados democratas e tuitar ‘libertem Michigan’, Trump piscou quando seu cupincha, o governador republicano da Geórgia, Brian Kemp, anunciou que ia mostrar como se faz. A partir desta sexta-feira (24), boliches, salões de manicure, spas e até estúdios de tatuagem abertos. A partir de segunda-feira, cinemas e restaurantes.
Até Trump veio a público dizer que era “cedo demais”, depois de alertas de renomados infectologistas, mas segundo a mídia norte-americana o governador da Geórgia estaria “sinalizando” que iria manter a medida.
O plano de Kemp contradiz sua própria ordem de “fique em casa”, em vigor até 30 de abril, e as orientações de distanciamento social em nível federal, não formalmente abolidas.
A bem da verdade, Kemp não foi o único. Também os governadores da Flórida e da Carolina do Sul ensaiaram mais alguns passos para sabotar o distanciamento social, através da reabertura de praias e outras sandices.
Como ironizou um comentarista do Washington Post, “na Flórida nós adoramos nossas praias. Agora podemos morrer por elas”.
Na Geórgia, a curva de contágio está na ascendente, e só um imbecil completo se proporia a ‘reabrir os negócios’ no auge do surto. São mais de 19 mil casos confirmados, com mais de 770 mortes, dos quais 6 mil casos e 200 mortes na área metropolitana de Atlanta, a capital do estado.
A Geórgia também não cumpre qualquer uma daquelas normas mínimas enfiadas pelos infectologistas no plano rasura quarentena de Trump, e que pedem que nos últimos 14 dias os casos e as mortes estejam em queda, e que o sistema hospitalar não esteja em colapso, assim como haja testagem que permita saber a situação real da pandemia.
A prefeita de Atlanta, Keisha Lance Bottoms, convocou a população a não se submeter ao desvario de Kemp.
“Continuarei a usar minha voz como prefeita de Atlanta para pedir ao povo de Atlanta que fique em casa, siga a ciência e exercite o bom senso”, afirmou Bottoms.
A medida também foi condenada pelo prefeito de Savannah, Van Johnson. “Não saiam”, conclamou em entrevista na tevê. “As pessoas não virão aqui se elas acharem que nossas lojas não são seguras”.
As pessoas vão ficar “perto demais” nos cinemas ou nos restaurantes, acrescentou, dizendo que “não há jeito” de cuidar de cabelos ou unhas ou fazer massagens ou tatugagens “a uma distância segura”.
Stancey Abrams, que disputou com Kemp o governo do estado e quase venceu, desancou pelo Twitter a ação do mandatário: “Reaberto? Perigosamente incompetente”.
O prefeito de Augusta, a segunda maior cidade do estado, Hardie Davis Jr. disse à CNN que tinha sido pego desprevenido pela decisão de Kemp. Ginásios, barbearias e salões de beleza são “lugares onde todos estão bem perto um do outro”, destacou. Ele salientou que sem uma série de esforços educacionais em relação a esses ambientes, seria “extremamente difícil para nós continuar a achatar a curva”.
Preocupação também do principal conselheiro científico da força-tarefa da Casa Branca contra a pandemia, o Dr. Anthony Fauci, que advertiu, se referindo às turbas que foram às ruas contra a quarentena, que qualquer levantamento “antes da hora” do distanciamento social iria “sair pela culatra” e levar à retomada da quarentena, sob condições econômicas ainda mais duras.
Kemp admitiu que “quando tivemos mais gente se movendo em torno, provavelmente vamos ver nossos casos continuarem a subir”. Mas a Geórgia está “um bocado melhor preparada agora” do que há um mês atrás, observou: “temos capacidade hospitalar de leitos”. As lojas ainda não estariam abertas para “negócios como de costume” e teriam que ser observadas “regras de distanciamento social” e de higiene. Seria “um pequeno passo à frente”.
Na coletiva sobre a pandemia de quinta-feira (23), Trump bateu com vontade no governador da Geórgia. “Eu quero que os Estados abram mais do que ele. Muito mais do que ele”, afirmou. “Mas eu não gostaria de ver spas [abertos] neste estágio inicial. Nem os médicos”.
A pior coisa para Trump é que sua pressão por reabrir seja desmoralizada antes do tempo por um repique na Covid-19 logo num estado republicano – daí o morde e assopra com Kemp, que só foi na onda que o presidente bilionário inflou.
Primeiro, com o “reabre até a Páscoa”, agora, com o “1º de maio” e ainda dizendo que “metade dos Estados” poderiam reabrir antes disso. Para Trump, o que conta mesmo é se seu novo slogan “Reabrir a América de Novo” vai emplacar e garantir sua reeleição em novembro.
Aquele slogan anterior, o “Manter a América Grande de Novo”, o coronavírus destroçou, quando botou Wall Street no chão em março. A bem da verdade, desde setembro do ano passado, os especuladores já estavam devidamente entubados e ventilados pelo Federal Reserve, à razão de US$ 100 bilhões mensais, além de promessa de garantias de trilhões.