O presidente do Peru, Martín Vizcarra, anunciou nesta quinta-feira que a quarentena vivida pelo país desde o dia 15 de março para enfrentar o avanço do coronavírus será estendida até o dia 10 de maio. Até esta data, assinalou, o estado de emergência seguirá com todas as disposições de isolamento e desmobilizações obrigatórias em todo o território nacional.
Segundo Vizcarra, a ampliação do prazo em mais duas semanas se deve a consultas realizadas junto ao Ministério da Saúde (Minsa), a equipes de profissionais que assessoram o setor e ao Colégio Médico do Peru (CMP), e frente a uma maior proliferação da enfermidade, que duplicou nos últimos nove dias.
O Peru é o segundo país da América Latina, depois do Brasil, com mais casos de coronavírus. São 20.914 contaminados e 572 mortos. Nas últimas 24 horas foram 1.664 novos contagiados e 42 falecidos.
“A curva segue em ascensão, não chegamos ainda ao cume. Então, de maneira responsável depois de escutar as recomendações das entidades profissionais e conversar com todos os membros do Conselho de Ministros, sendo conscientes do que é esta enfermidade, que não podemos baixar a guarda, somos obrigados a tomar decisões sempre pensando no bem do país. E este bem é sua gente, sua saúde e sua vida”, declarou o presidente. “Em função disso a recomendação adotada, pensando na saúde dos peruanos, é estender o estado de emergência por duas semanas a mais”, acrescentou Vizcarra, em videoconferência no Palácio de Governo.
“A extensão até o domingo, 10 de maio, representa o esforço para vencer esta enfermidade, tomando em conta que as datas para encerrar o estado de emergência é para começarmos a reativar e reiniciar, gradualmente, as atividades que desenvolvíamos antes da quarentena”, acrescentou.
A manutenção de regras básicas como a lavagem de mãos, o uso de máscaras e o distanciamento social, destacou, seguem sendo essenciais para evitar o contágio e “devem ser respeitadas muito depois que se levante a quarentena e pelo menos até o princípio do próximo ano quando tenhamos uma vacina”.
O RETRATO DO CAOS
Com 70% dos trabalhadores jogados na informalidade, sem direitos trabalhistas e com salários baixíssimos, o país vê a crise se agravar com empresas dando licenças não-remuneradas e a inatividade levando a grande maioria da população ao limite da sua resistência. O fato, denuncia a oposição, é que milhões de famílias que antes da crise já estavam mergulhadas na pobreza agora, na extrema miséria, pedem ajuda para sobreviver.
Frente à pressão, o governo providenciou a entrega de um bônus equivalente a cerca de US $ 220 para 3,5 milhões de famílias pobres urbanas e a um milhão de famílias rurais. A oposição denuncia que além de insuficiente e alcançar apenas uma parte dos necessitados, o bônus também está sendo distribuído de forma lenta e desorganizada.
O resultado disso está no rosto de um país faminto, estampado pelas ruas e estradas do país. “A fome irá nos matar antes que o vírus, exclamou angustiada uma jovem de rosto cansado, levando nos braços a filha de poucos meses, em entrevista ao jornal argentino Página 12.
“A sua é uma amarga reclamação pelo abandono, um desesperado grito por ajuda. Esta noite dormirá como as anteriores e as seguintes, sobre uns cartões ao lado da rodovia que vai de Lima à zona andina no centro do país. Volta ao seu povoado, escapando. Sem nada, vai caminhando. O aguardam centenas de quilômetros. Com ela passarão a noite mais de 300 pessoas que carregam a mesma angústia e dividem o mesmo percurso, longo, cansativo e doloroso. Em outros pontos desta mesma rodovia, e em outras estradas, que vão para o sul e o norte do país, outros milhares vivem o mesmo drama. Abandonam a capital para regressar aos seus povos. Em Lima, a cidade da qual escapam com desespero, se concentra a maior parte dos casos de coronavírus no país, porém eles não fogem do vírus. Fogem da forme. É o êxodo dos esquecidos, dos excluídos, dos pobres extremos, em plena quarentena do coronavírus”, relatou.