Iniciativa acelerará desenvolvimento de medicamentos, testes e vacinas acessíveis a todos os países
Vencer a pandemia de coronavírus requer “o maior esforço de saúde pública da história”, alertou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, no lançamento na sexta-feira (24), por videoconferência, de uma iniciativa global, encabeçada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), para unificar e acelerar o desenvolvimento de medicamentos, testes e vacinas seguros e eficazes contra a Covid-19 e seu compartilhamento equitativo pelos povos do mundo inteiro.
O evento enfatizou o compromisso da OMS, da ONU e de importantes líderes mundiais de que os novos tratamentos para lidar com a pandemia “chegarão a todos”.
Demonstrando seu apoio à OMS, participaram à distância, com pronunciamentos, líderes da União Europeia – como o presidente francês Emmanuel Macron, a primeira-ministra alemã Angela Merkel, do primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte, do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez e a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen.
A pandemia de Covid-19 se aproxima dos 3 milhões de infectados no planeta inteiro e já causou 200 mil mortos, sendo que a Europa foi duramente atingida, em especial a Itália, Espanha, França, Grã Bretanha e Alemanha.
O governo Trump e o governo Bolsonaro se autoexcluíram da videoconferência.
Caberá à presidente da Comissão Europeia presidir no dia 4 de maio uma conferência de doadores, cuja meta é levantar 7,5 bilhões de euros para esse esforço concentrado para avançar na contenção da Covid-19.
Guterres pediu “uma vacina e tratamentos baratos, saudáveis, eficazes e facilmente utilizáveis que atendam a todos, em qualquer lugar. Ninguém estará seguro até que estejamos todos seguros. O Covid-19 não respeita fronteiras”.
Como apontou o secretário-geral da ONU, “o mundo precisa desenvolver, produzir e garantir uma distribuição equitativa” de vacinas e tratamentos quando disponíveis”.
O que o que se faz necessário – enfatizou Guterres – não é “uma vacina ou tratamento para um país ou região ou metade do mundo – mas uma vacina e tratamento acessíveis, seguros, eficazes, fáceis de administrar e universalmente disponíveis – para todos, em qualquer lugar”.
“O mundo precisa dessas ferramentas e precisa logo”, disse Ghebreyesus. “Enfrentamos uma ameaça comum que apenas poderemos derrotar em uma abordagem comum”, disse o diretor-geral, ressaltando que todas as vacinas, diagnósticos e tratamentos devem ser igualmente disponibilizados a todas as pessoas.
“A experiência nos conta que, mesmo quando as ferramentas estão disponíveis, elas não estão igualmente disponíveis para todos. Não podemos permitir que isso aconteça”, afirmou.
“Desde janeiro, a OMS trabalha com milhares de pesquisadores em todo o mundo para acelerar e acompanhar o desenvolvimento de vacinas – desde o desenvolvimento de modelos animais até projetos de ensaios clínicos e tudo mais. Também desenvolvemos diagnósticos que estão sendo usados em todo o mundo, e estamos coordenando um estudo global sobre a segurança e eficácia de quatro ações terapêuticas contra o Covid-19”, declarou o diretor-geral da OMS.
A iniciativa, denominada Access to Covid-19 Tools Accelerator, ou ACT Accelerator [‘Acelerador de Acesso a Ferramentas contra a Covid-19’], pretende levantar até maio 7,5 bilhões de euros para intensificar o trabalho de prevenção, diagnóstico e tratamento.
Um levantamento realizado pela OMS, com dados até 20 de abril, aponta que ao menos 76 pesquisas de vacinas já se encontram em andamento no mundo – 71 em fase pré-clínica e cinco em fase clínica.
Von der Leyen enfatizou que os 7,5 bilhões de euros são apenas “um primeiro passo, ainda mais será necessário no futuro”.
No momento em que o governo Trump cortou o repasse à OMS [US$ 400 milhões] em plena pandemia, o ato em Genebra constituiu, ainda, uma grande manifestação de apoio político à ação da organização que coordena no mundo a defesa da saúde pública e confirmou o isolamento da Casa Branca por sua sabotagem do combate ao coronavírus por motivos eleitoreiros. Além de, em termos financeiros, ser 20 vezes o repasse cortado por Trump.
O presidente Macron afirmou que seria “inexplicável e imperdoável que uma vacina esteja disponível apenas no país onde foi desenvolvida ou onde as grandes farmacêuticas investiram” – o que foi apontado pelo portal Deustche Welle como “uma aparente crítica aos EUA”.
Conforme as denúncias, Trump andou tentando obter de uma empresa alemã direitos exclusivos sobre uma vacina em fase de teste, e andou pirateando e sequestrando equipamentos de proteção e respiradores que tinham outros países como destino.
“A partir do momento em que vencermos essa batalha, devemos fazer com que a vacina seja acessível a todas as populações, tão logo quanto possível e em toda parte”, reiterou Macron.
O líder francês se comprometeu em continuar a mobilizar os países do G7 e G20 para que apoiem essa iniciativa. “Espero que possamos reconciliar a China e os EUA em torno dessa iniciativa, porque se trata de dizer: ‘A luta contra a covid-19 é um bem humano comum, e não deveria haver divisões para ganhar essa batalha'”, acrescentou.
Quando Trump acusou a OMS de agir tendenciosamente a favor da China e de não alertar sobre a pandemia, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, em conferência por vídeo de chanceleres de 23 países da “Aliança para o Multilateralismo”, afirmou que a OMS continua sendo “a espinha dorsal do combate à pandemia”.
Ele acrescentou que “não fazia qualquer sentido questionar então a capacidade da OMS para a função ou sua significância”, que a OMS tinha que ser fortalecida, e apenas quando o pior da crise tivesse passado é que poderia se ver que lições haveria a serem aprendidas.
A conferência também contou com a participação de organizações privadas, que têm contribuído para o orçamento da OMS, como a Fundação Bill e Melinda Gates.
Nas últimas conferências diárias virtuais sobre o combate à pandemia, a OMS tem advertido que as medidas de distanciamento social não podem ser afrouxadas apressadamente e que é imprescindível “testar, testar, testar”, isolar e tratar os infectados e rastrear seus contatos, já que, sem vacina e sem tratamento eficaz, a única forma de evitar as tragédias como as vistas no norte da Itália ou no Equador, com colapso dos hospitais e dos cemitérios, é achatar a curva de contágio e ganhar tempo.
ANTONIO PIMENTA