Apesar de recordista mundial absoluto de casos de Covid-19 (1 milhão) e de mortos pelo coronavírus (57 mil), o presidente Donald Trump asseverou que é no Brasil que o surto “é sério” , acrescentou que o país tomou “outras direções” no combate à pandemia e até ameaçou suspender os voos com o país. Está “estudando”.
“O Brasil tem um surto sério, como vocês sabem. Eles também foram em outra direção que outros países da América do Sul, se você olhar os dados, vai ver o que aconteceu infelizmente com o Brasil”, disse Trump.
O sujo falando do mal lavado.
O Brasil, sob Jair Messias Bolsonaro, até terça-feira (27), já registrava 71.886 casos confirmados de coronavírus, com 5.017 mortes – o que já são mais mortos do que a China e chegando perto no número de casos. Como a Organização Panamericana de Saúde (OPAS) assinalou, a América Latina (e o Brasil) está a seis semanas de onde estavam a Europa e os Estados Unidos no desastre da Covid-19.
Em síntese, Trump varreu parte da sua sujeira para debaixo do tapete encardido de Bolsonaro, que o idolatra e até queria que seu próprio filho ficasse na América fritando hamburger para o “gênio estável” de Manhattan – uma autodescrição do bilionário.
Isso, depois de tanto esforço de Bolsonaro para, em meio ao bordão de “talquei”, ser quem melhor no mundo repetia a receita obscurantista de Trump sobre a pandemia.
“Só uma gripe comum”, disse Trump, para pouco depois ser papagaiado por Jair Messias com sua “gripezinha”.
Quando Trump quis reabrir tudo “até à Páscoa”, posição da qual recuou, Bolsonaro ficou apoplético, querendo abrir tudo por aqui, para “salvar” a economia, o Guedes, o 01, o 02 e o 03 e, quem sabe, o Queiroz.
Também repetiu sandices de Trump contra a Organização Mundial de Saúde (OMS) e seu diretor-geral, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
A bem da verdade, lá nos EUA – como aqui – quem segurou a rebordosa de conter a pandemia foram os governadores e prefeitos, que decretaram as medidas de distanciamento e as sustentaram contra as pressões de Trump, com a ajuda dos epidemiologistas da força-tarefa contra a Covid-19.
No auge da pandemia em Nova Iorque, e a meses da disputa da reeleição em novembro, Trump até chegou a adotar o “fique em casa”, que depois resolveu dinamitar até o 1º de maio – inclusive chamando seus fanáticos para violarem a quarentena.
Desde então, parecia que os dois haviam se afinado, mas como o mundo é cheio de surpresas, Trump, que já faz a China e a OMS de bodes expiatórios de sua incompetência, resolver carcar um ainda mais ostensivamente desastrado.
É possível que o que haja levado Trump a falar no Brasil tenha sido a declaração, na semana passada, do governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo, em que ele citou “o Brasil e a Suécia” como exemplos negativos de contenção da pandemia.
O modo Bolsonaro de combate ao coronavírus – que, segundo o próprio, nem poderia ser um problema de saúde em um país em que o povo costuma nadar no esgoto – dispensa apresentações.
Já a Suécia se recusou a decretar a quarentena, apostou na “imunização de rebanho” e só adotou algumas medidas após o número de casos e mortos se tornar muito maior do que nos países vizinhos, como a Noruega e Finlândia, que adotaram o distanciamento social.
O Estado que Cuomo governa assim como a cidade de Nova Iorque são o epicentro da pandemia nos EUA, já que enquanto Trump fazia encenação contra os chineses, o vírus chegava da Europa, circulava pelo World Trade Center, o Bronx e o Queens e fazia a festa.
Cuomo se declarou confiante na recuperação de Nova Iorque porque as estratégias adotadas foram diferentes das implementadas no Brasil e na Suécia.
“Quem foi contaminado, foi contaminado e quem morreu, morreu. Ficou por isso (…) Não queremos o mesmo para nossos cidadãos”, afirmou.
ANTONIO PIMENTA