Desde o início da pandemia do Covid-19, a Suécia é o único país europeu que não determinou o regime de distanciamento. O governo chefiado pelo primeiro-ministro Stefan Löfven deixou a definição sobre o comportamento social face o coronavírus para a “responsabilidade individual” dos cidadãos. Nessa versão de democracia, porém, o valor do salário ou a quantidade de horas trabalhadas, entre outras questões, não foi o caso de deixar na consideração individual.
O país já registrou 2.462 mortes e tem uma taxa de mortalidade mais alta em relação ao tamanho da população do que em qualquer outro lugar da Escandinávia. Com uma população de 10 milhões de pessoas, a Suécia é o 21º país do mundo com mais casos, segundo a Universidade Johns Hopkins — eram pouco mais de 20,3 mil até 29 de abril — mesmo que na maioria das vezes apenas sejam testados aqueles com sintomas graves.
Segundo o site The Local, a capital Estocolmo é o epicentro do surto. Nas primeiras três semanas de abril o número de falecimentos semanais tem sido mais que o dobro da média registrada durante as mesmas semanas nos últimos cinco anos.
“Há muita gente morrendo”, diz Claudia Hanson, epidemiologista do Karolinska Institutet, o maior centro de pesquisa médica da Suécia. Ela questiona o comportamento do governo e assinala que a sociedade deveria ter sido temporariamente isolada em março, enquanto as autoridades avaliavam a situação.
Hanson está entre os 22 cientistas que escreveram um artigo publicado no principal jornal da Suécia na semana passada criticando o governo e revelam que “funcionários sem talento” ficaram encarregados de tomar as decisões.
Para Bo Lundbäck, professor de Epidemiologia na Universidade de Gotemburgo, “as autoridades e o governo acreditaram tolamente que a epidemia não chegaria à Suécia”.
“A Suécia estava mal ou inclusive nada preparada”, criticou Bo Lundbäck em conversa com a AFP.
O epidemiologista também se somou aos cientistas que assinaram o artigo no jornal “Dagens Nyheter” para exigir “medidas rápidas e radicais”, como o fechamento das escolas e restaurantes.
Na linha dos que consideram que deve se priorizar a economia, as autoridades suecas apresentaram duas semanas atrás a avaliação de que, se o país não continuar funcionando, o PIB poderá cair até 10%, enquanto que o desemprego atingirá 13,5%.
Porém, até o Fundo Monetário Internacional, que não se caracteriza pela sua defesa dos interesses populares, estimou em informe que em 2020 o PIB da Suécia sofrerá uma queda mais grave que a de vários outros países europeus (como a Suíça e o Reino Unido) que impuseram medidas mais estritas.