O “pior de uma década”. Segundo trimestre será “o pior da vida toda”, diz o New York Times
Uma contração do Produto Interno Bruto (PIB) de 4,8% no primeiro trimestre do ano (anualizado): a inépcia e obscurantismo do governo Trump diante da pandemia de Covid-19 já está tendo um pesado custo para a economia norte-americana, após o rastro de mortos do coronavírus ter tornado inadiável, no meio de março, a quarentena e suspensão de toda a atividade não-essencial.
Situação que foi traduzida pelo jornal New York Times como “Pior Economia em uma Década. O Que Vem a Seguir? ‘A Pior da Nossa Vida”. Na linha fina: “e nem ouse perguntar sobre este trimestre”.
O Washington Post advertiu que o segundo trimestre possivelmente mostrará “um declínio de 30% ou mais”.
Por sua vez o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou que “vamos ver dados econômicos para o segundo trimestre que serão piores do que quaisquer dados que já vimos na economia”.
Como comparação, no último trimestre do ano passado o crescimento havia sido de 2,1% (anualizado).
Com o mergulho, chega ao fim o mais extenso ciclo de expansão do PIB dos EUA, ainda que a taxas modestas, pós-crash de 2008, que foi movido a juros negativos e monumental compra de papeis podres pelo Federal Reserve, resultando na “bolha de tudo” e recompra desenfreada de ações.
Enquanto a economia real – ‘Main Street – era tão débil que, quando chegou o coronavírus, não conseguia sequer garantir máscaras cirúrgicas, respiradores ou testes.
A desaceleração começou no início de março na costa oeste, onde foram detectados os primeiros contágios de coronavírus, e se estendeu em meados de março à costa leste.
Em março, a Bolsa de Nova Iorque quase foi ao chão de novo, sendo salva pelo resgate providenciado pelo Fed e pelo governo Trump, diante da espantosa transformação da maior metrópole norte-americana no epicentro da pandemia no mundo.
O que fez dos EUA recordista mundial em infecções pela Covid-19, mais de 1 milhão de casos confirmados, e em mortos, 60 mil. Só em 13 de março foi que Trump deixou de lado a conversa da “gripe comum” e decretou emergência nacional.
Mas o coronavírus foi só o estopim: desde setembro do ano passado, quando o sistema privado de overnight (repo) chegou à taxa de 10% porque os bancos não queriam se arriscar a emprestar por temor do calote, o Fed se viu forçado a retomar a compra de papeis tóxicos ao ritmo de US$ 100 bilhões mensais, para tapar o furo no dique com o dedinho.
Apesar de toda a encenação de Trump sobre a “grande economia” propiciada por seus cortes de impostos para magnatas e corporações, o PIB voltara a se arrastar no ano passado a 2,3%, não fugindo da medíocre média da década anterior.
De acordo com o Departamento do Comércio, no primeiro trimestre o consumo caiu 7,6%, com um colapso nas compras de bens duráveis (-16%), principalmente automóveis. A retração nos serviços foi de 10%, refletindo o fechamento em massa de restaurantes, cinemas, teatros e arenas esportivas.
O investimento caiu 5,6%, com retração de mais de 15 pontos percentuais em bens de capital. As exportações recuaram 8,7% e as importações, 15%. Apenas os gastos públicos tiveram um pequeno crescimento, de 0,7 pontos percentuais.
Quanto ao que espera os EUA no segundo trimestre, os prognósticos são de que o retrocesso será na escala da Grande Depressão de 1930, com o fechamento de abril e o difícil processo de reabertura, que Trump tenta acelerar a partir de maio, jogando roleta russa com as vidas dos norte-americanos e fazendo da segunda onda da pandemia uma ameaça presente.
O slogan de campanha da reeleição – “Mantenha a America Grande de Novo”, destroçado pelo coronavírus – já foi substituído por Trump por “Reabra a America de Novo”, para cuja divulgação ele insuflou às ruas uma legião de fanáticos.
O pequeno problema para The Donald é que não há notícia de presidente reeleito – tirando o grande Franklyn Roosevelt, claro – com a economia em recessão.
Em reunião com executivos de empresas como a Toyota, sobre a “reabertura da economia”, Trump asseverou que “o próximo ano vai ser um ano tremendo e eu acho que o quarto trimestre vai ser fantástico”. “Eu posso sentir isso, eu posso sentir a demanda”. Se colar …
Em sua reunião mensal, o Fed manteve os juros básicos reais negativos e prometeu fazer de tudo para manter os monopólios à tona.
O bailout ao estilo Trump é de US$ 4 trilhões, a partir da alavancagem de US$ 500 bilhões, fornecidos pelo Tesouro como parte do pacote de março do Congresso.
Pacote que Trump teve que aceitar como contrapartida à salvação de bancos e monopólios, que aumentou temporariamente o valor do seguro-desemprego e concedeu cheque emergencial de US$ 1200, além de subsídios às pequenas empresas e verbas para a saúde e os estados.
Segundo o Post, até agora o Fed injetou US$ 2,3 trilhões na economia nas últimas seis semanas e analistas esperam que até o fim do ano esse valor atinja pelo menos o dobro – uma quantia “sem precedentes”.
“O mantra de Powell é fazer tudo que é preciso por tanto tempo quanto necessário”, asseverou ao Post a economista-chefe de uma consultoria, a Oxford Economics, Kathy Bostjancic. Como registra o jornal, “as rápidas intervenções do Fed são largamente creditadas por propiciar um rally do mercado de ações em abril e a volta de muitas partes do mercado de títulos ao normal depois do congelamento de março”. Eficácia mais difícil de achar, quando se trata de socorrer desempregados, as pessoas nas filas do sopão, as pequenas empresas, os hospitais e os estados sobrecarregados pela pandemia.