No último lançamento de seu livro “China: o socialismo do século XXI”, surgiu uma pergunta singela, relata o escritor e pesquisador Elias Jabbour, no Meia Noite em Pequim desta semana da TV Grabois: tem o crescimento [na China], tem ferrovia de alta velocidade, “mas o ser humano, como fica nessa história”?
E foi desse questionamento que surgiu o atual episódio do programa. “China e Covid Zero: A economia está à frente do ser humano?” Para mim – enfatiza Jabbour – está muito claro que na China as pessoas têm prioridade frente à economia.
O que pode ser depreendido do atual embate, em que a China que não abre mão da política de Covid Zero, enquanto o mundo inteiro está contra, sob a alegação de que atrasa a retomada do crescimento econômico mundial. (A China sozinha responde por 25% do crescimento econômico mundial).
É o que denotam manchetes como “Surto de Covid em Xangai é o novo teste para a China”. Esse surto está sendo acompanhado por quarentenas em regiões da cidade, a China não abre mão disso.
Jabbour sugere que se comparem os dados da Covid da China com os de outros países. China: 4.638 mortos. EUA: 983.000. Brasil: 661.000. Alemanha: 131.000. O que demonstra o compromisso fundamental da China de não deixar que o vírus se espalhe e diz muito sobre o lugar das pessoas no processo de desenvolvimento econômico
É assim que, quando a China revela ao mundo que estava surgindo um vírus mortal, o presidente Xi Jinping declara guerra ao diabo. Desde então a China, ao contrário dos Estados Unidos e do Brasil, eles se trancaram, eles colocaram 1,4 bilhão de quarentena em casa.
Há quem diga que a China só conseguiu porque é uma ditadura. Ditadura nenhuma coloca 1,4 bilhão de pessoas trancadas em casa durante 72 dias para poder conter e enfrentar o vírus, ressalta Jabbour.
O que só pode ocorrer em uma sociedade em que as pessoas confiam no Estado – ele acrescenta -, o que é o contrário do Brasil na mão do Bolsonaro, em que as pessoas acabam refletindo o estado de não civilização em que o país se tornou.
Outro aspecto dessa política chinesa é a amplitude da utilização da Inteligência Artificial para localizar de onde vêm os novos casos, e assim conseguir de forma científica rastrear a origem do novo surto.
Sem dúvida, até dentro da própria China tem muita gente reclamando, não aguentam mais. Existe oposição, o partido não é um bloco monolítico, há quem diga que o partido em Xangai é dominado por alas mais afeitas ao neoliberalismo, e portanto essas alas resistiram o máximo a essa política de Covid Zero.
Se tivesse prevalecido na China uma política semelhante à do Brasil, teriam morrido 7 milhões de chineses. Na China, qualquer lugar em que ocorram 15 casos de Covid, é automaticamente fechado.
Então tem de comparar o que a China fez e o que os países ocidentais fizeram. A China tomou a decisão de colocar as pessoas na frente da economia.
No dia em que de fato a história for restaurada no mundo, as pessoas vão saber o que realmente aconteceu. Não a história do vírus, mas de como os países lidaram com isso, como os governos lidaram, como a extrema direita lidou com isso, como os liberais lidaram, e como o socialismo lidou com isso. A história vai ser contada ainda.
Então, quando me perguntam sobre o lugar do ser humano na economia da China, eu digo que temos que olhar sobre a política que a China implementou diante da Covid-19, sublinha o pesquisador. Conseguiu juntar 450 mil voluntários, militantes do Partido Comunista, para ir a Wuhan enfrentar a morte. Simultaneamente foram 3 milhões de jovens recém graduados das cidades enviados ao campo para ajudar a combater a miséria.
Tudo pesado, a política de Covid Zero da China é mais uma prova da superioridade institucional do socialismo, finaliza Jabbour.
Elias Jabbour é professor dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Econômicas e em Relações Internacionais da UERJ.