“Os números da pandemia eram uma tragédia anunciada. Expliquei tudo isso ao presidente, mas ele preferiu o negacionismo”, revelou o ex-ministro, em entrevista à GloboNews, que reproduzimos abaixo
“Eu nunca disse em público sobre os cenários da pandemia. Este cenário de 180 mil era o que eu dizia ao presidente que, se ele continuasse com aquele negacionismo, e que , se a população não tivesse liderança, caminharíamos para o pior cenário”, afirmou o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, na sexta-feira (11), em entrevista à GloboNews.
“Os números da pandemia eram uma tragédia anunciada. Nós tínhamos que enfrentar isso unidos. O nosso adversário era o vírus. A insanidade matou milhares de pessoas. Se nós tivéssemos feito o dever de casa, ou seja comprado máscaras, capotes, respiradores, etc. Se nós testássemos, inclusive disparamos as compras de testes – agora eles deixaram os testes no almoxarifado – com certeza nós poderíamos ter um número abaixo dos três dígitos, que era a nossa meta”, acrescentou o ex-ministro.
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“Expliquei tudo isso ao presidente, mas ele preferiu o negacionismo, aquela história da cloroquina, aquilo era uma falácia que ia custar muito caro para a vida dos brasileiros, mas infelizmente ele [Bolsonaro] preferiu seguir por este caminho e dar ouvido àqueles que ele queria escutar”, prosseguiu Mandetta.
O ex-ministro defendeu o uso de todas as vacinas para proteger a população brasileira. “O governo já deveria ter adquirido as vacinas e as agulhas, o algodão, as luvas descartáveis, os isopores, o conjunto de logística, falam tanto em logística, mas, essa logística tinha que estar comprada e armazenada”, destacou.
“É preciso gente do ramo, gente que sabe fazer saúde pública, não dá mais para improvisar, não dá mais para empurrar com a barriga, chega, basta”, conclamou Mandetta.
“Deixem os técnicos trabalharem. Foco, disciplina e ciência é o que é necessário neste momento. Se nós entrarmos em maio e junho com esse vírus circulando, aí sim nós vamos ter a segunda onda, com um grande número de casos”, alertou.
“O presidente tirou o Ministério da Saúde de cena num momento grave da pandemia. O Ministério da Saúde se anulou a ponto de não querer publicar nem os números. Teve que receber uma ordem do Supremo para publicar os números para que a população pudesse saber o que estava acontecendo”, denunciou o ex-ministro.
“Neste momento em que um governador apostou na ciência e está trazendo uma possibilidade de uma solução, e o governo apostou em outra, fazer uma Medida Provisória para confiscar me parece um arbítrio muito grande”, destacou. Para Mandetta, “isso é mais um capítulo dessa crônica da tragédia anunciada que o país está vivendo”.
“Neste momento em que um governador apostou na ciência e está trazendo uma possibilidade de uma solução, e o governo apostou em outra, fazer uma Medida Provisória para confiscar me parece um arbítrio muito grande”
“Nós temos uma janela curta para vacinar. Temos março e abril. Está todo mundo fadigado, nós temos um Natal, nós temos um Ano Novo, temos janeiro e fevereiro com verão no Brasil, quando as pessoas vão para as praias. O presidente falou muita coisa errada. Quando falou da gripezinha, quando disse e ‘daí?’ para os mortos. É marica quem quer se proteger dentro do Brasil, macho é o cara que vai e coloca em risco seu pai e sua mãe em troco sabe-se lá do que”.
“É uma irresponsabilidade o presidente dizer que está acabando, não está acabando. O presidente está preso numa lógica do absurdo e nós estamos colhendo os frutos disso”, completou.