“E ainda admito a possibilidade de que Bolsonaro sequer esteja na disputa”, destacou o ex-governador
O ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes (PDT) avaliou, em entrevista ao jornal O Globo, no último domingo (18), que há uma boa chance de que Jair Bolsonaro não esteja nem na disputa de 2022.
“Não sei quem será o próximo presidente, mas estou seguro de que não vai ser Bolsonaro”, disse Ciro Gomes. “Isso tem importância grande porque descomprime o eleitor. Parte do eleitorado vota no PT porque não quer Bolsonaro, ou no Bolsonaro porque não quer o PT”, observou o ex-governador.
“À medida em que Bolsonaro passe a aparecer como derrotado nas pesquisas”, prosseguiu o presidenciável do PDT, “as pessoas vão tentar outra via. Trabalho por um cenário realista no qual Lula e eu estaremos no 2º turno, o que ofereceria ao povo debate de alto nível”. “E ainda admito a possibilidade de que Bolsonaro sequer esteja na disputa”, destacou.
Em outra entrevista, desta vez ao jornal A Tarde, Ciro fez a mesma avaliação do quadro político de 2022. “Todo mundo está achando que vai acontecer uma polarização, mas eu vou lhe antecipar aqui um palpite, porque é um mero palpite de quem tem muita experiência: a probabilidade de o Bolsonaro estar no segundo turno é quase nenhuma hoje. Porque está claro um desfazimento generalizado das diversas camadas onde o Bolsonaro se sustenta e foi eleito. Até a ultradireita está começando a se aborrecer com a incapacidade dele de sustentar a agenda”, disse o ex-governador.
“Está claro um desfazimento generalizado das diversas camadas onde o Bolsonaro se sustenta e foi eleito”
“Quem criou essa crise foi o PT. Foi o Lula, que impôs a Dilma, sem nenhuma experiência, que quebrou o país. O que o Bolsonaro fez foi agravar muito dramaticamente esse problema. Alguém pensando serenamente imagina que existiria um Bolsonaro se não fosse a imensa decepção que o PT produziu na economia, na corrupção e na política brasileira? Quem não for fanático sabe (…). O Lula devia sair da disputa eleitoral e se colocar com a responsabilidade de um ex-presidente que foi muito querido pelo povo em um discurso de unidade do país, reconciliação do Brasil. Não. É só oportunismo, é só molecagem, é só egoísmo, é só projeto pessoal. Então vamos enfrentá-lo. Vamos enfrentá-lo”, afirmou o pedetista.
ELEIÇÃO DE 2022 SERÁ MAIS REFLEXIVA DO QUE PASSIONAL
Ciro Gomes disse que a eleição de 2022 “será mais reflexiva do que passional”. “O predominante em 2018 foi o antipetismo irracional. Quem interpretou de forma mais tosca conseguiu se eleger. Agora, não. O predominante vai ser a busca por soluções práticas e concretas. Antes, era a política contra a não política. Agora, a experiência terá mais relevância. Antes havia moralismo, por conta do escândalo moral do PT; agora é mais a questão econômica, emprego”, acrescentou o ex-governador.
“A história brasileira não é de normalidade”, disse Ciro. “Do Dutra para cá, só três presidentes eleitos terminaram o mandato. Qual a característica dos três? Governaram o país em expansão econômica e trabalharam até na conta do suborno para destruir o antagonismo. Bolsonaro administra a pior crise econômica, não tem imaginação e, quando não tem inimigo, cuida de criar. A economia está virando vinagre. O dólar desvaloriza no mundo inteiro, mas, no Brasil, aprecia”, denunciou.
“O dólar desvaloriza no mundo inteiro, mas, no Brasil, aprecia”
Sobre os possíveis candidatos de centro, entre eles Doria, Amoêdo, Eduardo Leite, Mandetta e Luciano Huck, Ciro avaliou que, pelo menos, na questão de defesa da democracia, está havendo diálogo. “O centro do colapso está na economia, emprego, dívida pública, sistema tributário. E há um conjunto de respostas diferentes nas cabeças das pessoas que você citou. Mas demos um sinal. De que somos capazes de, apesar das diferenças, achar um ponto em comum: a defesa da democracia”, observou Ciro Gomes.
O presidenciável falou sobre as articulações políticas. “Vou propor, assim que houver maturidade… Vou conversar com o PSDB, que hoje tem problema interno que não vou interferir. A esmagadora maioria acha inconveniente a candidatura do Doria. Falo isso porque tenho relação íntima com muitos no PSDB, como o Tasso”, afirmou.
VOU CHAMAR PARTIDOS COMO O PSDB PARA CONVERSAR
“Se o Doria insistir, vão lançar prévias com Eduardo Leite. O Eduardo Leite vencendo, o PSDB ficará mais flexível para compor. É remota a possibilidade de eu ter (como aliado) o PSDB, um partido que tem Fernando Henrique, que tem o governador de São Paulo… Conheço meu lugar, mas preciso sinalizar e vou chamar organicamente partidos como o PSDB para conversar”, acrescentou.
Ele disse que com o DEM “há conversa que já deu frutos”. “Com apoio do PDT, que indicou a vice, o candidato do ACM Neto, presidente do DEM, venceu a eleição no primeiro turno em Salvador. Com o PSD, fomos de apoio ao Kalil em BH e iremos apoiá-lo no ano que vem ao governo de Minas. A nossa tática, do PDT, é agrupar PSB, PV, Rede, como fizemos em muitas cidades em 2020, e expandir aliança para a centro-direita com o DEM e o PSD. Muitas dessas conversas são conduzidas pelo (presidente do PDT) Carlos Lupi, único que fala 100% por mim”, explicou.
“A minha vida inteira busquei posicionamento de centro-esquerda. E agora achei a minha casa, porque no PSDB tentei isso, mas a inflexão de Fernando Henrique me fez sair; no PSB busquei isso, e a inflexão do Eduardo Campos me fez sair. Já no PDT, que tem a educação como preocupação central, estou encontrando muito conforto”, explicou Ciro.