O governador de São Paulo, João Doria, classificou como “tristeza” e “atrocidade” as declarações dadas pelo presidente Jair Bolsonaro, que na noite de quinta-feira (25), durante transmissão semanal ao vivo, citou um suposto estudo alemão para contestar o uso de máscaras no combate à Covid-19.
“O presidente da República contestando o uso de máscaras para proteger vidas – seja baseado em qualquer informação, alemã, francesa, inglesa, portuguesa, da onde for – é de um absurdo atroz”, disse Doria durante entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, nesta sexta-feira (26). “É o retrato do negacionismo expresso na palavra de quem, como líder, deveria defender vidas e não atentar contra elas”, completou.
O questionamento do uso de máscaras realizado por Bolsonaro, com base em um questionário de internet realizado na Alemanha, também foi criticado pelo coordenador executivo do Centro de Contingência da Covid-19 no Estado, o médico João Gabbardo, que se disse incrédulo com as palavras do presidente.
“Se bem que, pensando bem, desde o início, todas as medidas que são recomendadas pelo Ministério da Saúde, de uma maneira geral, passam por um processo de desmoralização”, afirmou Gabbardo, que ocupou o cargo de secretário executivo do Ministério da Saúde durante a gestão de Luiz Henrique Mandetta e deixou a pasta na saída do ex-ministro.
RECLASSIFICAÇÃO
O governo de São Paulo anunciou a reclassificação da região da Grande São Paulo, que inclui a capital paulista, além das regiões de Campinas, Registro e Sorocaba, de volta à fase laranja da quarentena, que veta o funcionamento de bares e permite que restaurantes operem somente até às 20h.
A iniciativa visa impedir o aumento das ocupações de UTIs no estado, que já registra recorde de leitos sendo utilizados. Na quarta-feira, o governo já havia anunciado o aumento das restrições de circulação noturnas para impedir a realização de festas e aglomerações clandestinas.
Nesta sexta-feira (26), a cidade de São Paulo completou um ano de Covid-19 e registrou lotação recorde em hospitais privados e públicos da capital paulista.
Algumas prefeituras de cidades do ABC Paulista já tinham determinado medidas mais restritivas de circulação por conta do risco de colapso do sistema de saúde.
Araraquara, Bauru e Presidente Prudente, que já estavam na fase vermelha, registram taxa de ocupação de UTI acima de 90% e também seguem em sinal de alerta.
HOSPITAIS PRIVADOS LOTADOS
O estado de São Paulo também bateu recorde de internações nesta sexta-feira (26): são 6.846 pessoas internadas em UTI com Covid-19. Um boletim da Fiocruz divulgado na quinta-feira (25) mostra que a taxa de ocupação de leitos de UTI do SUS no país também está no pior cenário desde o início da pandemia.
O risco de colapso não acontece apenas nos hospitais públicos. O Hospital Beneficência Portuguesa tem 98% dos leitos de UTI ocupados. O Albert Einstein e o Emílio Ribas têm 100% de ocupação dos leitos de UTI e o Sírio-Libanês tem 97% de seus leitos ocupados na manhã desta sexta.
Em doze meses, nunca tantos pacientes foram internados com Covid-19 no Einstein como nesta quinta-feira, o hospital diagnosticou primeiro caso de coronavírus do país há um ano, no dia 26 de fevereiro de 2020. 91% dos hospitais do estado tiveram aumento de internações por Covid-19 nos últimos 10 dias.
Segundo informações da assessoria de imprensa do Hospital Albert Einstein, há fila de espera por leitos no hospital. Na quinta-feira, a unidade de saúde registrou recorde de admissões de pacientes com Covid-19 pelo pronto-atendimento. Dos 70 atendimentos que necessitaram de internação, 26 foram por Covid-19. Em doze meses, nunca tantos pacientes haviam sido internados via pronto-socorro por causa de Covid-19 em um mesmo dia no hospital.
No Hospital Emílio Ribas a situação é semelhante. Na quinta-feira (25), a taxa de ocupação de leitos de UTI é de 100%, sendo que mais de 95% são de pacientes com Covid-19, de acordo com o infectologista do Instituto Emílio Ribas, Jaques Sztajnbok.
“Já atingimos 100%, ou seja, o paciente que chegasse lá agora ia depender de alguma alta ou de um óbito para conseguir acessar algum leito de terapia intensiva. Pelo que temos visto, essa pressão hospitalar, seja por leito de internação/enfermaria, seja por leito de terapia intensiva, ela vem aumentando em todo o estado. Isso é uma realidade para todo o país. Nós temos que olhar para esse problema e evitar que nós atinjamos o ponto crítico de saturação completa das unidades, a partir do qual nós temos uma possibilidade enorme de instalar o caos, semelhante ao que aconteceu em Manaus”, afirmou.
Já o Hospital Santa Catarina – Paulista informou também nesta sexta-feira (26) que está com uma taxa de ocupação geral de 85% dos leitos e que nas últimas semanas observou um aumento gradativo de pacientes com Covid-19. Neste momento, a unidade tem 77 pacientes com a doença internados na Instituição. O hospital possui ao todo 310 leitos, sendo 79 de UTIs adultos e 16 UTIs pediátricas. Do número total de leitos, 25% estão destinados no momento para Covid-19.
O Samaritano Higienópolis informou nesta sexta-feira que a unidade opera com capacidade de atendimento total e está monitorando o aumento de casos diariamente para adoção de novas medidas para ajustar a operação do atendimento hospitalar.
Uma pesquisa realizada pelo Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindHosp) com amostra de 80 hospitais da rede privada apurou que 76% dos hospitais privados no estado de São Paulo têm ocupação que varia de 70% a 100% dos leitos clínicos.
A pesquisa também revelou que 91% dos hospitais entrevistados tiveram aumento de internações por Covid-19 nos últimos 10 dias. Na pesquisa anterior, realizada há 15 dias, 53% dos hospitais responderam que tiveram aumentos das internações por Covid-19.