A vacina tinha sido anunciada em março pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. “A verba permitiria a produção nacional rápida e com logística melhor para imunizar a população”, lembrou o parlamentar
O deputado Renildo Calheiros, líder do PCdoB na Câmara, denunciou, no sábado (24), através de suas redes sociais, o corte de verba imposto por Jair Bolsonaro à vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela USP de Ribeirão Preto. “Absurdo! O presidente Jair Bolsonaro vetou R$ 200 milhões p/ o desenvolvimento da vacina contra covid-19 “100% brasileira” anunciada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação”, disse o deputado.
“A verba permitiria a produção nacional rápida e com logística melhor para imunizar a população”, lembrou o parlamentar. A vacina tinha sido anunciada em março pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O corte nos recursos, que foi concretizado na sexta-feira (23), vem um dia após o presidente convidar o ministro Marcos Pontes para sua transmissão semanal nas redes sociais para falar sobre a vacina.
“Marcão, vamos lá. Como é que ‘tá’ a nossa vacina brasileira? Essa é 100% brasileira, não é aquela ‘mandrake’ de São Paulo, não né”, perguntou Bolsonaro a Pontes na quinta-feira (23), durante transmissão na internet, em referência à Butanvac. A tecnologia do imunizante criticado por Bolsonaro foi apresentada pelo Butantan e pelo governador João Doria (PSDB) como sendo 100% nacional, mas, na verdade, ela foi quase totalmente desenvolvida pelo Butantan. Um dos componentes da vacina foi desenvolvida nos EUA e, numa rara colaboração de compartilhamento de patentes, foi repassado sem custos para o instituto paulista.
“O nosso desafio aqui é justamente o Orçamento. Esse custo é um investimento muito bom para o País. São R$ 30 milhões para essa fase 1 e 2, um ensaio clínico com 360 pacientes, e depois são mais R$ 310 milhões com a fase 3, com 25 mil pacientes. Tenho a esperança agora que isso entre no Orçamento”, disse o ministro, na transmissão. As fases 1, 2 e 3 envolvem testes em humanos, para avaliar a segurança e a eficácia do produto contra o vírus.
Logo após esse apelo de Pontes, o presidente falou brevemente sobre o Orçamento e, sem antecipar que o investimento na vacina seria vetado, avisou que “todo mundo” iria pagar a conta. “A peça orçamentária para os 23 ministérios é bastante pequena e é reduzida ano após ano. Tivemos um problema no Orçamento no corrente ano, então tem um corte previsto bastante grande no meu entender, pelo tamanho do orçamento, para todos os ministérios. Todo mundo vai pagar um pouco a conta disso aí”, disse Bolsonaro na live.
As pesquisas da vacina de Ribeirão, que agora serão inviabilizadas com o corte de verbas anunciado, foram festejadas pelo Palácio do Planalto em março, na chamada corrida das vacinas. Bolsonaro fez questão de divulgar que a vacina brasileira da USP de Ribeirão era apoiada pelo governo federal. O anúncio foi feito horas depois de o governo de São Paulo informar que pediria aval para iniciar testes clínicos da Butanvac, desenvolvida pelo Instituto Butantan, ligado ao governo paulista. Agora, o Planalto simplesmente corta R$ 200 milhões e inviabiliza o desenvolvimento da nova vacina.
A presidente da Farmacore, empresa de biotecnologia que desenvolveu o imunizante em parceria com a USP de Ribeirão Preto, Helena Faccioli, estimou, em entrevista ao Estadão em março, a necessidade de 9 a 12 meses para os testes clínicos, o que indicaria que o imunizante só deveria estar disponível ao público no ano que vem. Naquela época, ela também disse ter recebido do Ministério da Ciência garantia de que teria recursos federais para as fases 1 e 2 dos testes. Com os cortes anunciados agora, o projeto sofrerá novos atrasos.