![](https://horadopovo.com.br/wp-content/uploads/2021/07/maxresdefault-1.jpg)
“Na verdade é a proposta para a construção de uma frente ampla para a luta de ideais”, disse ao HP o ex-constituinte e destacado lutador pela democracia no país
Foi lançado no último dia 7 de julho o livro “Reconstruir a Democracia”, pela Editora Anita Garibaldi. O organizador a obra é o ex-deputado constituinte Aldo Arantes, que falou ao HP sobre a importância da discussão da democracia num momento grave como este em que Jair Bolsonaro a ameaça todos os dias.
“O livro Reconstruir a Democracia, união de amplas forças políticas e sociais para a luta ideológica é muito mais do que um livro. Na verdade é a proposta para a construção de uma frente ampla para a luta de ideais”, disse Aldo.
Ele explicou que a iniciativa partiu da ADJD (Associação de Advogados pela Democracia Justiça e Cidadania) que construiu um grupo interdisciplinar no qual participam professores, advogados, psicólogos sociais, etc, segundo ele, com dois objetivos: “primeiro conhecer melhor como foi a guerra cultural da extrema-direita e depois unir amplas forças políticas e sociais para mudarmos o atual momento vivido pelo Brasil”.
![](https://horadopovo.com.br/wp-content/uploads/2021/07/as.jpg)
LUTA DE IDEIAS
“Porque na verdade, prossegue Aldo, “Gramsci define com muita clareza na sua obra que num país como a Rússia czarista, um país autocrático, a conquista do poder, as modificações da sociedade exigiam um confronto direto, mas Gramsci destaca que nas condições do capitalismo e nos dias atuais, com os avanços da tecnologia, mais ainda, foram criados mecanismos de controle ideológico. E que, portanto, a luta ideológica precede e contribui com a luta política”, observa.
Aldo Arantes acrescenta que “a constatação que fizemos é de que os setores democráticos e a esquerda subestimaram essa dimensão da luta e a direita se apropriou com muita determinação dessa questão, com muito recurso, tanto assim que Olavo de Carvalho fala o tempo todo no Gramsci e nós progressistas e de esquerda subestimamos essa frente de luta”.
![](https://horadopovo.com.br/wp-content/uploads/2021/07/Livro.png)
A primeira parte do livro, segundo Aldo, “faz um diagnostico da guerra cultural, mostrando exatamente que Steve Bannon procurou adaptar a experiência que o setor comercial utilizava as redes sociais e os logarítmos para identificar preferências e vontades para vender produtos, transportando tudo isso depois para a política”.
“Ele fez isso para exatamente vender determinados candidatos, determinadas ideias utilizando das redes sociais e procurando identificar essas correntes, procurando trabalhá-las de forma diferenciada, procurando atingir setores de acordo com suas tendências e, com isso, conseguiu ter importantes vitórias na Inglaterra, nos, nos EUA e também no Brasil com o bolsonarismo”, apontou o organizador do livro.
EXTREMA-DIREITA SE APODEROU DE INSTRUMENTOS PARA ATACAR A DEMOCRACIA
Aldo destacou que a obra “é uma reflexão, um estudo dessas diversas dimensões e da trágica consequência que essa guerra cultural trouxe para o mundo e para o Brasil. É claro que tudo isso está no contexto do avanço da direita no Brasil, mas que a guerra cultural contribuiu para essa consolidação”.
“Então, a partir desse diagnóstico, nós formulamos uma proposta que parte do pressuposto de que é necessário, assim como nós defendemos a frente ampla do ponto de vista político, e aqui cabe diferenciar a frente ampla política da frente ampla eleitoral, não necessariamente uma coisa corresponde à outra, mas a construção da frente ampla política cria as condições para um bom relacionamento político, de respeito mútuo entre as forças que combatem o bolsonarismo”, defendeu.
O ex-constituinte argumentou que isso é necessário “para que, num segundo turno, essas forças possam estar unidas em torno de um projeto eleitoral”. “É provável que essas forças tenham candidatos diferentes no primeiro turno, mas é necessário que elas se unam, e, para isso, é necessário que se criem essas boas relações entre as diversas forças”, argumentou.
“Mas o que fica claro”, prosseguiu Aldo, “é que é necessário também uma frente ampla no terreno da luta de ideias. É isso o que nós propomos. Essa luta é muito importante, ela é relevante e que as forças progressistas, democráticas e as forças de esquerda isoladamente não conseguem fazer face, é necessário, portanto, unificar esforços”.
RECONSTRUIR A SOCIEDADE
“O objetivo é reconquistar a democracia para que, a partir daí, nós possamos reconstruir a sociedade brasileira”, afirmou Aldo. “Fazer as reformas estruturais que a sociedade brasileira exige, a reforma política, a democratização dos meios de comunicação, reforma agrária, enfim, um conjunto de questões. Mas essas questões devem ser projetadas para um momento futuro porque neste momento o que se trata é de reconstruir a democracia”, prosseguiu.
Arantes afirmou que “o programa se baseou a partir de fatos concretos, da prática, da política de Bolsonaro na pandemia, na política econômica, as políticas sociais, a questão do meio ambiente, a questão da soberania nacional, a falsidade de Bolsonaro de dizer que combate à corrupção estar envolvido com uma política reacionária e corrupta. Essa história de que Bolsonaro era contra a corrupção e agora está envolvido com denúncias de corrupção”.
O autor destacou também a questão democrática. “Nós acompanhamos todas as ameaças, o tempo todo de ruptura institucional. É claro que nós achamos que a ruptura institucional clássica, com golpe militar é difícil, não é impossível, mas é difícil. Mas é claro que está colocado na ordem do dia a possibilidade de uma articulação e o Bolsonaro fala isso o tempo todo”, assinalou o ex-deputado, que teve uma atuação destacada na luta contra a ditadura.
SITUAÇÃO DELICADA
“Articulação de setores das FFAA, de setores ligados às PMs, de grupos armados, por isso exatamente Bolsonaro estimulou a compra e a venda de armas. Então, tudo isso pode configurar uma situação delicada. A reposta para tudo isso é exatamente isolar o Bolsonaro, fazer a luta de ideias, com o objetivo de ganhar setores que foram ganhos pelo bolsonarismo”, argumentou.
Segundo Aldo, “para ganhar de volta esses setores que nós perdemos é necessário entender os motivos pelos quais essas pessoas foram ganhas. Por outro lado é necessário estabelecer um diálogo, e o diálogo parte do pressuposto de que você tem que entender as razões que levaram a pessoa a tomar determinadas posições. Num processo de diálogo e apresentação de fatos concretos que desnudam a realidade que nós estamos vivendo para que possamos alterar essa situação”.
Aldo Arantes disse que o livro será apresentado às fundações partidárias “como um subsídio” para discussões. “Na apresentação, feita pelo Pablo Gentile, uma das pessoas mais destacadas hoje no Ministério da Educação da Argentina, ele levantou até a possibilidade que este livro fosse traduzido para o espanhol para que esta questão tomasse também a dimensão de um debate na América Latina”, contou Aldo. “Achamos importante porque os problemas que ocorrem no Brasil ocorrem também em outros países da América Latina”, completou.
SÉRGIO CRUZ
Segue abaixo o comentário do jornalista Osvaldo Bertolino, na apresentação do livro, feito pela Editora Anita Garibaldi.
Osvaldo Bertolino é um dos autores da obra, junto com Carol Proner, Enoque Feitosa, Everton Rodrigues, Fabiane Balvedi, João Cezar de Castro Rocha, João Paulo Santos, Lorena Freitas, Lúcio Flávio Dias, Mamede Said, Ana Bock, Paulo Maldos, Renata Mieli e Sidarta Ribeiro.
Um livro com muitas luzes
A máxima de Karl Marx de que os filósofos interpretam o mundo de maneiras diferentes, mas a questão é transformá-lo, está presente nessa obra. A iniciativa de Aldo Arantes de reunir pensadores e iluminar caminhos para mudanças no Brasil interage com essa premissa. O livro enfeixa ideias com o poder de mostrar ao leitor horizontes de superação dessa fase obscurantista da história brasileira, uma fixação fanática contra os ideais da civilização.
É uma resposta vigorosa à atmosfera de fobia às ideias progressistas, fomentada cotidianamente por um governo antagônico aos princípios democráticos, agindo como o elemento principal da destruição de valores constituídos ao longo da história como alicerce do progresso social. Ergue barreiras para conter a avalanche de retrocessos históricos, lançando luzes sobre realidades manipuladas pela ideologia da extrema direita.
A obra reúne inteligências que estão entre as mais refletidas, registrando ideias condizentes com a exigência da atualidade, distante de veleidades diletantes e livrescas. Conceitos da civilização percorrem os textos, instando reflexões à base do raciocínio de Baruch Espinoza – escrupulosamente, não rir, não chorar, nem detestar as ações humanas, mas entendê-las.
Esse conjunto de formulações dá ao leitor uma proposta de ações balizadas pelo acúmulo teórico traduzido em luzes na forma de palavras. A leitura reflexiva é um poderoso instrumento para suplantar óbices à compreensão científica e ao combate à carga irracional de ódio da extrema-direita. Esse é um importante ponto de partida.
Galileu Galileu, desafiado em seu pendor científico e acossado pelos aristotélicos das universidades, respondeu que, para eles, filosofar não era outra coisa senão folhear os textos de Aristóteles, onde seriam encontradas todas as soluções para todos os problemas, Da mesma forma, o revolucionário francês Saint-Just, que ficou conhecido pela publicação do livro O espírito da Revolução e da Constituição da França, dizia: “Talvez nos leve a força das coisas a resultados que não imaginávamos. ”
Trocando em miúdos, o que Galileu e Saint-Just disseram é que para compreender a realidade é preciso pensar a realidade. No fogo da luta política, é compreensível a tendência à anulação de nuances e a simplificações de complexidades. Só a luta de ideias e o esforço teórico podem responder a essa demanda. Em resumo, por tudo esse livro precisa ser lido. Por sua originalidade, pela consistência dos seus artigos, porque preenche uma das lacunas do pensamento progressista brasileiro.
Por Osvaldo Bertolino
Jornalista, escritor e historiador
Adquira aqui o livro