Epidemiologistas condenam postura do governo e consideram que exigência do termo para quem vai tomar a vacina é sabotagem à imunização dos brasileiros
Jair Bolsonaro anunciou que vai exigir um termo de responsabilidade de todas as pessoas que forem tomar vacina contra a Covid-19. Ele disse isso a apoiadores em frente ao Palácio da alvorada, na segunda-feira (14).
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) criticou a decisão e disse que “literalmente o presidente está ao lado do vírus”. “Exigir o termo de responsabilidade é não saber como funciona a Anvisa e o Sistema de Saúde. Com isso, Bolsonaro desestimula a vacinação e trabalha a favor do coronavírus”, denunciou o parlamentar. A senadora Eliziane Gama (Cidadania- MA) também foi na mesma direção e garantiu que o Congresso vai derrubar essa exigência.
“Não é obrigatória. Vocês vão ter que assinar o termo de responsabilidade, se quiserem tomar. A Pfizer é bem clara no contrato: “Não nos responsabilizamos por efeito colateral’. Tem gente que quer tomar, então toma”, disse Bolsonaro.
“A responsabilidade é sua. Para quem está bem fisicamente, não tem que ter muita preocupação. A preocupação é o idoso, quem tem doença”, acrescentou Bolsonaro. Ele deverá acrescentar a absurda exigência na mesma Medida Provisória que libera os recursos para a compra das vacinas.
Bolsonaro ainda usou a Bíblia para criticar a ciência e estimular o negacionismo entre os brasileiros. “Tem uma passagem bíblica, Provérbios 24:10. ‘Se tu te mostrares fraco na hora da agonia, tua força é pequena’. Tem que encarar, pô! Tem que lutar”, afirmou.
A exigência do termo foi considerada uma demonstração de ignorância do presidente sobre o significado de uma campanha de vacinação. A vacina autorizada pela Anvisa tem total garantia de segurança. Isso é um pré-requisito básico para a sua aprovação. Não há cabimento na exigência de um termo de responsabilidade para o seu uso. A epidemiologista Ethel Maciel criticou a medida. “Termo de responsabilidade não faz sentido e gera suspeição”, denunciou.
“Precisamos estabelecer onde as pessoas devem ir caso ela apresente algum sinal ou sintoma [após a vacinação]. Precisamos estabelecer e deixar de forma bem transparente para a população, onde, como e quando a pessoa deve procurar um serviço de saúde se ela apresentar alguma reação à vacina. Esse termo de responsabilidade não faz sentido. Cria uma barreira para que as pessoas possam ir se vacinar; cria uma suspeita no momento que a gente precisa dar segurança às pessoas. A Anvisa só vai aprovar um produto que seja seguro e eficaz”, disse a epidemiologista.
Outra epidemiologista, Carla Domingues, também foi contundente na crítica à fala do presidente. “Ao invés de ir para televisão, ir para mídia para fazer uma campanha de esclarecimento, da importância da vacinação, ele coloca que a vacina não é importante, que a vacina vai fazer mal a saúde e que a população não deve se vacinar”, disse ela.
“Nós estamos falando de uma vacina que já vai ter um registro da Anvisa, que terminou a fase três, que já mostrou que ela é uma vacina segura. Portanto, não se justifica fazer isso. Qual é o objetivo de fazer um termo desse? Isso vai inviabilizar qualquer campanha de vacinação”, destacou.
O advogado e diretor-executivo do Instituto Questão de Ciência (IQC), Paulo Almeida, disse que “é extremamente infeliz e irresponsável essa fala do presidente quanto a uma medida provisória que vai exigir de indivíduos que tenham interesse em se vacinar contra a Covid assinatura de um termo de responsabilidade”.
Ministros do Supremo lembraram que vacinas autorizadas no Brasil são aplicadas sem a exigência do termo. “Parece mais um medida para gerar polêmica e fugir da sua responsabilidade como dirigente do país”, afirmou um integrante da Corte.
Bolsonaro está completamente isolado no mundo. Líderes da maioria dos países estão empenhados em iniciar o mais rapidamente possível a vacinação de suas populações. Ex-presidentes dos EUA, como Barack Obama, George W. Bush e Bill Clinton, já se prontificaram a promover a vacinação nos Estados Unidos.
As vacinas são a aposta da ciência para que mais vidas não sejam ceifadas pelo novo coronavírus, que já matou cerca de 1,6 milhão de pessoas no mundo, sendo mais de 181 mil somente no Brasil.
O Instituto Butantan, de São Paulo, maior fornecedor de vacinas ao governo federal, já está produzindo um milhão de doses por dia da CoronaVac, a vacina contra a Covid-19.