“O que importa para a Usiminas é o lucro, não a vida do trabalhador”, afirma o Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga sobre explosão e mais dois acidentes em apenas cinco dias
Com três acidentes graves em menos de uma semana na Usiminas de Ipatinga, no Vale do Aço em Minas Gerais, o Ministério Público do Trabalho (MPT) abriu dois inquéritos civis para apurar negligência nas normas de segurança do trabalho. Para o Sindicato dos Metalúrgicos, “o que importa para Usiminas é o lucro, não a vida do trabalhador”.
A Usiminas foi a primeira estatal a ser privatizada, em 1991, ainda no governo Fernando Collor, processo seguido de demissões em massa, e teve uma semana preocupante: em cinco dias um trabalhador morreu na usina, outro teve o braço amputado, e uma explosão levou 34 pessoas ao hospital, além de provocar pânico na cidade. Para além destes, um trabalhador morreu e outro teve ferimentos graves em 2016.
Segundo a publicação do Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga e Região (Sindipa), “tudo isso é parte de uma tragédia já anunciada, pois a Usiminas, em sua gana por mais lucros, tem colocado a vida dos trabalhadores e da população em risco com equipamentos de segurança sucateados, falta de manutenção na área e nenhuma proteção coletiva aos trabalhadores”.
Uma das questões que chama a atenção, é que os dois trabalhadores acidentados nestes cindo dias são terceirizados. Luis Fernando Pereira, de 38 anos, trabalhava na empresa Amoi e, no dia 8 de agosto, foi atingido por vazamento de gás que saiu da tubulação de retorno para o gasômetro (estrutura usada para armazenar o gás usado na alimentação da siderúrgica) enquanto trabalhava a uma altura aproximada de 8 metros. Ele ficou dependurado por mais de meia hora sem receber socorro e morreu no local.
Na sexta-feira houve a explosão no gasômetro, que causou tremores na cidade e deixou 34 feridos. Em seguida, nesta segunda-feira, 13, o eletricista Ricardo Alves Profiro, de 36 anos, contratado da terceirizada Inner, realizava manutenção no sistema e sofreu acidente na correia transportadora da sinterização e acabou com um dos braços amputado.
O presidente do Sindipa, Geraldo Magela Duarte, afirma que “a empresa não está treinando os funcionários, a empresa insiste em aumentar o lucro a todo o custo, aumentando a jornada de trabalho por meio de bancos de horas, e após a reforma trabalhista, terceirizando a quem oferece o menor preço”. “Podemos esperar mais acidentes”, acrescentou.
O procurador do Trabalho Adolfo Jacob, do MPT, conta que “estamos investigando os dois acidentes, a priori, como sendo provocados por causas comuns. Por enquanto, está sendo feita a investigação nesse sentido”.
Como os acidentes desta semana não estão isolados, o procurador aponta que “a nossa preocupação é que, de 2016 para cá, acidentes vêm ocorrendo. As investigações são para, além de identificar as causas específicas, verificar se está havendo descuido em relação à segurança do trabalho na empresa. Os acidentes individuais já são reprováveis e provocam enorme sofrimento à população, perda de pessoas jovens. Mas aquela explosão da sexta-feira pode indicar falhas sistêmicas na segurança. Esse é nosso temor maior”, disse.
No caso da explosão, o sindicato conta que ela aconteceu no horário do almoço, e que por isso ninguém se feriu mais gravemente – ou seja, foi pura sorte. “A explosão que aconteceu perto das 13 horas obrigou a Usiminas a evacuar várias áreas, mas logo depois do acidente, a direção da usina já obrigou os trabalhadores do turno das 15 horas a entrar para trabalhar. Ou seja, sem avaliar ainda de fato o tamanho da tragédia, os riscos que os trabalhadores e a população estão expostos, a Usiminas quer colocar a produção pra rodar a qualquer custo”.
Tudo isso comprova que os trabalhadores terceirizados têm condições mais precárias de trabalho, além de salários menores – e que iniciativas como o PL 4330, que libera a terceirização irrestrita, só servem para sucatear as condições de trabalho, podendo ser fatal.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e região, Weller Gonçalves, em solidariedade aos companheiros de Minas, denunciou: “Estudos comprovam que a maioria dos acidentes de trabalho acontece nas empresas terceirizadas que oferecem condições mais precárias. Pesquisas também revelam que inúmeros acidentes também ocorrem após jornadas extensas. Todas as situações liberadas pelas reformas aprovadas pelo governo. Ou seja, para garantir o lucro dos empresários, rifam a vida dos trabalhadores”.
ANA CLÁUDIA
Foi negligência mesmo.
Até comentei em post anterior.