O jornalista Juremir Machado, da Rádio Guaíba, de Porto Alegre, que pertence ao Grupo Record em Porto Alegre, pediu demissão do programa “Bom Dia” após o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) conceder entrevista com a condição de que apenas o âncora Rogério Mendelski falasse.
Durante vinte e cinco minutos de entrevista com Bolsonaro, Juremir precisou ficar em silêncio, apenas ouvindo. Ao longo de dez anos que participou do programa, Juremir sempre foi autorizado a fazer perguntas e comentar.
Além de Juremir, outros dois jornalistas, Jurandir Soares e Voltaire Porto, acompanharam os questionamentos e as declarações do presidenciável – mas foram impedidos de se manifestar.
Segundo Mendelski, ao longo da conversa por telefone, Bolsonaro não soube da presença de outros jornalistas no estúdio. No entanto, ele admitiu a existência de um pedido prévio.
“Só para avisar nossos ouvintes que o silêncio de vocês [demais jornalistas] foi uma condição do candidato, que queria conversar com o apresentador”, disse Rogério Mendelski, o âncora. “Podemos dizer que o candidato nos censurou?”, questionou Juremir. “Não, eu não diria isso”, respondeu Mendelski. “Por que nós não podíamos fazer perguntas?”, devolveu Juremir. “Eu achei humilhante e por isso estou saindo do programa. Foi um prazer trabalhar aqui dez anos”, disse Juremir, levantando-se e deixando o estúdio. A cena pôde ser vista também em vídeo, durante a transmissão pelo Facebook.
“Não podemos dizer nada. Foi uma condição do candidato. ‘Eu falo para você, Mendelski’. Foi o que ele disse”, falou o âncora ao vivo depois que o jornalista havia saído. O apresentador também falou que havia pedido desculpa aos demais participantes antes da entrevista. Nos bastidores, o clima é de constrangimento e apoio a Juremir.
“A regra do jogo é que quem está ali, pergunta, opina, foi isso que sempre aconteceu. Não envolve a rádio, nem o jornal, nem a empresa. Me senti numa situação desagradável de não poder perguntar. É o segundo turno de uma eleição, ele é o candidato favorito nas pesquisas. Tem perguntas para fazer, por que não pode fazer? A explicação foi ‘porque o candidato não quis’, me sinto censurado por ele. É um candidato que tem dificuldade de enfrentar o contraditório, de enfrentar perguntas que não possam ser do agrado dele”, falou Juremir, que continua trabalhando na empresa, onde mantém uma coluna diária no jornal “Correio do Povo” e participa de outros programas na Rádio Guaíba, como o “Esfera Pública”.
A Rádio Guaíba pertence à Rede Record, do bispo Edir Macedo, apoiador de Bolsonaro. No dia 13 de outubro, o site de notícias Intercept Brasil publicou o relato de um funcionário do portal R7, também de propriedade de Edir Macedo, que denuncia censura e direcionamento na cobertura das eleições para publicar apenas notícias que favoreçam o candidato do PSL.