Mesmo assim, ele chamou os criminosos bloqueios de estradas de “movimentos populares”
Após quase 48 horas, Jair Bolsonaro se pronunciou pela primeira vez desde sua derrota nas eleições, justificou os atos golpistas de seus apoiadores, falando que as eleições foram “injustas”, mas recuou e autorizou o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), a começar a organizar a transição de governo.
Disse o ministro da Casa Civil após o pronunciamento de Bolsonaro: “O presidente Jair Messias Bolsonaro me autorizou e, quando provocado, com base na lei, nós iniciaremos o processo de transição”. “A presidente do PT, em nome do presidente Lula, disse que na quinta-feira será formalizado o nome do vice-presidente Geraldo Alckmin. Aguardaremos que isso seja formalizado para cumprir a lei no nosso país”.
Sem mencionar a derrota para Lula, o discurso de Jair Bolsonaro foi sumário, durou cerca de três minutos e lido na presença de poucos aliados para a imprensa.
Segundo o candidato derrotado, “os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral”. Não há nada de popular nessas ações baderneiras que bloqueiam as estradas e não permitem idosos, pessoas com crianças, medicamentos, alimentos passarem. E ameaçam com o desabastecimento. Felizmente, cumprindo a Constituição, o ministro Alexandre de Moraes determinou que as polícias adotem todas as providências para liberar as estradas.
“As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população”, tentou remendar sua autorização para as arruaças.
Bolsonaro não disse qual caso de “injustiça” nas eleições justificaria a ação de seus apoiadores, que estão bloqueando estradas e avenidas em diversos Estados por não reconhecerem a derrota nas urnas.
Por seu lado, Ciro Nogueira telefonou para a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, para tratar da transição de governo. O ex-governador de São Paulo e futuro vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), vai ser o coordenador da equipe de Lula na transição.
Ainda no pronunciamento, Bolsonaro falou que sempre “agiu dentro da Constituição” e negou ser “antidemocrático”.
“Sempre fui rotulado como antidemocrático e, ao contrário dos meus acusadores, sempre joguei dentro das quatro linhas da Constituição. Nunca falei de controlar ou censurar as mídias e as redes sociais”, disse ele, que atacou as instituições e instigou golpe durante seu governo. Ele chegou a dizer que não seguiria mais decisões judiciais do Supremo Tribunal Federal (STF). Por diversas vezes seus aliados mais próximos falsificaram a Constituição, alegando que o artigo 142 chancelaria um golpe contra a própria Carta. O que é mentira.
Além do mais, elogiou a ditadura por diversas vezes e homenageou o torturador notório Brilhante Ustra.
Para não perder o costume, ele disparou fake news para os presentes e disse que superou “uma pandemia e as consequências de uma guerra”. A sua “superação” teve como resultado quase 700 mil brasileiros mortos, os quais ele não faz nenhuma menção e não presta nenhuma solidariedade às famílias das vítimas. Ele, que negou vacina e atacou quem tomou medidas sanitárias para proteger a população. Seu lema era que todos deveriam se contaminar.
E falou da guerra para tentar justificar a inoperância do seu “governo” que trouxe inflação, carestia, a volta da fome, com mais de 33 milhões de pessoas famintas, desmatamento da Amazônia, corrupção, destruição da economia e isolamento do país ante a comunidade internacional.
Foi um pronunciamento curto, mas como se trata de Bolsonaro não poderiam faltar as farsas como, por exemplo, ao dizer que “nunca falei em controlar ou censurar a mídia ou as redes sociais”. Os jornalistas, principalmente as jornalistas, que o digam quando sofreram diversas agressões de Bolsonaro, ao perguntarem ou publicarem coisas que não agradavam Jair.
Comparsas de Roberto Jefferson, seu aliado, que disparou 60 tiros de fuzil e jogou três granadas contra agentes da PF, recentemente agrediram com um soco o cinegrafista Rogério de Paula, da Rede Globo, em Comendador Levy Gasparian, no interior do Rio de Janeiro. Só para citar um exemplo do ódio bolsonarista contra a imprensa.
Para ele, a “direita surgiu de verdade no nosso país. Formamos diversas lideranças em nosso país, nosso sonho segue mais vivo do que nunca”.
Na última semana de campanha, Bolsonaro tentou usar um relatório fake sobre inserções de propaganda eleitoral em rádios do Nordeste para dizer que estava sendo prejudicado, mas o caso não foi aceito pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por falta de provas.
E tornou-se um tiro no pé, pois até seu aliado, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, confessou depois que se “arrependeu” de participar da farsa.
No último domingo (30), Jair Bolsonaro se tornou o primeiro presidente a disputar a reeleição e ser derrotado. O ex-presidente Lula foi eleito com 50,9% dos votos.
Bolsonaro passou quase dois dias completos sem dar declarações públicas, falando apenas com aliados próximos.
No domingo, após o resultado da eleição, seus auxiliares lhe procuraram para saber o que dizer, mas foram informados que o presidente tinha ido “dormir”.
Foi somente no discurso feito na tarde desta terça-feira (1) que ele agradeceu os votos que recebeu no segundo turno. Ele ainda não ligou para o candidato vitorioso, Lula, e não comentou sobre a derrota.
Em suma, em se tratando de Bolsonaro, um pronunciamento medíocre, do tamanho e da dimensão de sua rala estatura política e moral
O atual vice-presidente, Hamilton Mourão, já conversou com Geraldo Alckmin e o convidou para conhecer o Palácio do Jaburu. Os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também reconheceram a legitimidade da vitória de Lula.