O Instituto Butantan vai doar à Prefeitura do Rio de Janeiro 400 mil doses de vacina contra a gripe. A medida visa combater o surto da doença que afeta a cidade.
A doação das doses é uma resposta ao pedido feito pelo secretário de Saúde do Rio, Daniel Soranz. Em entrevista à Rede Globo, Soranz afirmou que buscou diretamente o Butantan após não obter retorno do Ministério da Saúde.
“Estou cobrando o Ministério da Saúde, não pode faltar vacina para gripe, ainda mais durante um surto”, disse ele, que tinha expectativa que os imunizantes poderiam ter sido entregues na última segunda, o que não aconteceu. “Infelizmente tive que fazer contato direto com o Instituto Butantan. A gente não pode esperar”, completou.
Nesta quarta-feira (8), durante entrevista coletiva do governo do estado de São Paulo, Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, reforçou a versão de Soranz e informou que as doses doadas chegarão ao Rio no máximo até a próxima sexta-feira (10).
“O secretário de Saúde do município, Daniel Soranz, me solicitou a informação das doses disponíveis de vacina da influenza, e eu disse que haveria a possibilidade, mas que também havia sido feita uma oferta ao Ministério da Saúde para que ele fornecesse doses ao Rio e a outras cidades com surto de influenza. O Daniel foi atrás dessa informação, mas não conseguiu, o Ministério da Saúde não se pronunciou e aí ele fez a solicitação ontem de uma possível doação”, disse Covas.
O deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) denunciou o descaso do governo federal com a falta de imunizantes para o Rio de Janeiro em seu Twitter. “O governo Bolsonaro deixa o Rio de Janeiro à própria sorte”, disse.
SURTO DE GRIPE
Pelo menos quatro cidades do Rio de Janeiro registraram um aumento de casos de síndrome gripal nas últimas três semanas, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES). Na capital carioca, 21 mil pessoas foram diagnosticadas com influenza H3N2 neste período.
Por falta de doses da vacina contra a doença, a capital suspendeu a imunização no último sábado (4). Em Duque de Caxias, na baixada fluminense, foi registrado um aumento de 300% nos atendimentos da rede municipal de saúde. Na Região Serrana, também foi identificada uma procura maior nos postos, como nas cidades de Nova Friburgo e Petrópolis.
Segundo a SES, em todo o estado, os atendimentos passaram de uma média de 189 atendimentos por dia, no período de 16 a 21 de novembro, para 1000 atendimentos por dia no período de 22 a 28 de novembro. O aumento corresponde a 429%, sendo maior o número de atendimentos em adultos.
O Ministério da Saúde informou que, em 2021, já foram aplicadas cerca de 67 milhões de doses da vacina contra a gripe em todo o País, até o momento, demonstrando uma redução. Esse quantitativo representa uma cobertura vacinal de 70,9%. Em 2019, a cobertura vacinal foi de 91% (54,4 milhões de pessoas); em 2020, 96% (50,7 milhões de pessoas).
O infectologista e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, Renato Kfouri, explicou que o vírus influenza tem um padrão de circulação sazonal definido, concentrando a maioria dos casos no inverno.
Porém, com a pandemia da Covid-19, o Brasil está enfrentando uma situação extemporânea do vírus da gripe.
“Houve um represamento de casos em função do distanciamento, do uso da máscara, e o predomínio ecológico do SARS- Cov-2, reprimiu a circulação de outros vírus, que ficaram represados nesse período sem nenhuma oportunidade de circulação. Agora a retomada, como a volta às aulas, volta presencial ao trabalho, ao transporte e aos estádios, tem promovido uma circulação fora do habitual desses vírus”.
Sobre a situação do Rio de Janeiro, Kfouri ressaltou que o vírus predominante, H3N2, está contido na vacina trivalentes que o SUS disponibiliza, assim como a H1N1. Ele vê com preocupação a baixa cobertura vacinal para a gripe durante a pandemia.
“O governo disponibilizou a vacinação para todos que quisessem porque os grupos prioritários não compareceram, e agora estamos vivenciando essa epidemia com baixas coberturas vacinais. A vacina, em geral, vence no fim do ano, e vamos receber as vacinas para 2022 já em março, ou seja, a vacina reformulada para as variantes que vão circular no próximo ano. Essa variante que está circulando agora parece um pouco diferente da que está nesta vacina. De qualquer forma, a recomendação é que se alguém do grupo de risco ainda não se vacinou, vacine-se.” alertou o médico.
De acordo com os últimos dados do Boletim Infogripe, além do Rio de Janeiro, mais 12 estados do país apresentaram aumento das notificações de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) provocada pelo vírus Influenza A (gripe).
A maior incidência foi verificada em todas as faixas etárias abaixo dos 60 anos. Os estados do Acre, Amazonas, Amapá, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Rondônia e São Paulo completam a lista de alerta divulgada pela Fiocruz.