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Décima tentativa de parar investigações alega que quando cometeu os crimes, Flávio era deputado e, por isso, teria direito a foro privilegiado. Decisão sai na quinta-feira
A lambança aprontada por Frederick Wassef, o “Anjo”, que mantinha Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, escondido em sua casa em Atibaia, atrapalhou os planos de Flávio de pedir pela décima vez, à Justiça, que as investigações de seus crimes sejam interrompidas.
Com as prisões preventivas de Queiroz e sua mulher Márcia Oliveira decretadas, o Ministério Público deverá apresentar denúncia o mais rapidamente possível. As evidências obtidas até agora são arrasadoras do envolvimento dos dois em atos que visavam obstruir a ação da Justiça no processo que investiga o esquema de lavagem de dinheiro comandado pelo atual senador Flávio Bolsonaro.
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Os novos advogados de Flávio, Luciana Pires e Rodrigo Roca, que substituíram Wassef no caso, entraram, na segunda-feira (22), com um pedido para que o senador seja ouvido no inquérito. O pedido é claramente uma medida protelatória já que o MP-RJ vem tentando há mais de um ano ouvir Flávio Bolsonaro e não consegue.
Havia uma tendência do Tribunal de Justiça do Rio de acolher, na sessão da próxima quinta-feira (25), um habeas corpus (HC) pedido pela defesa de Flávio em março, alegando que, como ele era deputado estadual na época dos crimes investigados, ele teria direito a foro privilegiado. Agora, com o escândalo da prisão de Queiroz na casa de Wassef, mudou radicalmente a tendência na Corte estadual.
Ao que tudo indica, o atual senador Flávio Bolsonaro deverá sofrer sua décima derrota na Justiça em sua tentativa desesperada de interromper as investigações de seus crimes. O juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, deverá continuar à frente do caso. Isso significa que todas as medidas tomadas até agora, inclusive a prisão de Fabrício Queiroz, para desassossego da família Bolsonaro, serão validadas e terão continuidade.
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Ironicamente a única vitória obtida por Flávio até agora foi a liminar pedida por Frederick Wassef ao STF para impedir que relatórios do Coaf fossem usados para embasar denúncias de ilícitos. A medida beneficiou o senador mas foi posteriormente derrubada.
Depois que conseguiu a liminar de Toffoli que paralisou por quase seis meses todas as investigações com base em relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), Frederick Wassef virou herói da família Bolsonaro. Ele já havia defendido Jair Bolsonaro no processo da deputada Maria do Rosário e no caso de Adélio Bispo, agora era oficializado como advogado de Flávio Bolsonaro e quase um porta-voz do governo.
Transitava com desenvoltura, e a qualquer hora, nos Palácios do Planalto e Alvorada. Dizia representar todos os assuntos da família Bolsonaro, falava como se fosse um conselheiro do presidente. Isso tudo ocorreu até a manhã de quinta-feira (18), quando a polícia prendeu Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, escondido em sua casa em Atibaia, interior de São Paulo.
Da noite para o dia, o amigo queridinho da família virou um verdadeiro gambá. Uma bomba prestes a explodir. Percebendo que a casa caíra, Wassef começou a mandar recados claro ao Planalto para evitar ser escanteado e jogado ao mar.
“O que eu estou dizendo é: se surgirem quaisquer coisa em meu desfavor, é uma armação, é uma fraude, é uma farsa. Por que estão fazendo isso? Se fizerem, se fizerem, eu sei que estão fazendo isso pra tentar me incriminar, pra tentar aprontar uma pra mim, porque todos estão convictos hoje de que o Fred virou o alvo. Se bater no Fred atinge o presidente, eu e o presidente viramos uma pessoa só, então todos estão empenhados em atingir minha vida, em destruir minha vida, minha imagem, minha reputação. Mas vão cair do cavalo, que eu nunca fiz nada de errado na vida. Tá claro isso?”, disse ele à CNN, no sábado (22).
Depois, ele acrescentou: “eu sei tudo o que ocorre na família Bolsonaro e vou falar na hora certa. Toda a verdade será conhecida, podem esperar”.
Não adiantou. No domingo, ele foi escanteado. Flávio escreveu numa rede social: “a lealdade e a competência do advogado Frederick Wassef são ímpares e insubstituíveis. Contudo, por decisão dele e contra a minha vontade, acreditando que está sendo usado para prejudicar a mim e ao Presidente Bolsonaro, deixa a causa mesmo ciente de que nada fez de errado”.
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A mensagem fez lembrar a pergunta que Bolsonaro fez ao ex-diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, na véspera de sua demissão: “você aceita que seja a pedido?” Pelo que parece, foi o que Flávio fez com Wassef. Disse no Twitter que Wassef saiu por que quis. O fato é que Frederick Wassef, o “anjo”, virou uma ameaça para a família Bolsonaro e foi descartado.
É claro que ninguém em sã consciência vai acreditar que o advogado estava escondendo Queiroz em sua casa há um ano sem o conhecimento de Jair Bolsonaro e de seu filho, Flávio.
Tanto isso é verdade que o presidente sabia do esconderijo de Queiroz. Ele disse, em sua live, na noite de quinta-feira (18), mesmo dia da prisão, que Fabrício Queiroz estava em Atibaia porque ele precisava fazer tratamento médico.
Além de criar a narrativa do tratamento para explicar a presença dele em Atibaia, Bolsonaro também acusou o golpe ao reclamar da prisão, tentando explicar que ele não estava foragido, que a prisão tinha sido “espetaculosa” e que o que fizeram foi “transformar o Queiroz no maior bandido do planeta”.
Já fora do jogo, Wassef falou para a reportagem da SBT na segunda-feira (22) e admitiu que escondeu Queiroz, mas, inventou outra versão: que foi “por questões humanitárias”.
“O que eu tenho para dizer é o seguinte: jamais escondi Fabrício Queiroz”, disse Wassef. “Ele estar lá não é nenhum crime, nenhum ilícito, não é obstrução de justiça, não há nenhuma irregularidade”. Questionado se foi por uma questão humanitária que ele manteve o ex-assessor em sua casa, o advogado afirmou que sim. “Também foi uma questão humanitária. Porque é uma pessoa que está abandonada, uma pessoa sem recursos financeiros, uma pessoa com problemas de saúde e que o local era perto”, argumentou. Ele negou que fosse o anjo da troca de mensagens entre Queiroz e Márcia Oliveira.
Algumas questões reforçam que a presença de Queiroz na casa de Wassef fazia parte de um plano arquitetado para burlar as autoridades.
A colocação da placa caracterizando a casa como escritório de advocacia foi colocada, segundo os vizinhos, na mesma época em que Fabrício Queiroz passou a residir no local. Segundo, o imóvel podia ser tudo menos um escritório de advocacia. Nenhum movimento era visto na casa, a não ser as festas e churrascos promovidos por Queiroz e seu filho. Em mensagens trocadas por Márcia e Queiroz com amigos, observou-se que o “anjo” orientava o casal a desligar os telefones celulares quando entrassem em Atibaia.
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Outro fato que torna ainda mais perigoso para a família Bolsonaro um desentendimento com Frederick Wassef é que ele participou diretamente da articulação com o miliciano Adriano da Nóbrega, que na época era foragido, e que viria a morrer dois meses após uma reunião de emissários da família Bolsonaro com a mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães. Ela estava escondida em Minas por orientação de Queiroz.
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O anjo esteve reunido, como se pode constatar nas mensagens de Márcia para Queiroz, com o próprio Queiroz e o advogado Luis Gustavo Boto Maia, em 2 de dezembro de 2019, na casa de Atibaia. (V. Hora do Povo: Queiroz abastecia contas de Flávio e foi se esconder na casa do “Anjo”, em Atibaia).
Dois dias depois, Boto Maia estava no interior de Minas, no esconderijo da mãe de Adriano, junto com Márcia, para discutir uma proposta para Adriano. Não se sabe o conteúdo da proposta, mas o que se sabe é que o advogado que defende Queiroz é o mesmo que defendia Adriano antes de sua morte.
Boto Maia defendia Flávio e participou diretamente da fraude na folha de ponto da Assembleia Legislativa do Rio. O caso envolveu a funcionária fantasma Luiza Paes que foi levada à Alerj em 2019 para assinar folha de ponto de 2017. O advogado foi demitido este semana da Alerj.
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