O mundo inteiro está vacinando crianças. Por aqui, o ministro da Saúde resolveu entrar para o macabro movimento antivacina, liderado pelo “capitão cloroquina” e seus seguidores
A decisão do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, de programar uma inusitada consulta pública sobre a vacinação infantil, dizer depois que não há emergência nas mortes das crianças e agora anunciar que vai exigir receita médica e termo de consentimento para a vacinação desta faixa etária não parece ser um caso só de negligência em saúde pública mas sim de homicídio premeditado.
Só no ano passado morreram 1.207 crianças de Covid-19 no Brasil, segundo levantamento feito pela Fiocruz. Quase metade deste número foi de menores de 2 anos. 55% eram de crianças com idade entre 3 a 18 anos. Esta parcela da população está totalmente vulnerável às novas variantes do vírus, já que não foi imunizada e pode ser infectada. O mundo inteiro está vacinando suas crianças.
Por aqui, o ministro da Saúde resolveu entrar para o macabro movimento antivacina, liderado pelo “capitão cloroquina” e seus seguidores. Por interesses puramente eleitorais, Queiroga decidiu rasgar seu diploma de médico e está colocando em risco a vida das crianças. Ele se soma ao negacionismo obscurantista e à estupidez de Bolsonaro para obter o ridículo aval do “chefe” para um mandato parlamentar qualquer.
Resultados preliminares de uma pesquisa da Fiocruz mostram que o país inteiro está contra a posição anticientífica do governo. Mais de 80% dos pais querem vacinar os filhos contra a Covid-19. Pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) tabulam mais de 15 mil formulários colhidos pela internet para entender qual é a percepção sobre a imunização infantil.
Já entre os que hesitam, o maior índice – 16% – foi observado entre os pais de crianças de zero a quatro anos, grupo que ainda não tem a vacina aprovada. No grupo com filhos entre 5 e 11 anos, a taxa é de 12%. Ela sobe para 14% entre os responsáveis por adolescentes acima dos 12 anos, que já têm imunizantes disponíveis nos postos de saúde.
O ministro da Saúde tentou justificar a negligência do governo com as crianças dizendo que a pressa é inimiga da perfeição. “Os óbitos em crianças (por covid-19) estão absolutamente dentro de um patamar que não implica em decisões emergenciais”, afirmou Marcelo Queiroga, nesta quinta-feira (23). A afirmação minimizando a importância das mortes infantis gerou revolta e, mais do que genocida, mostrou caráter infanticida deste governo.
Todos os especialistas estão alertando o governo para os riscos das crianças diante de novas variantes do coronavírus. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) já autorizou a imunização das crianças com a vacina da Pfizer. A Câmara Técnica que assessora o governo também já se posicionou pela vacinação. O próprio diretor da agência denunciou que seus servidores estão sendo ameaçados de forma cada vez mais violenta depois que aprovaram a vacinação e depois que Jair Bolsonaro os ameaçou publicamente.
“Entendo que o Ministério precisa apresentar à sociedade a justificativa do porquê de nós mantermos inalterada uma estatística macabra [de mortes de crianças]. (…) Essa vacina é usada no mundo inteiro. No dia de hoje, são mais de 7 milhões de doses aplicadas. (…) Então são perguntas que, na verdade, não dizem respeito ao regulador [Anvisa]. As perguntas que acabei de fazer são perguntas como cidadão”, afirmou Antônio Barra Torres, diretor da Anvisa.
Parlamentares estão entrando na Justiça contra a sabotagem do governo. O deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) acusa Bolsonaro de incitar ameaças contra servidores da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), que aprovou a vacina da Pfizer para crianças. O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), a deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) e o secretário de Educação do Rio de Janeiro, Renan Carneiro, questionam a recusa da inclusão de crianças entre 5 a 11 anos no programa de imunização contra o coronavírus.
O argumento de Vieira, Amaral e Carneiro é o de que, em caso de decisões baseadas em conhecimento científico e que demandam posicionamento técnico das autoridades sanitárias “não é razoável impor caráter populista às decisões administrativas”. “A competência para aprovação do uso de determinado imunizante cabe à Anvisa, e não à população em geral por meio de consulta pública, tampouco ao Presidente da República que não possui a expertise técnica fundamental para a tomada de decisão de tamanha importância”, frisam.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) também criticou a atitude do governo. “Enquanto o Governo Bolsonaro nega a ciência e faz campanha contra a vacinação de crianças dos 5 aos 11 anos contra a Covid-19, nossos pequenos, famílias e comunidade escolar seguem em risco”, observou. “Segundo levantamento do jornal O Globo com dados oficiais da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19, a cada dois dias uma criança morreu de COVID no Brasil. Foram 301 óbitos de indivíduos dessa faixa etária até o dia 6 de dezembro, o que, em 21 meses de pandemia, significa 14,3 mortes por mês”, denunciou a parlamentar.
O Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass) prepara uma reação à determinação do Ministério da Saúde de exigir prescrição médica para a vacinação contra a Covid-19 de crianças de 5 a 11 anos. O presidente do Conass, Carlos Lula, que também é o secretário de Saúde do Maranhão, realiza conversas com os pares nos estados na manhã desta sexta-feira (24) com o objetivo de divulgar uma manifestação. A ideia é que os 27 secretários chancelem o documento que deve ser elaborado pelo Conass.
Para o médico sanitarista e ex-diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) Gonzalo Vecina Neto a consulta pública do Ministério da Saúde sobre vacinação infantil confunde a população e não acrescenta informações técnicas ao tema.
Segundo a pasta, a consulta pública iria começar na quinta-feira (23). No entanto, durante toda a manhã de quinta o site com as informações ainda não estava disponível. “O que o ministro da saúde está fazendo é uma confusão, está confundindo a população brasileira a mando do nosso presidente”, disse o ex-diretor da Anvisa. O diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, disse em entrevista à CNN nesta quarta-feira (22) que imunizar as crianças contra a Covid-19 “se torna cada vez mais urgente” diante do avanço da variante Ômicron do coronavírus.