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A vereadora de São Miguel do Oeste (SC), Maria Tereza Capra (PT), que foi cassada na última sexta-feira (3) após condenar a saudação nazista realizada por bolsonaristas em frente a um quartel da cidade, recebeu ameaças contra a sua vida após a cassação na Câmara.
“Vou cassar sua vida depois, [xingamentos]. Você é tão feia que nem merece ser estuprada, tem que morrer de pancada você e sua família de merda”, eram o teor das mensagens.
Embora a ameaça tenha sido contra Maria Tereza, o e-mail foi recebido pela vereadora de Joinville Ana Lúcia Martins (PT), que manifestou apoio à colega de partido. Ana Lúcia registrou boletim de ocorrência e informou que os ataques partiram de um endereço eletrônico da Presidência da Câmara de Vereadores de São Miguel do Oeste. O presidente da Câmara, Vagner Passos (União), declarou que a informação não procede.
Maria Tereza entrou na mira de bolsonaristas em 2 de novembro, após Lula vencer as eleições. Naquele momento, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro que bloqueavam o trevo de acesso a São Miguel do Oeste apareceram em um vídeo com os braços esticados. A petista afirmou que parecia uma saudação nazista. O Ministério Público de Santa Catarina também suspeitou e abriu investigação, no final, aceitou o argumento de que os manifestantes queriam emanar energias positivas.
PROTEÇÃO POLICIAL
Enquanto a apuração ocorria, Maria Tereza precisou sair da cidade. Ela passou 90 dias refugiada em Porto Alegre e só voltou a São Miguel do Oeste acompanhada por agentes da Polícia Federal, para a sessão que cassou seu mandato. A vereadora foi incluída no Programa de Proteção dos Defensores de Direitos Humanos do governo federal. Mas a escolta não significa tranquilidade.
Maria Tereza afirma que em São Miguel do Oeste tem medo de ir à padaria, ao supermercado ou ao restaurante. A preocupação diz respeito a ela e seus familiares porque o e-mail tinha um tom muito agressivo.
“Não devia ter denunciado os patriotas por fazer a Saudação Romana diante do quartel, Maria Tereza. São Miguel do Oeste não é uma cidade nazista, é uma cidade NACIONAL-SOCIALISTA, mas você é burra demais para entender isso [xingamento].” Diz trecho da ameaça. Ela era a única vereadora de esquerda da cidade e sempre se envolveu em embates com os colegas de Câmara Municipal.
“Recebia ataque por conta do Lula (PT), mas coisa da política. Atacavam Lula, eu atacava Bolsonaro. Depois ficou questão pessoal”, diz Maria Tereza Capra (PT-SC), vereadora cassada.
A hostilidade escalou por causa do vídeo de 2 de novembro com vários militantes bolsonaristas de braços esticados. Influenciadores, políticos e jornalistas começaram a questionar se era uma saudação nazista. Maria Tereza ecoou a pergunta. Na mesma noite, a Câmara Municipal aprovou uma nota de repúdio, e ficou claro que seria aberto um processo de perda de mandato. As providências agradaram centenas de bolsonaristas que atenderem a uma convocação feita em grupos de WhatsApp e compareceram à sessão. Muitos deles participaram da manifestação em frente ao quartel que pedia intervenção militar, incluindo quatro vereadores.
A ex-vereadora diz que vai recorrer. Ela afirma que o presidente da comissão de cassação e o relator na Câmara estavam na manifestação com suposto gesto nazista. Também reclama que usaram seu questionamento sobre ser uma saudação nazista para insuflar a cidade e transformá-la numa inimiga de São Miguel do Oeste.
“Eles [vereadores], no afã de me cassar, colocaram como se eu tivesse acusado a cidade toda, e eu não acusei ninguém. A cidade não é nazista, a cidade não pode ser confundida com aquele grupo de pessoas”, complementa Maria Tereza.
O advogado da ex-vereadora está examinando a melhor forma de entrar com um recurso. Enquanto isso, Maria Tereza precisa resolver alguns dilemas. Advogada, ela tem escritório, carreira e uma filha na cidade. Além disso, considera um ultraje ser expulsa por ter orientação política diferente de pessoas que ameaçam usar a força para fazer sua vontade prevalecer. “Seus dias e os dias de sua família estão contados [xingamento]”, ameaçava outro trecho do e-mail.
A ex-vereadora encaminhou o e-mail para a polícia e aguarda orientações do programa de proteção. Mas ela não esconde que seu estado de espírito foi abalado. “É assustador”, finaliza.