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Em decisão tomada no último domingo (23), a Arquidiocese de Goiânia suspendeu temporariamente o direito do padre Robson de Oliveira de realizar celebrações. A arquidiocese definiu que o padre, que é investigado pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) por supostos desvios de doações de fiéis em valores que podem superar R$ 120 milhões, está proibido de qualquer ato de ministério sacerdotal, como a absolvição de pecados e pregação, assim como “participar, realizar e protagonizar programas de televisão, rádio ou internet”.
Segundo o decreto, o religioso está afastado de suas funções religiosas até janeiro de 2022. A nota sobre a revogação foi assinada pelo Arcebispo de Goiânia, Dom Washington Cruz, e pelo chanceler Dom Levi Bonatto e tem como justificativa “a necessidade de prevenir escândalos, garantir o curso da justiça e tutelar a fé, bem como investigar as acusações realizadas contra o padre Robson de Oliveira”.
O padre já havia se afastado da reitoria do Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, de Trindade (GO), e da presidência da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), entidade que recebe e administra os recursos recebidos em doação.
INVESTIGAÇÃO
Investigações conduzidas pelo MP-GO apontam que a Afipe, com sede em Trindade, conduzida pelo padre Robson movimentou R$ 2 bilhões em 10 anos. As diligências mostraram o recebimento de R$ 20 milhões em doações por mês e descobriram que parte dos recursos foi empregada na compra de fazendas e de uma casa de praia.
De acordo com a denúncia do MP, os pagamentos destinados das Afipes aos grupos de empresas e pessoas só nos últimos três anos, giram em torno de R$ 120 milhões.
Em setembro do ano passado, dois representantes do Vaticano estiveram em Trindade para investigar a Afipe. A movimentação financeira em larga escala chamou atenção da Cúpula da Igreja Católica. Fontes informaram em entrevista que a entidade continua em contato com representantes da igreja no Brasil, e pode aplicar punições a depender do desfecho do caso.
Na semana passada, o líder religioso foi alvo da Operação Vendilhões, que investiga o uso de pelo menos R$ 120 milhões para a compra de artigos de luxo. Acatando o pedido do MP, a juíza Placidina Pires, da Vara de Feitos Relativos a Organizações Criminosas e Lavagem de Capitais, determinou a busca e apreensão em 16 endereços ligados ao padre Robson, inclusive na TV Pai Eterno, que transmite missas lideradas por ele em todo o país. A magistrada não atendeu ao pedido de prisão do padre.
Durante apuração do caso, o MP-GO descobriu que a Afipe, responsável pela administração do Santuário Basílica de Trindade, negociava com empresas que tinham os mesmos donos e estavam localizadas no mesmo endereço da associação.
Entre as movimentações suspeitas com uso do dinheiro de fiéis está a compra de uma fazenda, em Abadiânia (GO), por R$ 6 milhões, e de uma casa de praia no litoral da Bahia, avaliada em R$ 2 milhões. Parte dos recursos recebidos seria para a construção de uma segunda basílica, obra orçada em R$ 100 milhões, que deveria ficar pronta em 2022, mas foi adiada para 2026.
As negociações envolveram as empresas WKS Empreendimentos Imobiliários, Via Maia Administradora de Bens, KD Administradora de Bens e Terra Nobre Administradora de Bens, que tinham as mesmas pessoas em seu quadro de sócios e todas se localizam em um prédio na Avenida Jamel Cecílio, em Goiânia. De acordo com o Ministério Público, a KD Administradoras de Bens recebeu dezenas de pagamentos da Afipe, por meio de imóveis. Em todas as negociações, a entidade ligada à igreja teve prejuízos.
Em uma das situações, a Afipe teria vendido uma residência por R$ 1,35 milhão, mas o local estava avaliado em R$ 2 milhões e chegou a ser hipotecado por R$ 7,35 milhões. A Fazenda Serenata e Monjolinho, em Abadiânia, teria sido comprada pelo valor de R$ 6,3 milhões, em 17 de março de 2016, e vendida, mais de três anos depois, para a empresa Terra Nobre, pelo mesmo valor. “Forte nesses elementos, os promotores de Justiça sustentaram a existência de indícios da prática de crimes de apropriação indébita, organização criminosa e lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores pelos investigados”, descreve parte do despacho que autorizou a operação.
O padre Robson, de 46 anos, tem bastante influência entre os católicos nas redes sociais. No Facebook, a página dele tem 3,9 milhões de seguidores.
Em um vídeo publicado na internet, Robson afirmou que se afastou do comando da entidade para colaborar com as investigações. “Sempre estive e continuo à disposição do Ministério Público. Por isso, esse meu pedido de afastamento vai me permitir colaborar com as apurações da melhor forma e com total transparência para que seja confirmado que toda doação que fazemos ao Pai Eterno, terços rezados, o dinheiro doado, tempo, carinho, trabalho empregado na evangelização, foi toda, repito, toda empregada na própria associação Afipe em favor da evangelização”, disse.
O sacerdote alega que vem passando por uma “provação”. “O meu caminho nessa missão evangelizadora nunca foi fácil. Desde o início, como você bem sabe, sempre carreguei muitas cruzes”, completou. O advogado Pedro Paulo Medeiros, que atua na defesa do padre, afirmou que os imóveis citados na denúncia do MP fazem parte das aplicações da Afipe, cujos lucros foram destinados à construção da nova Basílica, à compra da TV Pai Eterno e de rádios e à construção de igrejas