O Brasil registrou protestos em várias cidades, neste sábado (5), para pedir justiça pela morte do jovem congolês Moïse Kabagambe, de 24 anos.
O congolês foi espancando até a morte no último dia 24 em frente a um quiosque na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Três pessoas foram presas acusadas do crime.
No Rio de Janeiro, centenas de pessoas se reuniram em frente ao quiosque Tropicália, onde o assassinato aconteceu. De lá, os manifestantes seguiram em uma passeata pela orla.
Ao microfone, um manifestante negro puxou o grito “parem de nos matar”. Imigrantes africanos também participaram do protesto e encenaram o assassinato de Moïse, espancado com um taco de beisebol.
“Obrigada por vocês estarem aqui por Moïse, vamos continuar lutando. Só quero Justiça pelo meu filho”, disse a mãe de Moïse Mugenyi, Ivana Lay, presente no ato na Barra da Tijuca.
O advogado da família, Rodrigo Mondego, reclamou que ainda não teve acesso ao inquérito policial. “Tudo o que a gente teve acesso foi pela imprensa. Pelo que a gente viu até agora, existe a possibilidade real de haver mais pessoas envolvidas [no assassinato], além dos três que foram presos. Teve gente que ajudou a amarrar ele”, falou Mondego.
“Viemos para o Brasil para trabalhar, somar com o povo brasileiro. Não viemos para roubar, matar, mas sim para conquistar os nossos sonhos. Mas o sonho de Moïse foi interrompido”, lamentou Domingos Elicayas, representante da Comunidade Africana no Rio de Janeiro.
Em certo momento, um grupo com dezenas de imigrantes percorreu a Avenida Lúcio Costa cumprindo a tradição africana em momentos de luto. “É assim que nós da África choramos, com alegria e tristeza. O Moïse era uma pessoa muito alegre, e nós estamos aqui com muita força gritando e lamentando por ele. Ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém, independentemente de qualquer coisa. De certa forma, esta dança representa a alegria de Moïse”, declarou Lecticia Canda, imigrante da Angola.
Diretor da Frente Nacional Antirracista, Geraldo Henrique afirma que a entidade ‘vai enfrentar toda e qualquer injustiça contra o povo preto’, “O grande propósito deste ato é mostrar como o povo negro está unido para garantir nossa segurança e que iremos lutar quando houver racismo, xenofobia ou qualquer tipo de criminalidade que possa afetar a comunidade preta brasileira”.
SÃO PAULO
Em São Paulo, manifestantes se reuniram no Vão Livre do Masp, na Avenida Paulista. Por volta de 10h15, o ato chegou a ocupar três pistas da via.
Os manifestantes pedem “justiça” pela morte do congolês, recitam poesias africanas e conversam sobre as dificuldades que os imigrantes enfrentam ao chegarem ao Brasil, pedindo mais apoio do governo.
“Momento de barbaridade no nosso país. Infelizmente vivemos mais uma vez em uma situação como essa. Um país que era pra ser acolhedor. Um país que foi construído pelas mãos do povo preto. Nosso país foi construído pelos africanos e, infelizmente, mais um africano morre no nosso solo. Mais uma vez escorre no asfalto sangue do nosso povo africano”, afirmou Gabriel Oliveira, diretor da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES-SP).
O jovem estudante criticou ainda o aumento dos casos de racismo e violência após a eleição de Bolsonaro. “Infelizmente temos o maior racista do nosso país sentado na cadeira da Presidência, de onde incentiva e cria muitos e muitos grupos supremacistas brancos tentando matar o nosso povo. Nosso povo preto não tem mais liberdade de ir pra rua, nosso povo preto morre ao ir na padaria comprar um pão”.
“Nós erguemos esse país. O sangue preto está nesse país. E é com as nossas mentes que vamos revolucionar esse país. É com a nossa mente que a gente vai fazer a mudança. É com a nossa mente que a gente vai emancipar esse país e daqui pra frente eles que se segurem porque o povo preto está unido, povo preto está na rua e o povo preto que vai conquistar a liberdade desse país. Viva a África! Justiça! Justiça! Justiça!”, destacou Gabriel.
Presente no ato de São Paulo, o deputado federal Orlando Silva (PCdoB) criticou a ação policial após o assassinato de Moïse. “Nós vimos que a polícia não foi investigar o assassinato de Moise. A polícia foi proteger o quiosque de um assassino! E nós queremos saber da punição de todos aqueles que assassinaram Moïse, mas queremos a punição de quem mandou matar Moïse. É muito importante que esse ato repercuta no Brasil inteiro e que a gente possa dar passos largos na garantia de direitos para os imigrantes”, disse o deputado.
“Há 5 anos atrás eu escrevi a lei de imigração, nós aprovamos na Câmara dos Deputados, acabando com o estatuto do estrangeiro e não foi por acaso, a ideia é do estrangeiro traz consigo a intolerância daqueles que não reconhecem a semelhança dos nossos irmãos, que ajudaram a construir o Brasil, usaram a política de imigração no Brasil pra tentar embranquecer esse país, séculos atrás, mas o povo negro desde sempre é parte, é raiz, é o passado, é o presente e o povo negro também, é futuro! O povo africano e os negros nascidos aqui. Justiça por Moïse!”, ressaltou.
Em Brasília, o protesto ocorreu em frente ao Itamaraty, na Esplanada dos Ministérios e manifestantes usaram tinta vermelha para encenar o derramamento de “sangue negro”.
Já em Salvador, manifestantes se reuniram no Largo do Pelourinho e contou com a presença do Olodum.
O ato foi organizado pela “Coalizão Negra por Direitos” e outras 19 entidades. Os participantes se reuniram no Largo do Pelourinho, no Centro Histórico da capital baiana, por volta das 10h, e dispersaram às 12h30. Entre os grupos que marcaram presença do protesto estavam o Olodum, a banda Didá e o Ilê Aiyê Músicos que rufaram tambores e usaram a música de origem africana para prestar homenagem ao congolês, em sinal de luto.
Em Belo Horizonte, o ato ocorreu na Praça Sete, centro da capital mineira.
Na capital do Maranhão, o ato foi na Praça Deodoro, área central. E em Belo Horizonte, os manifestantes se reuniram na Praça Sete, no Centro, e saíram em passeata até a Praça Raul Soares.
Em Porto Alegre, o ato ‘Justiça por Moise’ foi realizado nos Arcos da Redenção. Vários representantes dos imigrantes africanos e do Haiti falaram à população. Bamba Toure, do Senegal, pediu um minuto de silêncio e depois discursou: “Está todo mundo abalado com essa situação, e eu espero que a gente tenha sabedoria para dar continuidade a essa mobilização, com encaminhamentos práticos deste encontro, que envolvam o compromisso dos entes de justiça em relação aos vários casos de violência, xenofobia, letalidade das forças de segurança. Precisamos de ferramentas para enfrentar esse cotidiano extremamente duro”, afirmou. Ele classificou a violência contra Moïse como colonial e racista. “Somos vítimas de uma guerra racial de altíssima intensidade”, concluiu.
A prefeitura do Rio anunciou hoje que vai transformar os quiosque Tropicália e Biruta em um memorial em homenagem às culturas congolesa e africana. De acordo com a Secretaria Municipal de Fazenda, a gestão de um dos quiosques será oferecida aos familiares de Moïse.
Veja mais imagens dos atos pelo Brasil:
RIO DE JANEIRO
BAHIA
SÃO PAULO
RIO GRANDE DO SUL