O governo brasileiro voltou a se isolar e protagonizar um novo vexame na cena internacional, na última sexta-feira, ao se ausentar do megaevento da Organização Mundial de Saúde (OMS) organizado para unificar e fortalecer o combate ao Covid-19.
Após ter se alinhado a Trump e fazer eco ao questionamento do currículo do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, o Brasil, que historicamente teve um papel protagonista no debate sobre o livre acesso a medicamentos, deixou até mesmo de comparecer à reunião de alto nível.
VEXAME
Dias antes, o ministro do Exterior, Ernesto Araújo, verbalizou um ataque à OMS que se coloca entre os maiores vexames da história do país em termos de relações internacionais ao qualificar a solidariedade plenetária pleiteada pela OMS como o perigo do “comunavírus”.
LIDERANÇAS MUNDIAIS REFORÇAM UNIDADE
Conforme reiteraram as lideranças mundiais, o “megaevento teve a finalidade de dar uma mensagem política de compromisso de que novos tratamentos para lidar com a pandemia chegarão a todos”. Na prática, assinalaram, tem o objetivo de acelerar o desenvolvimento, a produção e o uso de medicamentos, testes e vacinas seguros e eficazes para prevenir, diagnosticar e tratar a pandemia a nível planetário.
Chamada de Access to Covid-19 Tools Accelerator, ou ACT Accelerator –, a iniciativa visa tornar as tecnologias contra a doença “acessíveis a todos que precisam delas, no mundo inteiro”. “Desde janeiro, a OMS trabalha com milhares de pesquisadores em todo o mundo para acelerar e acompanhar o desenvolvimento de vacinas – desde o desenvolvimento de modelos animais até projetos de ensaios clínicos e tudo mais. Também desenvolvemos diagnósticos que estão sendo usados em todo o mundo, e estamos coordenando um estudo global sobre a segurança e eficácia de quatro ações terapêuticas contra o Covid-19”, declarou Tedros Adhanom.
A ausência do Brasil e de seus cientistas desse processo aponta para prejuízo incalculável e danifica a capacidade do nosso país em termos de acesso e desenvolvimento de instrumentos de combate ao coronavírus.
Como sublinhou o diretor-geral, “a experiência passada nos ensinou que, mesmo quando as ferramentas estão disponíveis, elas não estão igualmente disponíveis para todos”. “Não podemos permitir que isso aconteça”, sublinhou.
Um levantamento realizado pela OMS, com dados até 20 de abril, aponta que ao menos 76 pesquisas de vacinas já se encontram em andamento no mundo – 71 em fase pré-clínica e cinco em fase clínica.
PREOCUPAÇÕES
Outra das preocupações manifestadas pela OMS é que “não há evidências” de que as pessoas que se recuperaram do novo coronavírus e tenham anticorpos estejam protegidas contra uma segunda infecção pela enfermidade.
O comunicado da agência subsidiária das Nações Unidas é um alerta contra a emissão de “certificados sem risco” ou “passaportes de imunidade” para pessoas que foram infectadas – como tem sido defendido por governos como o dos EUA e Reino Unido -, uma vez que pode, na prática, aumentar ainda mais o risco de propagação, já que pode ignorar o conselho padrão.
O Chile também declarou que pretende passar a distribuir “passaportes de saúde” para pessoas consideradas recuperadas da doença. De acordo com o governo de Piñera, a ideia é serem rastreados para determinar se desenvolveram anticorpos que os tornaram imunes, a fim de que possam voltar urgentemente ao trabalho.
Completamente identificado com o governo pinochetista, o ministro da Economia, Paulo Guedes, informou estar negociando o “passaporte da imunidade” com um parceiro da Inglaterra.
Coordenado pela cúpula da OMS, o encontro foi liderado por Emmanuel Macron, presidente da França, e contou com a participação da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
DEFESA DA OMS
Na oportunidade várias lideranças reiteraram a defesa do diretor-geral da OMS diante dos ataques de Bolsonaro, que desferiu uma diatribe contra ele, alegando que Tedros “não é médico”.
Formado em biologia, Tedros tem mestrado em Imunologia de Doenças Infecciosas pela Universidade de Londres, doutorado em Saúde Comunitária pela Universidade de Nottingham, é especialista em operações e liderança em respostas de emergência a epidemias. Além disso, atuou como ministro da Saúde da Etiópia entre 2005 e 2012.
Os participantes reiteraram ainda o profundo mal-estar criado pela manipulação feita por Bolsonaro das declarações de Tedros para justificar sua própria política, que caminha na direção contrária às sugestões da agência da ONU.