Ex-assessor do Ministério da Saúde depõe na CPI com propósito de esclarecer a truncada história sobre negociação de venda de 400 milhões de doses de vacinas
A CPI da Covid-19 ouve, nesta quarta-feira (4), o ex-assessor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, tenente-coronel da reserva do Exército, Marcelo Blanco. Exonerado da pasta em janeiro, o militar da reserva participou de jantar ocorrido em restaurante localizado num shopping em Brasília, dia 25 de fevereiro de 2021.
Nesse encontro, segundo o revendedor de vacinas e cabo da Polícia Militar de Minas Gerais, Luiz Paulo Dominghetti, houve a proposta de pagamento de propina de US$ 1 por dose na comercialização da vacina AstraZeneca. A Davati Medical Supply negociava a venda de 400 milhões de doses do imunizante.
No depoimento em curso, Blanco negou as acusações. “Eu jamais fiz pedido de ‘comissionamento’ ou qualquer tipo de vantagem. Isso aí é absolutamente desconectado da realidade”, declarou.
“E senhor, como uma boa alma, se colocou à disposição, sem conhecer, sem saber quem era a pessoa, de apresentar o Roberto Dias. Sem ter benefício nenhum sobre isso?”, questionou o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM).
Ao responder o questionamento de Aziz, o depoente disse que não havia nenhum interesse da parte dele em fazer a mediação ou facilitar o encontro de Dominghetti com Roberto Dias.
“Vossa excelência levou o cara lá no restaurante para conversar com o Roberto Dias. Você é um cara bondoso, coronel. Coronel, o senhor é muito bondoso. O senhor estava fazendo tudo isso sem nada. Por amor a quê?”, ironizou Aziz.
“Porque deveria ter feito isso com a Pfizer, com a CoronaVac”, emendou.
“BOA ALMA”
Blanco afirmou que tentou apenas viabilizar uma agenda oficial de Dominghetti, representante da Davati Medical Supply — que se apresentava como Air Supply, com o Ministério da Saúde, e que não facilitou as negociações.
Os senadores também questionaram o coronel sobre quais seriam os interesses dele em facilitar tratativas da Davati com o Ministério. Blanco afirmou que apenas forneceu informações de contatos oficiais para estabelecer uma “ponte” entre Dominghetti, Cristiano Carvalho e a pasta da Saúde.
Segundo Blanco, na ocasião do jantar, ele sabia que Roberto Dias, ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde e acusado de ter sugerido propinas a Dominghetti, estaria no restaurante.
Por isso, levou Dominghetti para conhecê-lo para que o PM pudesse marcar posteriormente uma agenda oficial. “Eu não falei que foi um encontro casual, eu sabia que o Dias estava lá. Posso ter sido inconveniente de aparecer com Dominghetti lá? Posso”, disse Blanco.
Em 7 de julho, Roberto Dias, depôs à CPI. Na ocasião, ele afirmou que o encontro com o amigo era para “tomar um chopp” e que não tinha combinado nada com Blanco e Dominghetti. Dias também negou o pedido de propina.
M. V.