“Deputado, só pra lhe lembrar — a gente tem uma boa memória aqui e temos muitos dados aqui —, se alguém infectou a ciência, pode ter certeza que não foram os senadores que estão aqui [na CPI]; nenhum desses senadores aqui infectou a ciência”, argumentou contrariamente o presidente da CPI
Na fala inicial do deputado Osmar Terra (MDB-RS), o parlamentar criticou o que ele chamou de “politização” do debate em torno da pandemia. Terra é o depoente desta terça-feira (22), na CPI da Pandemia no Senado.
“Então, eu acho que nós estamos fazendo uma discussão politizada. A política infectou a ciência — a política infectou a ciência. E é essa a discussão que nós temos que fazer aqui”, disse o deputado. No entender dele quem “poltitiza” são os outros e não Bolsonaro que faz propaganda a rodo da cloroquina, rejeita vacinas e ataca governadores e prefeitos que aplicam medidas de proteção contra a Covid-19.
Diante da crítica, o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM) rebateu Terra. “Deputado, só pra lhe lembrar — a gente tem uma boa memória aqui e temos muitos dados aqui —, se alguém infectou a ciência, pode ter certeza que não foram os senadores que estão aqui [na CPI]; nenhum desses senadores aqui infectou a ciência”.
“Quem primeiro começou a falar de teses que não deram resultado positivo não foi nenhum de nós aqui”, acrescentou. “O senhor começou a fazer isso logo no início da pandemia A fazer prognósticos, a falar sobre isso”.
“A política não infectou a ciência. Alguns políticos, como V. Excelência, sim, infectaram a ciência”, rebateu.
A CPI, instalada em 27 de abril no Senado, tem o propósito de investigar as ações, omissões e inações do governo federal no combate à pandemia do novo coronavírus.
UM MINUTO DE SILÊNCIO
No início dos trabalhos da CPI desta terça-feira, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) propôs e foi atendido para que o colegiado fizesse 1 minuto de silêncio em solidariedade aos mais de 500 mil mortos e os familiares desses.
“A gente está aqui o tempo todo falando e o tempo todo tentando justificar aquilo que nós não conseguimos justificar para o mundo: 502.817 mil brasileiros mortos. Neste momento, esta comissão tem que pedir 1 minuto de silêncio em homenagem a todas as vidas perdidas, senhor presidente. Nós estamos de luto! São mais de 500 mil mortes no Brasil”, argumentou Rogério Carvalho.
“Então, eu queria, antes de a gente começar qualquer coisa, em sinal de respeito às famílias, pedir 1 minuto de silêncio em homenagem a 502.817 mil famílias, que se desfizeram pela dor, a dor da perda irreparável, que é a perda da vida”, observou.
“GABINETE PARALELO”
Terra é apontado como integrante do suposto “gabinete paralelo” que teria orientado o presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. O deputado é ouvido na condição de convidado.
Recentemente, em entrevista à CNN, ele afirmou que a tese da CPI sobre a existência de o chamado “gabinete paralelo” “é uma falácia”.
LOCKDOWN E QUARENTENA
Gaguejando em vários momentos, o deputado criticou ainda a adoção de medidas restritivas por Estados e municípios para conter a disseminação do novo coronavírus.
“Estamos com 500 mil mortes no Brasil com o sistema de lockdown e quarentena dos governadores. O [STF] Supremo Tribunal [Federal], em 15 de abril de 2020, impediu, limitou o poder do presidente de interferir nessas decisões”, insistiu Osmar Terra na tese sustentada pelo presidente da República para justificar a inação dele no combate à pandemia.
O STF, no entanto, já negou que tenha proibido o Planalto de agir para conter a disseminação da doença. “É responsabilidade de todos os entes da Federação adotarem medidas em benefício da população brasileira no que se refere à pandemia”, está escrito em texto divulgado pela Corte em janeiro.
“Então, essas 500 mil mortes não estão acontecendo em um outro país em que o presidente podia decidir tudo. Estão acontecendo em um país que estava limitado às decisões dos governadores, dos prefeitos”, continuou o deputado, na argumentação dele.
Ele disse ainda que 32 estudos publicados durante a pandemia comparando países que fecharam com os que não fecharam mostraram que não houve impacto nos que adotaram lockdown e quarentena — ele não deu, porém, detalhes desses estudos.
E foi rebatido pelos senadores, que questionaram os seus dados duvidosos. Eles mostraram que na Suécia, citada como exemplo pelo deputado, a mortalidade foi muito maior do que ele disse.
“E o motivo é simples, óbvio e só não ver quem não está interessado em não ver […] Milhões de pessoas saem todos os dias para trabalhar — porque são serviços essenciais —, mais da metade da força de trabalho brasileira é essencial, então não tem isolamento.”
Terra voltou a dizer que nunca propôs que as pessoas se “abraçassem e se contaminassem”. “Isso não existe. Isso é um discurso para tentar deturpar um argumento”.
M. V.