A chamada “tropa de choque” governista na CPi da Pandemia está sendo orientada pelo Palácio do Planalto nos questionamentos aos depoentes e não está dando conta do recado
A primeira semana de trabalhos efetivo na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pandemia no Senado, entre os dias 4 e 6 de maio, teve saldo muito negativo para o governo.
As oitivas iniciais, além de desgaste, trouxeram novos elementos para o enredo das investigações. A preparação da defesa do governo contra as investidas do grupo opositor se mostrou ineficiente e mal implementada.
Ficou nítido que a “tropa de choque” governista está sendo orientada pelo Palácio do Planalto nos questionamentos aos depoentes. E os aliados escalados para esse papel não possuem perfil adequado à guerra retórica necessária numa CPI.
Os ex-ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, corroboraram a visão de que a política do governo para combater a pandemia não se orientou pelo conhecimento científico. O chamado G7, grupo majoritário de senadores não alinhados ao Palácio do Planalto, direcionou a discussão e conseguiu manter o foco em torno do uso da cloroquina e demais medicamentos sem eficácia científica comprovada contra o novo coronavírus como única medida.
VACINAS NA LINHA DE INVESTIGAÇÃO
Se a narrativa da cloroquina dominou a primeira semana, os próximos depoimentos serão direcionados à temática das vacinas.
Nesta semana, de 11 a 13, serão ouvidos o presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, o ex-secretário de Comunicação do governo Fábio Wajngarten, o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo e representantes do Pfizer.
A oitiva de representantes da farmacêutica estadunidense vai obrigar Wajngarten a confirmar ou não sua entrevista à Veja na semana retrasada, quando classificou como incompetente a gestão de Pazuello. O comando da CPI decidiu que vai buscar a quebra de sigilos do ex-secretário de Comunicação.
EDUARDO PAZUELLO AGENDADO
O depoimento mais aguardado, porém, o do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, vai ser na quarta-feira (19). A ele é atribuída a maior parcela de responsabilidade pelo atraso na compra de vacinas.
O fato de ele não ter comparecido à CPI na semana passada, sob a alegação da possibilidade de reinfecção de Covid, embora tenha recebido a visita do ministro Onyx Lorenzoni (Secretaria-Geral da Presidência), contribui para que haja um clima de hostilidade contra ele. Inevitável, pois.
Essa oitiva vai ser potencialmente a mais difícil para o governo, em especial para o presidente Jair Bolsonaro, de quem Pazuello afirmou que obedecia a ordens. Mesmo indo depor após os demais e já com conhecimento dos fatos apresentados, há o temor, por parte do governo, de que o ex-ministro não consiga ter desempenho satisfatório.
Preocupação absolutamente razoável, já que é sabido que Pazuello não compareceu à CPI, porque não conseguiu manter seu estado psicológico em equilíbrio para se conduzir adequadamente diante dos inquiridores.
LISTA DE CONVOCAÇÕES CRESCE
A lista de pessoas ligadas ao governo passíveis de convocação vem crescendo. Aumentou a pressão pelo comparecimento do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente.
Além deles, entraram na mira da CPI a secretária do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, chamada ironicamente de “capitã cloroquina”, porque estivera em Manaus, na crise do abastecimento de oxigênio, para entre outros compromissos fazer recomendações do uso de cloroquina e hidroxicloroquina em “doses seguras”.
Pode ser convocada, ainda, a assessora da Secretaria de Governo, Thaís Amaral Moura, que é namorada de Fred Wassef, advogado da família Bolsonaro, e a quem se atribui a autoria das ações (requerimentos) do governo na CPI, e o diretor-geral da Polícia Federal, Anderson Torres. Mas a aprovação de tais nomes ficaria para um segundo momento.
COMO VAI SER ESTA SEMANA
Além do diretor-presidente da Anvisa e do ex-secretário de Comunicação do governo federal, a CPI vai ouvir ainda o ex-chanceler Ernesto Araújo, a quem se atribui que atrapalhou, com guerra ideológica, nas negociações com outros países, em particular a China, a compra de imunizantes.
Telegramas mostram que o ex-ministro das Relações Exteriores teria agido para garantir o fornecimento de cloroquina ao Brasil. O medicamento não tem eficácia contra a Covid-19. Os documentos, obtidos pela Folha de S.Paulo, mostram que, por outro lado, o empenho para conseguir vacinas foi baixo.
M. V.