Apesar do esforço da Oposição na Câmara para acelerar a análise de projeto que classifica como hediondo o crime de pedofilia, nesta quarta-feira (19), a medida não se efetivou. Isso porque, a base de apoio ao governo de Jair Bolsonaro (PL), seguindo orientação do próprio presidente, votou contra.
Na sessão da Câmara, o requerimento que colocaria o projeto como o primeiro item da pauta de votação, recebeu 224 votos a favor e 135 contrários. A sessão foi encerrada sem que a proposta fosse apreciada.
Ao final da sessão, o deputado Professor Alcides (PL-GO) insultou e ofendeu às deputadas favoráveis à antecipação para os trâmites da proposta, chamando-as de “loucas”.
O projeto tramita desde 2015 e tem sido incluído na pauta do plenário da Câmara desde maio, mas sempre é preterido a despeito de outros projetos de interesse do governo, que acabam tendo prioridade. Com isso, a apreciação é frequentemente adiada.
Nesta quarta-feira, a deputada Luzianne Lins (PT-CE) apresentou o pedido para que o projeto de autoria dos deputados Paulo Freire Costa (PL-SP) e Clarissa Garotinho (União-RJ), saísse do fim para o início da pauta de votações. “É projeto da base do governo, pedimos urgência na votação”, justiçou a petista.
É contraditória a postura dos parlamentares governistas, uma vez que a ex-ministra da Mulher Damares Alves, há duas semanas, denunciou supostos abusos sexuais praticados contra crianças da Ilha de Marajó (PA). Durante um culto em uma igreja evangélica em Goiânia, no dia 8 último, Damares, eleita senadora, disse, sem apresentar provas, que crianças de 3 e 4 anos de idade, teriam os dentes arrancados para facilitar práticas sexuais, além de serem traficadas para países que fazem fronteira com o Brasil.
Mas, na semana passada, veio à tona um vídeo gravado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) no qual ele insinua que meninas venezuelanas de 14 e 15, moradoras de São Sebastião, nos arredores de Brasília, estariam se prostituindo.
“Me chamou a atenção: meninas bonitinhas. Eu olhei para trás, três ou quatro meninas bonitas, de 14, 15 anos, pintou um clima, voltei”. O episódio ocorreu em 2020 durante um passeio de moto de Bolsonaro pela área”, disse Bolsonaro.
“Eu desci da moto. ‘Posso entrar?’. Entrei. Tinha umas 15 meninas dessa faixa etária, 14, 15, 16 anos. Todas muito bem arrumadas. Tinham tomado banho, estavam fazendo o cabelo. Venezuelanas. Estavam se arrumando para quê? Alguém tem ideia? Quer que eu fale? Não vou falar… Para fazer programa. Vocês acham que elas queriam fazer isso? Qual era a fonte de sobrevivência delas?”, acrescentou.
A negativa dos apoiadores de Bolsonaro foi criticada duramente pelo influenciador digital Felipe Neto. “A pedofilia venceu hoje no Brasil”, disse. “Mas sabe quem votou ‘não’? Todos os partidos aliados ao presidente da República ao presidente da República, Jair Bolsonaro. É isso que representa o bolsonarismo”, prossegue.
“Jair Bolsonaro trata como herói um pedófilo que estuprou mais de 1400 crianças enquanto foi ditador do Paraguai (general Alfredo Stroessner, que comandou a sangrenta ditadura no país, de 1954 a 1989).
“O orçamento do Bolsonaro para combate à pedofilia é 99% menor do que no tempo do PT […] o Bolsonaro não liga para os seus filhos, ele não liga para as crianças”, denunciou o youtuber.
A deputada Érika Kokai (PT-DF), criticou a posição dos colegas e disse que o presidente está “com indícios de pedofilia”.
“É um absurdo que a gente feche os ouvidos e os olhos para o comportamento do presidente da República. Jair Bolsonaro está com indício de pedofilia na sua prática e a gente precisa dizer isso em alto e bom som”, disse.