Guedes diz que Marinho é “despreparado”, “desleal” e ‘fura-teto” e, para Marinho, Guedes é um “desgovernado”
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse não acreditar que seu colega Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) tenha falado mal dele. Mas, se falou, disse Guedes na sexta-feira (20), Marinho é “despreparado”, “desleal” e “fura-teto”.
A reclamação de Guedes veio após a divulgação pela mídia de que fontes que participaram de uma reunião de Marinho com investidores em São Paulo disseram que ouviam do ministro que o programa “Renda Cidadã sai por bem ou por mal”. E que ele teria dito que a proposta de usar os recursos destinados aos precatórios para financiar o programa “Renda Cidadã”, em substituição ao Bolsa Família, que gerou uma onda de protestos de diversos setores da sociedade, foi proposta de Guedes. O uso de precatórios foi considerado um “calote”.
Guedes disse que o governo vai aumentar os recursos repassados ao programa, mas “sem furar o teto”. Para isso, ele já tentou, além dos precatórios, pilhar o Fundeb, atacar aposentados, acabar com o abono salarial e o programa seguro defeso. Após a repercussão negativa das “pedaladas” com os precatórios, falou em acabar com 27 programas sociais e juntar tudo em um só programa.
Não satisfeito, Guedes resolveu, na entrevista, atacar a classe média. “Os recursos existem, como o desconto simplificado para Saúde e Educação. É dinheiro da classe média alta. Você pega R$ 10 milhões e são R$ 35 a mais no Renda Cidadã. É uma transferência de renda de quem tem mais para quem tem menos”. Reduzir a transferência de recursos públicos para os bancos, nem pensar.
O ministro da Economia disse que uma coisa é furar o teto porque o objetivo era salvar vidas na pandemia do novo coronavírus e que se houver uma segunda onda da covid-19, “aí sim é o caso de furar o teto”. “Dei um R$ 1 trilhão para a Saúde, mas não vou dar R$ 1 trilhão para alguém que quer ficar famoso de forma rápida”, disse. Um detalhe é que ninguém viu esse R$ 1 trilhão na Saúde.
FRAUDE
Mais uma vez, o ministro de Bolsonaro, infla os gastos com a pandemia. Guedes dever ter confundido o dado divulgado por ele como sendo para a Saúde, com os R$ 1,2 trilhão que ele liberou logo no início da pandemia para aumentar a liquidez dos bancos.
Segundo o “Monitoramento dos Gastos da União com Combate à COVID-19” publicado no dia 3 de outubro pelo Tesouro Nacional/Ministério da Economia, dos R$ 586,9 previstos para combate à pandemia, foram pagos R$ 440,7 bilhões.
Do total do recurso previsto, R$ 322 são para o Auxílio Emergencial à Pessoas em Situação de Vulnerabilidade. São os R$ 600 reais aprovados pelo Congresso Nacional para os milhões de brasileiros que ficaram sem renda durante o auge da pandemia, diante das medidas para conter o avanço da doença que já ceifou a vida de quase 150 mil brasileiros. Na época, Guedes propôs um “vale” de 200 reais. O restante do recurso foi distribuído – ainda não totalmente pago – para: Ampliação do Bolsa Família; Benefício Emergencial de Manutenção de Emprego e Renda; Auxílio a Estados, Municípios e Distrito Federal; Financiamento para Pagamento da Folha Salarial, Programa Emergencial de Acesso ao Crédito (maquininhas); Financiamento de Infraestrutura Turística; Transferência para Conta de Desenvolvimento Energético e Cota dos Fundos Garantidores de Operações e de Crédito.
DESONERAÇÃO DA FOLHA
Quanto mais o Guedes fala, mais expõe sua desgraça. “Temos 40 milhões de invisíveis no Brasil e muitos são realmente desassistidos. Parte deles vai aterrissar no Renda Cidadã, mas outros precisam ser reempregados. Como fazer isso? Temos que desonerar a folha de empresas”.
No início de julho, Bolsonaro, em acordo com Guedes, vetou a prorrogação da desoneração da folha salarial de 17 setores que mais empregam no país até o fim de 2021. A prorrogação foi aprovada pelo Congresso Nacional como uma das medidas de enfrentamento da crise econômica agravada pela pandemia.
Em documento entregue ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), 36 associações da indústria afirmaram que a derrubada do veto pelo Congresso é imprescindível à preservação de estruturas produtivas que abrangem cerca de 6 milhões de empregos formais diretos. “O impacto da reoneração da folha em meio à atual crise seria insuportável para esses setores e acarretaria consequências drásticas para os seus trabalhadores, empresas, consumidores e para o próprio Estado“, afirmaram os empresários há três meses.
RECESSÃO
Mas Guedes continua com sua ladainha que nem o “mercado” e “investidores” levam a sério. “O Brasil está voltando em V. Nossa realidade é uma economia forte, o PIB está subindo e o índice de confiança também. Sempre digo que o Brasil vai surpreender o mundo”, diz ele, na contramão da realidade. O PIB teve um tombo recorde de 9,7% no segundo trimestre, em relação ao primeiro trimestre, que também caiu 2,5%.
E os estrangeiros assustados com a insanidade do governo, continuam retirando dinheiro da Bolsa de Valores. Até 29 de setembro, foram R$ 88,2 bilhões, o dobro do registrado em todo o ano passado, quando os estrangeiros levaram de volta para casa R$ 44,5 bilhões.
Segundo a edição “Barômetro do Poder” do Infomoney, de setembro, que contou com a participação de consultorias na maioria estrangeiras, “Guedes perdeu a validade”. Já para Marinho, a equipe econômica está “desgovernada”.