O candidato ao governo de São Paulo, Fernando Haddad, disse em entrevista ao programa Roda Viva, na TV Cultura que apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) estão fazendo “uso oportunista” do tiroteio que interrompeu ato de campanha de seu adversário, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em Paraisópolis, na zona sul da capital paulista.
“O que o bolsonarismo está fazendo é um uso oportunista. O fato de já levar para a TV, mudar na Wikipédia o currículo do Tarcísio, torná-lo uma vítima de um atentado político, acho que revela uma pressa que realmente causa uma certa apreensão. Mais uma vez vai fazer esse tipo de coisa para reverter as tendências eleitorais, tentar nacionalizar o problema. Eu vejo com muita preocupação”, disse.
Segundo Haddad, o uso político do episódio “coloca em risco a integridade dos candidatos” e classificou a estratégia de “forma oportunista para tentar ganhar algum dividendo eleitoral”.
“Já querem transformar meu adversário na vítima de 2022, como se fosse uma facada 2.0 para ver se muda alguma coisa no quadro eleitoral”, declarou Haddad.
Na noite de segunda-feira, a campanha de Bolsonaro levou o caso ao programa eleitoral do presidente. A peça exibida na televisão mostra integrantes da equipe de Tarcísio em Paraisópolis enquanto ocorre a troca de tiros.
Tarcísio também explorou o episódio e afirmou se tratar de uma “ação de intimidação”.
“Foi um recado: ‘Esse território aqui é nosso, você não entra aqui sem a nossa permissão’. E isso é muito comum. Existe uma questão territorial”, afirmou em transmissão realizada em seu perfil no Instagram.
No Roda Viva, Haddad afirmou que o candidato do Republicanos “não tem projeto” para o Estado.
“Estou disputando eleição com uma pessoa que está caindo de paraquedas. Teve o astronauta [em referência ao senador eleito Marcos Pontes, do PL], que não sei qual é o veículo que ele chegou aqui, mas o Tarcísio, tenho certeza que chegou de paraquedas”.
Na visão do petista, Tarcísio “quer governar o maior Estado da Federação, tendo mudado há 6 meses para cá”.
No programa, Haddad criticou uma proposta de Tarcísio de Freitas, seu adversário. O ex-ministro tem como projeto a privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP). O petista diz que a venda da empresa aumentaria o preço da conta de água.
“Não acho que o povo do interior aprovaria a venda da Sabesp. A Sabesp é água, é essencial. se a gente continuar explicando o que vai acontecer com as mais de 300 cidades do interior. O eleitor é soberano para decidir, nós estamos falando de dados oficiais, nós estamos falando de cidades abastecidas pela empresa. Nós vamos sensibilizar a população, o papel de uma eleição é explicar o que aconteceu na Europa e nos estados que privatizam a empresa de abastecimento de água.
O ex-prefeito de São Paulo ainda falou sobre a privatização de outras áreas, como transporte e infraestrutura.
“Água é um problema específico, mas não é o único. Eu sou a favor de concessão de rodovia, mas eu sou contra prorrogação de contrato de rodovia. Eu sou a favor de relicitar contratos, faz uma grande diferença. Quando você relicita o contrato antes do vencimento, a experiência mostra que a queda do pedágio é de 25% a 30%, em média. Quando você prorroga o contrato, você não sabe a intenção do governante. E fui o primeiro a falar da privatização do Ceagesp com a condição de mudar de bairro. O Prouni, por exemplo, é a maior parceria público-privada já feita no país. Eu não tenho nenhum problema com isso, eu analiso caso a caso para o cidadão, tem coisas que não tem problema nenhum, e tem coisas que tem”, completa.
A última pesquisa Ipec, divulgada na última terça-feira (11), mostra que Tarcísio de Freitas (Republicanos) lidera a corrida pelo Palácio dos Bandeirantes. Enquanto o ex-ministro da Infraestrutura tem 46% das intenções de voto, Fernando Haddad conta com 41% dos votos, segundo o levantamento.
No primeiro turno, o petista ficou com 35,70% dos votos e o estreante nas eleições ficou com 42,32%.