Manobra ridícula de Eduardo omite a parte do discurso de Tedros Adhanom que cobra dos governos a liberação de recursos para socorrer os trabalhadores informais
Jair Messias resolveu aderir à falsificação que seu filho, Eduardo Bolsonaro, fez de um discurso do diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, para tentar emplacar que o dirigente do órgão tem a mesma opinião de seu pai sobre o isolamento social.
A falsificação é grosseira e criminosa, mas Bolsonaro resolveu adotá-la nesta terça-feira (31). Citou o suposto discurso de Adhanom para justificar sua sabotagem às medidas sanitárias de proteção à população.
É ridícula a farsa de Eduardo Bolsonaro. No vídeo, Tedros Adhanom adverte que os trabalhadores informais têm que trabalhar diariamente para garantir seu sustento e de sua família. E que o confinamento é uma medida dura para essas pessoas. Entretanto, Eduardo omitiu a parte do discurso que diz que, por isso, é fundamental que os governos garantam assistência às pessoas que ficaram sem renda durante o isolamento recomendado pela própria OMS durante a quarentena.
Vejam a farsa. Eduardo só divulgou a primeira parte da fala.
“Sou da África e sei que muita gente precisa trabalhar cada dia para ganhar o seu pão. E governos devem levar essa população em conta. Se estamos limitando os movimentos, o que vai acontecer com essas pessoas que precisam trabalhar diariamente? Cada país deve responder a essa questão… Precisamos também ver o que isso significa para o indivíduo na rua. Venho de uma família pobre e sei o que significa sempre preocupar-se com o pão de cada dia. E isso precisa ser levado em conta. Porque cada indivíduo importa. E temos que levar em conta como cada indivíduo é afetado por nossas ações. É isso que estamos dizendo.”
Abaixo a parte suprimida da fala de Tedros Adhanom
“Entendemos que muitos países estão implementando medidas que restringem a movimentação das pessoas. Ao implementar essas medidas, é vital respeitar a dignidade e o bem estar de todos. É também importante que os governos mantenham a população informada sobre a duração prevista dessas medidas, e que dê suporte aos mais velhos, aos refugiados, e a outros grupos vulneráveis. Os governos precisam garantir o bem estar das pessoas que perderam a fonte de renda e que estão necessitando desesperadamente de alimentos, saneamento, e outros serviços essenciais. Os países devem trabalhar de mãos dadas com as comunidades para construir confiança e apoiar a resistência e a saúde mental”, declarou Tedros.
Ao invés de apressar a liberação dos recursos já aprovados para ajudar essas pessoas a ficaram em casa e se protegerem sem perder sua renda, Jair Bolsonaro insiste em defender que eles se exponham aos riscos de se contaminarem. Para isso usa até essa falsificação criminosa feita por seu filho.
Não é só o diretor da OMS, mas todos os economistas, todos os políticos e toda a sociedade que exige a liberação imediata dos recursos que o governo está retendo. É um absurdo segurar o dinheiro para deixar as pessoas no desespero.
Bolsonaro quer que as pessoas voltem ao trabalho porque, para ele, não importa se milhares de pessoas vão morrer. Ele não se preocupa com a vida e a saúde das pessoas. Bolsonaro só se preocupa com os lucros das empresas que estão perdendo na bolsa.
Defende a volta ao trabalho mesmo que isso signifique a morte de um milhão de pessoas, como prevê o estudo do Imperial College London, caso se suspenda o isolamento social. O que Bolsonaro propõe é um genocídio.
Que Eduardo Bolsonaro cometa crimes desse tipo já é esperado, afinal, é só isso que ele faz o tempo todo. Mais grave é o presidente utilizar uma fake news grosseira como esta – uma edição do discurso do especialista – tentando envolver o diretor geral da OMS, para sustentar sua insanidade.
Bolsonaro já havia se utilizado de um ambulante em Taguatinga, cidade satélite de Brasília, para defender que o povo voltasse a se aglomerar nas ruas. O ambulante disse que não tinha dinheiro, por isso estava na rua. Pois é. Ao invés de resolver rapidamente a liberação dos recursos para este cidadão poder se proteger, Bolsonaro defendeu que todos voltassem ao trabalho.
A recomendação da OMS, para proteger os vulneráveis durante a pandemia já foi acolhida pelo Congresso Nacional e pelo governo, com a aprovação de medidas de ajuda financeira aos trabalhadores informais, como a garantia de renda de R$ 600 por trabalhador, que só dependem agora de sanção do governo federal. Todo o Brasil exige que Bolsonaro pare de ciscar de um lado para o outro e resolva imediatamente os problemas que estão atrasando a liberação dos recursos para a população.