Ministro confirmou que governo quer privatizar o monitoramento da Amazônia
Bolsonaro ameaçou demitir o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, após a divulgação do aumento no desmatamento da Amazônia. “Se quebrou a confiança, vai ser demitido sumariamente”, disse Bolsonaro, em entrevista coletiva.
Após incentivar a sanha de grileiros e madeireiros pela destruição da floresta, o governo agora resolve desqualificar os dados apontados pelo Inpe. De acordo com dados do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), desenvolvido pelo instituto brasileiro e referência mundial sobre o tema, o desmatamento cresceu 88% em junho na comparação com o mesmo período de 2018 e atingiu 920,4 quilômetros quadrados.
Os dados mais recentes na plataforma mostram que, entre 1º e 25 de julho de 2019, a extensão dos alertas de desmatamento já ultrapassou a marca de 1.864 quilômetros quadrados, mais do que triplicou em relação a julho de 2018. Os números podem ser ainda maiores porque a plataforma ainda não incluiu os dados relativos aos dias 26 a 31 de julho.
Segundo o balanço, que ainda é parcial, mostra que julho de 2019 já teve a extensão mais alta de alertas desde agosto de 2015, dados mais antigos disponíveis no Terra Brasilis.
Os dados do Deter são atualizados quase diariamente e usados para apontar a tendência do desmatamento amazônico. Além de serem enviados ao Ibama e ao governo, os dados são publicados nas plataformas do Inpe, como o portal Terra Brasilis.
“O presidente Bolsonaro não entende que não somos nós que fornecemos os nossos dados para a imprensa. Os nossos alertas de desmatamento são fornecidos ao Ibama. Estão abertos para todo mundo, todo mundo pode verificar [a veracidade]”, explicou o diretor do Inpe, Ricardo Magnus Osório Galvão, ao rebater as críticas feitas por Bolsonaro sobre a veracidade dos dados coletados pelo Instituto.
Mas, para Bolsonaro e seus ministros, os dados “são falsificados”.
ENTREVISTA
A declaração de Bolsonaro foi feita durante entrevista no Palácio do Planalto, convocada para falar da divulgação de dados sobre o desmatamento. Também estavam presentes, os ministros Ricardo Salles (Meio Ambiente), Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Augusto Heleno (Segurança Institucional).
Segundo Bolsonaro, a divulgação do aumento brutal do desmatamento tem o objetivo de “prejudicar o governo e desgastar a imagem do Brasil”. Ou seja, não é a ação desenfreada de desmatadores que “desgasta a imagem do país”, mas sim, a denúncia da criminosa destruição da floresta.
“Não quero afirmar, mas uma notícia como essa [crescimento do desmatamento na Amazônia], que não condiz com a verdade, tem um estrago muito grande na imagem do Brasil. Parece que tem gente interessada nisso, que não é a imprensa, porque o dado saiu lá de dentro [do Inpe], dos órgãos nossos”, disse.
“Acho até que, aprofundando os estudos, ver se as pessoas divulgaram de má-fé esses informes para prejudicar o governo atual e desgastar a imagem do Brasil”, continuou Bolsonaro, enquanto seus ministros balançavam a cabeça.
PREOCUPAÇÃO BOLSONARISTA
Ricardo Salles, ministro bolsonarista do Meio Ambiente, que já havia impedido o Ibama e o ICMBio de publicar informações referentes à questão ambiental, disse que a “preocupação” do governo não é com a criação de números sobre o desmatamento.
“A nossa preocupação não é trabalhar para criar número, seja número qual for. É dizer que o número, da forma como foi apresentado, e a análise que foi feita, não estava correta”, afirmou Salles ao ser questionado por jornalistas sobre qual seria a porcentagem de desmatamento registrado em junho.
O ministro da Segurança Institucional, Augusto Heleno, também foi claro sobre a intenção do governo de ocultar os números negativos. Segundo Heleno, os problemas devem ser “cuidados internamente”. E afirmou que o que os aflige é a “falta de honestidade intelectual” na divulgação dos números.
Disse ele: “O que preocupa mais aqueles que têm sentimento de brasilidade, que têm um amor pelo país, como todos deveriam ter, é que esses dados prejudicam muito a imagem do Brasil. Se fossem dados corretos, era preocupante e seria conveniente que nós não alardeássemos isso e que nós cuidássemos do problema internamente, procurássemos corrigir o que está errado”.
“São imagens que depois ficam muito difícil de resgatar. Isso é o que nos aflige, é a falta de honestidade intelectual”, completou.
PRIVATIZAÇÃO
Ao fim da coletiva, Ricardo Salles afirmou que o governo abrirá licitação junto ao Ibama para contratar um novo sistema de monitoramento ambiental. Segundo ele, a terceirização do monitoramento servirá para “ajudar o Inpe”.
“Queremos manter o sistema do Deter, ajudando a equipe, ajudando o Inpe para que tenha melhores serviços. Uma forma de ajudarmos é complementar as informações do sistema do Deter também com outras imagens de alta resolução que fornecessem o detalhamento dos polígonos de um dia para o outro”, declarou.
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