Na manifestação promovida, no dia 1º de maio, por Bolsonaro no Rio de Janeiro, lá estava Fabrício Queiroz, aquele que depositou R$ 89 mil na conta de Michelle Bolsonaro – e era operador do esquema do chefe e seus filhos.
Preso pela Polícia por peculato, lavagem de dinheiro, organização criminosa e apropriação indébita, Queiroz na manifestação faz pensar no Congresso e na Justiça que Bolsonaro e seu círculo querem no Brasil – aqueles que garantam impunidade eterna para seus crimes.
Pois para isso essas manifestações foram convocadas e organizadas.
No momento em que, com a CPI da Pandemia, Bolsonaro desce a ladeira, depois de 400 mil mortos, ele tenta, com essas manifestações, uma sobrevida, já um pouco à modo daquela dos vampiros – e, se bobearmos, algo além de uma sobrevida.
Pois é evidente o cunho golpista dessas manifestações. Que hajam sido convocadas diretamente do Planalto – e acompanhadas pessoalmente por seu próprio ocupante, inclusive a bordo de um helicóptero oficial -, com o objetivo explícito de continuar impedindo o combate à Covid-19 (v. as declarações da deputada Zambelli), contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), é mais um crime a acrescentar à lista de Bolsonaro.
O “Eu Autorizo Presidente”, que era o lema das manifestações, foi inventado pelo próprio Bolsonaro, que disse e repetiu que esperava uma “sinalização” para agir contra os que combatem a Covid-19 – isto é, governadores, prefeitos, o STF, e, agora, depois da CPI, o Congresso.
Realmente, ele é contra o combate à Covid-19, como já é evidente por mais de um ano de mortandade e sabotagem à vacinação e demais medidas. Porém, mesmo antes da pandemia, sempre quis submeter Congresso, STF, governadores e prefeitos, pela simples razão de que seu único projeto (?) é uma ditadura – e uma ditadura dele, em que, no máximo, ele e um grupelho subserviente a ele, mande e desmande.
Tem o mesmo sentido a repetição, às vésperas das manifestações, de que pretende usar o “meu exército” contra governadores, prefeitos – e, vamos ser claros, o povo – que tomarem medidas contra a epidemia.
O que quer dizer com “meu exército”?
Certamente, assim como queria ter um Congresso que acobertasse a sua quadrilha; assim como queria ter um Judiciário que lhe garantisse absolvição automática pela sua culpa; assim como queria uma Polícia servil à sua família, aos grupos de extermínio e outras quadrilhas que representa; Bolsonaro, da mesma maneira, também quer um Exército que seja – apenas, e tão somente – uma milícia sua.
Em suma, o que as manifestações de Bolsonaro, no último sábado (01/05), mostraram, é que, se dependesse dele, o Brasil seria uma pocilga dominada por bandidos, por obscurantistas sequiosos pelo dinheiro do povo, sem instituições, boas ou ruins, apenas com aparelhos da família Bolsonaro e aliados – isto é, milícias e quadrilhas – ou operadores (vide o Queiroz, que, depois da manifestação, berrou no Instagram: “Subindo rumo a 2022! Brasil acima de tudo. Deus Acima de todos!! Pronto para o combate Sr! Brasil acima de tudo, Deus acima de todos!!”).
Que tudo isso pareça muito tosco, é uma prova de que é verdadeiro, pois não existe algo mais tosco que Bolsonaro.
No entanto, é mais (ou menos) do que tosco. Que Roberto Jefferson tenha sido saudado, na manifestação de São Paulo, como grande expoente do roça-roça em torno de Bolsonaro, diz tudo sobre a podridão desse entorno, e, em especial, da podridão do seu centro.
Além disso, pelas aglomerações que promoveu, Bolsonaro mostra qual é a importância que concede à vida das pessoas, mesmo à de seus apoiadores.
Como alguém disse sobre a manifestação da Avenida Paulista, ele a transformou “em um covidário”.
Da última vez que fez isso, no fim do ano, no litoral paulista, Bolsonaro provocou um fúnebre rastro, um tristíssimo amontoado de doença e morte.
De lá para cá, como as manifestações de Bolsonaro foram muito ralas, não houve outra grande oportunidade.
Agora, porém, com a ajuda da máquina do governo – inclusive, como se referiram alguns, com uso direto de dinheiro (falou-se em “manifestações pagas”, inclusive no Senado, do que há vários indícios) – eles fizeram algumas aglomerações um pouco maiores.
Com uma dose grande de encenação, pois, como aqueles que estão no combate à Covid-19 não fizeram manifestações na rua, exatamente para evitar aglomerações perigosas, eles ficaram sozinhos, sem manifestações opostas para comparação.
Mesmo assim, não conseguiram nada de espantoso, sobretudo considerando que o objetivo de Bolsonaro era levar um milhão de pessoas às ruas (v. Evangélicos bolsonaristas na Esplanada).
Parece coisa delirante, daquele tipo de tirano que está no fim e, nesse momento mesmo, acha que vai virar a parada que já está perdida.
Mas deve ser verdade, pois a fábrica de fakenews de Bolsonaro, mais tarde, no próprio dia 1º de maio, postou um vídeo onde estariam um milhão de pessoas, somente na manifestação da Avenida Paulista (v. É #FAKE que imagens mostrem manifestação pró-Bolsonaro no 1º de maio de 2021 e que ela foi a maior da história).
Havia umas cinco mil pessoas, mais ou menos a mesma coisa que em Brasília, ouvindo berros do tipo: “Eu peço ajuda de vocês para espancar esses filhos da puta [quem não apoia Bolsonaro]”.
Mas é significativo o aparecimento da fakenews que transformava cinco mil em um milhão de pessoas.
Essa necessidade de mentir – e de maneira tão escandalosa -, somente expõe a incompatibilidade de Bolsonaro com a realidade. Não é apenas com a verdade, que sempre ele odiou, pois sempre preferiu a mentira. Agora, cada vez mais, está fugindo do contato com os fatos, mentindo para si mesmo.
Já vimos isso em outras épocas – por exemplo, durante o final do governo do atual apoiador de Bolsonaro, Fernando Collor de Mello.
Bolsonaro, entretanto, não é um caso liquidado.
Mas, como dissemos, já está descendo a ladeira.
CARLOS LOPES