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“A transparência mesmo faltou no processo de escolha da PGR pelo presidente Bolsonaro”, disse Roberson Pozzobon, integrante da força-tarefa de Curitiba, ao responder aos ataques de Augusto Aras à Lava Jato
O procurador-geral da República, Augusto Aras, disse na terça-feira (28), que “agora é a hora de corrigir os rumos para que o lavajatismo não perdure”.
Desde que Jair Bolsonaro perseguiu violentamente até praticamente extinguir o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), por este ter feito um relatório de inteligência financeira onde constavam crimes cometidos por seu filho e seu auxiliar Fabrício Queiroz, não se via um ataque tão contundente à Operação Lava Jato.
Depois de dizer que pretende pôr fim ao lavajatismo, Aras prometeu que o órgão vai continuar combatendo a corrupção. “A correção de rumos não significa redução do empenho no combate à corrupção. Contrariamente a isso, o que nós temos aqui na casa é o pensamento de buscar fortalecer a investigação científica e, acima de tudo, visando respeitar direitos e garantias fundamentais.”
O argumento é semelhante ao de Bolsonaro quando ele decidiu enfiar o Coaf no terceiro escalão do Banco Central. “Ali é o melhor lugar para ele funcionar”, disse à época o presidente.
Augusto Aras é visto com muita desconfiança entre os procuradores. Até hoje ecoam no MPF as palavras de Bolsonaro insinuando que ele é o nome certo para uma vaga no STF. Muitos integrantes do Ministério Público já começam a chamá-lo de “engavetador geral”, numa alusão a Geraldo Brindeiro, que se notabilizou por abafar todas as denúncias contra o governo.
A momentânea busca por “transparência” no combate à corrupção externada por Aras levou Roberson Pozzobon, integrante da força-tarefa de Curitiba, a questioná-lo.
“A transparência mesmo faltou no processo de escolha da PGR pelo presidente Bolsonaro”, alfinetou. “O transparente processo de escolha a partir de lista tríplice, votada, precedida de apresentação de propostas e debates dos candidatos, que ficou de lado, fez e faz falta”, acrescentou Pozzobon.
Jair Bolsonaro escolheu Aras desrespeitando a tradicional lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) que elegeu Mario Bonsaglia, com 478 votos, Luiza Frischeisen, com 423 e Blal Dalloul, com 422.
Outro questionamento a Aras quanto ao seu zelo pela transparência se deu no episódio do vídeo sobre a fatídica reunião ministerial de 22 de abril, onde o país tomou conhecimento do real caráter do grupo que assumiu o poder no país.
Na ocasião, o procurador-geral da República não se preocupou com a transparência e recorreu da decisão do ministro Celso de Mello, relator do inquérito “Moro x Bolsonaro” no Supremo Tribunal Federal (STF), para que o vídeo ministerial da reunião do dia 22 de abril não fosse transcrito na íntegra.
Aras disse na época que a transcrição integral é “desnecessária” e pode impor riscos à “soberania nacional”, caso sejam confirmados trechos da reunião com informações sobre países como a China.
O procurador usou ainda o argumento de que a força-tarefa do Paraná tem 300 terabytes em informações, além de 38 mil pessoas investigadas e “sem critérios”, e que Lava Jato de Curitiba tem “caixa de segredos”.
“Estamos falando da transparência. Todo o MPF, no seu sistema único, tem 40 terabytes. Curitiba tem 350 terabytes e 38 mil pessoas com seus dados depositados. Ninguém sabe como foram escolhidos, quais os critérios, e não se pode imaginar que uma unidade institucional se faça com segredos”, disse ele.
Apesar de falar da existência e do tamanho do arquivo de informações da força-tarefa de Curitiba, que investigou o esquema de corrupção na Petrobrás, o procurador não disse em nenhum momento que o arquivo era ilegal. Isso era importante para se saber se houve desvio de finalidades na operação.
O próprio ex-juiz Sérgio Moro, que esta semana afirmou que Bolsonaro só fingiu que era contra a corrupção, respondeu a Aras nesta quarta-feira (29) afirmando desconhecer “qualquer segredo ilícito no âmbito da Lava Jato”. Moro lembrou ainda que todas as decisões da operação foram aprovadas pelas instâncias superiores.
SÉRGIO CRUZ