Marcelo Ramos opinou sobre possível ida do presidente da República para o PL (Partido Liberal) e disse que ele deixará sigla esfacelada. Pelo histórico de Bolsonaro, Ramos tem toda razão
O vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PL-AM), afirmou que o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, pode provocar cisão irreversível na sigla com a possível filiação do presidente Jair Bolsonaro ao partido.
Ramos tem toda a razão, pois Bolsonaro não é uma liderança que constrói e pretende ingressar na legenda para fortalecê-la. Bolsonaro procura uma legenda como o hospedeiro procura um organismo para sobreviver.
“Ele está trocando um partido que sempre votou unido na Câmara por um partido rachado. O PSL saiu esfacelado depois da presença do presidente e de seus filhos. O mesmo ocorrerá com o PL, caso a filiação ocorra”, avaliou o vice-presidente da Câmara.
NÚCLEO DURO DO CENTRÃO
Na Câmara dos Deputados, o PL é composto por 43 deputados e terá de dividir o fundo partidário com outros 60 candidatos ao Senado, 27 governadores e um presidente. O PL, com o PP (Progressistas), compõe o núcleo duro do chamado Centrão.
Diante disso, segundo Ramos, “é uma conta que não fecha, mas se Valdemar acha que vai ganhar mais com Bolsonaro na legenda, eu é que não devo entender nada”, criticou.
O vice da Casa ressaltou ainda que o entendimento entre Bolsonaro e PL pode não ocorrer. “Não tenho pressa. Até porque, acho que, no fim disso tudo, ainda há o risco de Bolsonaro escolher não se filiar. Aí, o desgaste também terá sido do PL”.
ENTENDA PORQUE BOLSONARO ROMPEU COM PSL
A crise que provocou a ruptura entre Bolsonaro e PSL foi logo no primeiro ano de governo (2019). O racha envolveu três frentes principais:
- o controle do PSL – na guerra partidária interna travadas em os dois grupos (bolsonaristas e bivaristas), os bolsonaristas desejavam o controle absoluto do partido, mas enfrentaram resistência imposta pelo presidente da legenda, deputado Luciano Bivar (PE). Aliados de Bivar — que, nas palavras de Bolsonaro, estava “queimado” —, garantiam que ele não iria entregar “de jeito nenhum” o comando da sigla. Como de fato não entregou;
- o controle da verba milionária do PSL – antes de Bolsonaro, o partido era nanico, mas, a reboque da popularidade do então candidato, elegeu a segunda maior bancada da Câmara e, graças a isso, teve direito a fatia considerável do Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos (o chamado fundo partidário) e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (o fundo eleitoral). Antes de Bolsonaro, o partido tinha apenas 1 deputado. No pleito de 2018, elegeu 54; e
- a saída de Bolsonaro – com a ruptura, a legenda literalmente rachou em duas bandas. Uma banda, mesmo no partido, manteve-se fiel ao presidente da República, e aguarda o movimento dele para se definir. A outra metade ficou com Bivar, que controla a sigla e fez movimento de unificação com DEM e vai passar a se chamar União Brasil. Antes disso, o deputado Alexandre Frota (SP) migrou para o PSDB.
M. V.