Quanto mais o ex-juiz Sérgio Moro se enquadra docilmente no figurino bolsonarista, mais Bolsonaro esvazia seu poder e seu ministério. Agora anunciou que vai fatiar o órgão e sacar a Segurança Pública e a Polícia Federal de sua jurisdição.
Obediente, Moro não diz uma palavra sobre os escândalos de corrupção envolvendo membros do governo, como Marcelo Álvaro Antônio, chefe do laranjal mineiro, Onyx Lorenzoni réu confesso de caixa dois e Paulo Guedes, que é investigado, junto com seus assessores. por fraudes em fundos de pensão, só para citar os mais conhecidos.
O ministro mantém um silêncio ensurdecedor sobre o atentado terrorista contra a produtora Porta dos Fundos. O escândalo na família do presidente, envolvendo o senador Flávio Bolsonaro e seu esquema de lavagem de dinheiro na Assembleia Legislativa do Rio, não comove o ex-juiz, antes um verdadeiro “paladino” do combate à corrupção.
Mesmo com toda essa obediência, Bolsonaro prometeu aos Secretários de Segurança estaduais que vai analisar a recriação do Ministério da Segurança Pública. Ou seja, vai tirar mais um pedaço do ministério comandado por Moro.
Ele já havia esvaziado o ministério de Moro com a retirada do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeira), órgão responsável pelo controle de movimentações financeiras suspeitas de lavagem de dinheiro. Agora quer tirar a PF, outro órgão que investiga seu filho.
O presidente tirou o Coaf da pasta de Moro porque o órgão estava fora de controle e havia detectado as movimentações suspeitas na conta do assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, quando o senador ainda era deputado estadual no Rio de Janeiro.
A reunião de Bolsonaro com os secretários aconteceu na quarta-feira (22) e não contou com a participação do ministro da Justiça Sérgio Moro. A reunião foi feita com os ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Jorge Oliveira (Secretaria-Geral) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional).
O fatiamento da pasta de Moro ficou claro quando o presidente disse que “talvez, pelo anseio popular de ter dificuldade nessa área, de ser talvez o ponto mais sensível em cada estado, essa possível recriação poderia melhor gerir a questão da segurança. É esse o entendimento dos senhores?”, indagou.
Os secretários responderam ao presidente: “Exatamente”. Bolsonaro então afirmou que estudará todas as demandas apresentadas. “Então, a gente vai estudar. Estudaremos essas questões aqui e daremos uma resposta o mais rápido possível”, disse ele.
Em entrevista após a reunião, Bolsonaro disse que quando convidou Moro a Segurança Pública não estava incluída. “Se for criado [o Ministério da Segurança], aí ele fica na Justiça. É o que era inicialmente. Tanto é que, quando ele foi convidado, não existia ainda essa modulação de fundir com o Ministério da Segurança”, prosseguiu. “Isso é estudado. Estudado com o Moro. Lógico que o Moro deve ser contra, mas estudado com os demais ministros”, afirmou Bolsonaro.
No entanto o convite de Bolsonaro a Moro, divulgado por uma rede social na época, mostrava que a Segurança já estava incorporada ao Ministério da Justiça quando o ex-juiz aceitou o convite para assumir o ministério.